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Scot Consultoria

Máxima produção de carne usando sistemas integrados

Entrevista com o zootecnista, Paulo César de Faccio Carvalho

Segunda-feira, 22 de novembro de 2021 - 15h00
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Paulo César F. Carvalho é doutor em zootecnia pela UNESP de Jaboticabal, possui pós-doutorado no Dept. of Plant and Environmental Sciences da Universidade da Califórnia. Atualmente é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), atuando no departamento de plantas forrageiras e agrometeorologia. É membro do comitê gestor estadual do programa de agricultura de baixo carbono, atual presidente da Sociedade Brasileira de Sistemas Integrados de Produção Agropecuária, além de diretor da aliança SIPA (Sistemas Integrados de Produção Agropecuária) e vice-presidente da Asociación Latino-Americana de Producción Animal (ALPA).

Foto: Envato


Scot Consultoria: Quais os principais pontos a serem considerados pelo produtor na adoção de um sistema de produção integrado em sua propriedade?

Paulo César de Faccio Carvalho: Como qualquer atividade profissional de excelência, tudo começa com planejamento e estudos de viabilidade. Melhor começar pequeno e bem feito.

A introdução de pecuária em uma propriedade voltada para grãos, ou o inverso, provoca profundas mudanças estruturais no funcionamento da empresa rural e essas mudanças precisam ter a velocidade específica que cada empresa comporta. Os sistemas integrados são mais complexos no planejamento e execução do que os sistemas especializados. Portanto, há que se preparar  tecnicamente, e operacionalmente, para o aumento da complexidade advinda da integração.

Neste contexto, uma consultoria especializada é fundamental para ajudar, orientar e planejar na transição para um novo modelo de negócio que traz novas variáveis de decisão.

Scot Consultoria: Quais os principais benefícios da implantação de sistemas integrados, na pecuária e na agricultura? Quais as maiores dificuldades para a implantação desses sistemas?

Paulo César de Faccio Carvalho: Os benefícios são inúmeros...num breve resumo: se produz mais e de forma mais eficiente na mesma unidade de superfície, diminuindo riscos e aumentando a renda. Os custos são diluídos, a mão de obra e maquinário idem. Além das questões operacionais, há uma série de benefícios ambientais, como raramente uma tecnologia no ramo agrícola tem a oferecer. O incremento na diversidade dos sistemas provoca melhor ciclagem de nutrientes diminuindo as perdas e sua poluição decorrente, além de vários impactos positivos na saúde do solo, tais como aumentos nos estoques de C e N, melhoria nos agregados do solo, aumento da biomassa microbiana, entre outros. No caso do Brasil, onde predomina a integração “dentro da porteira”, o efeito poupa-terra é um dos mais importantes, pois permite que sigamos avançando em produtividade de alimentos sem que se necessite a abertura de novas áreas.

Mas como tudo na vida, também há dificuldades... A destacar a necessidade de comercialização de um novo produto (grãos ou produto animal), conhecer novos mercados e encontrar uma rara consultoria especializada para esses tipos de sistema. Outra dificuldade é da cultura do pessoal interno, ou seja, aqueles que executam o dia a dia da fazenda. É recorrente o problema de entendimento do novo sistema e conflitos sempre ocorrem. Modelos de arrendamento também podem gerar conflitos, pois as repartições de responsabilidades não são as mesmas que em sistemas especializados. Por último, deve-se considerar os impactos no fluxo de caixa, pois os investimentos modificam o fluxo de forma importante, em parte positivamente, mas também de forma negativa no caso de não haver o necessário planejamento.

Scot Consultoria: O Brasil tem se destacado na produção de carne através de sistemas integrados? Esses sistemas têm destaque em outros países?

Paulo César de Faccio Carvalho: Sim, tem se destacado mas é de difícil quantificação pelo momento (dados confiáveis). Há registros recentes de que as áreas de SIPA (Sistemas Integrados de Produção Agropecuária) tenham ultrapassado os 18 milhões de ha. Portanto, a produção de carne nesses sistemas tem certamente destaque. Além disso, iniciativas como carne carbono neutro têm alta conexão com os sistemas integrados.

Os SIPA, em nível global,ocupam cerca de 2,5 bilhões de ha, segundo estimativas.Porém, o processo de intensificação associado à especialização tem acarretado na diminuição desses sistemas em países como os Estados Unidos e a Comunidade Europeia, de forma geral. No senso inverso, países como o Brasil, Uruguai, Austrália e Canadá têm proporções importantes, e mesmo crescentes, de SIPA. No caso da China e do Japão, os SIPA têm sido reconhecidos em nível político como uma tecnologia de alta prioridade para combater a poluição de P e N que os sistemas especializados acarretaram.

Scot Consultoria: Quais as principais vantagens desses sistemas em relação a sistemas convencionais de produção pensando em produção de carne?

Paulo César de Faccio Carvalho: Comparado a sistemas convencionais, os SIPA facilitam o alcance dos objetivos da produção de carne. A oferta de pastagens de alta qualidade com folhas verdes ao longo de todo ano é facilitado pela correção do solo e integração com milho e soja, por exemplo. A suplementação também é facilitada com a possibilidade do uso de resíduos. Idem se houver a necessidade de uma operação de confinamento para finalizar o processo. A operação e o fluxo de caixa para executá-la ficam facilitadas pela integração.

Scot Consultoria: A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é uma das opções indicadas para conter o aquecimento global, como esse sistema contribui para a sustentabilidade?

Paulo César de Faccio Carvalho: Uma importante característica dos SIPA (com ou sem o componente arbóreo) é o aumento da estabilidade da produção. Nós publicamos, recentemente, dados de longo prazo que comprovam que sistemas integrados são mais estáveis quanto à produção de grãos e carne e quanto à rentabilidade da operação.

Como o aquecimento global incrementa a variabilidade climática, os SIPA serão garantia de minimização desses impactos. Quanto à sustentabilidade em seu senso amplo, temos estudos avaliando as quatro dimensões da sustentabilidade definidas pela FAO, quais sejam Governança, Integridade Ambiental, Resiliência Econômica e Bem-estar Social. Nós já avaliamos 1088 propriedades com sistemas integrados e mais de 95% delas alcançam os escores mais elevados nas diferentes dimensões. Tudo isso nos faz ter certeza de que os SIPA têm sido e serão, ainda mais, fundamentais para a segurança alimentar num cenário futuro de aquecimento global. Raras são as tecnologias com possibilidades de conciliar produção de alimentos com elevada provisão de serviços ecossistêmicos e essa é a característica estratégica dos SIPA.


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