Graduado em zootecnia pela Universidade Estadual do Norte Fluminense, Gustavo Aguiar realizou mestrado em administração de empresas na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Atualmente, é coordenador de marketing da Barenbrug do Brasil.
Foto: Bela Magrela
Scot Consultoria: Buscando um eficiente estabelecimento ou renovação da pastagem é essencial que se trabalhe com sementes de qualidade. Quais seriam os principais fatores de risco que poderiam resultar na perda de produtividade?
Gustavo Aguiar: Infelizmente, mesmo nos dias de hoje, o produtor rural ainda se depara com algumas situações em que as sementes forrageiras são ofertadas com pureza extremamente baixa. Os prejuízos potenciais são diversos, já que junto a essas impurezas são propagados diversos componentes que reduzem a produtividade do pasto e, consequentemente, afetam a produtividade animal. Podemos citar sementes de plantas invasoras, ovos de cigarrinhas ou de nematoides, além de palha, pedras, torrões e glumas vazias.
A consequência imediata é uma área com maior dificuldade de estabelecimento e mais sujeita às pragas e doenças, além do maior volume do insumo necessário para semeadura, o que torna menos eficientes as operações mecanizadas na fazenda, além do frete e da logística. O produtor responsável é aquele que zela pelo seu bem maior, o solo de sua fazenda, produzindo de forma otimizada e sustentável.
Scot Consultoria: Quais as principais etapas no processo de produção de sementes forrageiras até a chegada ao consumidor final? Hoje, quais os níveis de pureza aceitos pelo MAPA?
Gustavo Aguiar: O processo possui diversas etapas, igualmente importantes para que o produtor tenha acesso a sementes de alta qualidade. O resumo a seguir sintetiza as etapas que conduzimos: tudo começa no campo, com a produção e colheita de sementes provenientes de áreas registradas no MAPA e bem conduzidas do ponto de vista agronômico, com controle de viabilidade e pureza desde o início.
Uma vez que as sementes chegam à unidade de produção, as etapas de beneficiamento garantem que elas alcancem o mais elevado grau de pureza. A avaliação do nível de dormência é outro aspecto muito importante conduzido pelo laboratório de qualidade, atestando que os lotes destinados ao mercado tenham, não só a viabilidade mínima preconizada pela legislação, mas também um nível de germinação mínimo, tanto em laboratório quanto em canteiros, critério que vai além das exigências legais para comercialização.
Quando esses pré-requisitos são atendidos, as sementes passam para a etapa de tratamento através de tecnologia exclusiva, cujos benefícios incluem maior proteção contra patógenos, pragas e doenças, bem como um estímulo para desenvolvimento mais rápido da planta nos estágios iniciais.
Sobre o nível de pureza, a legislação atual ainda prevê um mínimo de 60% para o gênero Brachiaria e de 40% para o gênero Panicum. Esse é um critério mínimo extremamente baixo, incompatível com a evolução da pecuária e agricultura do nosso país. Existe uma mudança em discussão no MAPA para alteração da pureza mínima do gênero Brachiaria para 80%, do gênero Panicum para 60%, além de garantir que sementes revestidas tenham pureza mínima de 90%. A Barenbrug apoia fortemente essa iniciativa, sinal de evolução e respeito ao maior interessado pela qualidade desse insumo, o produtor rural.
Scot Consultoria: Gustavo, quanto tempo se leva, em média, nos processos para a criação de uma nova semente forrageira até que ela possa ser comercializada no mercado? Atualmente, o cliente tem optado mais por qualidade ou preço?
Gustavo Aguiar: Quando falamos de programas de melhoramento genético, como o adotado pela Barenbrug, o intervalo desde o desenvolvimento até o lançamento de um novo cultivar de forrageira pode levar mais de 12 anos. É um longo caminho que envolve o cruzamento, avaliação, seleção, validação e o lançamento em si.
Nesse período estão inclusos quatro anos de avaliações oficiais VCU (valor, cultivo e uso), para atender a uma exigência do MAPA. São dois anos de avaliações sob corte e dois anos sob pastejo. Tudo isso para que não haja dúvidas de que o novo cultivar possibilita resultados superiores aos obtidos com a testemunha, referência de mercado.
Sobre a questão do foco atual dos clientes, cada vez mais se comprova que o benefício para todos os elos da cadeia de produção reside no valor e não no preço. São produtos e serviços desenvolvidos para atender uma necessidade real do campo e capazes de produzir benefícios e resultados palpáveis para toda a cadeia de produção.
Sabemos que a curva de adoção de tecnologia segue um comportamento bem específico ao longo do tempo e isso não é diferente na pecuária. Tudo começa com os inovadores nos anos iniciais, acompanhados pelos seguidores nos anos seguintes, até que se alcance aqueles que demoram mais para adotar uma inovação ou tecnologia.
O que estamos vivenciando no mercado de forrageiras é basicamente a aceleração da fase inicial do processo, com melhoria da qualidade de produtos e inovação com cultivares híbridos, num movimento semelhante ao vivenciado no mercado de grãos décadas atrás.
Temos tido experiências muito positivas desde o lançamento dos nossos primeiros híbridos. A pecuária e a agricultura no Brasil têm um potencial incrível ainda a ser destravado quando o assunto envolve forrageiras. Estamos só no começo.
Scot Consultoria: Com as intempéries climáticas ocorrendo de forma mais corriqueira no Brasil, estão sendo estudadas plantas forrageiras com resistência às geadas e à seca mais prolongada?
Gustavo Aguiar: Sem dúvida. Esses são aspectos muito bem avaliados durante o desenvolvimento de novos cultivares. A maior resiliência e produção no período seco do ano, por exemplo, é um dos grandes diferenciais dos novos cultivares de Brachiaria originados em nosso programa.
E, junto com esses novos cultivares, chegam também novos conhecimentos e novas formas de produzir, colaborando para melhores resultados e mais lucro no bolso do produtor.
Scot Consultoria: Você acredita que as empresas têm focado no desenvolvimento de novos produtos principalmente relacionados à adaptabilidade de cultivares às condições topográficas e climáticas de cada região? Acredita que essa seja uma tendência?
Gustavo Aguiar: Neste momento, eu diria que a visão está mais voltada para novas formas de produzir ou para integração de sistemas do que particularidades climáticas ou regionais.
Porém, diria que essa é uma tendência, por mais que seja um processo gradual. Devemos lembrar que esse é um processo que leva tempo, pela própria natureza do desenvolvimento.
Conforme o nível de maturidade de um determinado mercado aumenta, isso é acompanhado por soluções cada vez mais específicas, como se fosse a transição de um olhar do bosque para a árvore.
Esse é um caminho que faz sentido ser seguido, considerando a evolução da profissionalização e o surgimento de novas necessidades por parte dos produtores.
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