Leonardo Alencar é Head do setor de Agro, Alimentos e Bebidas na área de Research e sócio da XP. Graduado em Zootecnia, começou sua carreira como analista de mercados agrícolas. De 2011 a 2020, atuou como Diretor de BI na Minerva Foods.
Foto: Envato
Scot Consultoria: Qual o principal entrave para a utilização, pelos pecuaristas, de estratégias de redução de riscos como, por exemplo, operações de hedge?
Leonardo Alencar: O entrave acaba sendo pelo desconhecimento da ferramenta. Muitas pessoas não têm familiaridade com o mercado financeiro, e isso é motivo de dúvidas e assusta o investidor. Quem possui resistência para usar essas estratégias, acaba não buscando informações para entender suas vantagens e desvantagens.
Há uma falha da B3 em não se aproximar do setor agrícola e levar o conhecimento necessário sobre o uso destas ferramentas. Houve uma evolução no setor de grãos através do papel estratégico das tradings, que aproximaram o produtor do uso da ferramenta. Na pecuária falta um intermediário que faça esse papel educacional.
Scot Consultoria: Após a vivência traumática para o confinador no final do segundo semestre, na sua opinião, há perspectivas de aumento do uso de ferramentas de proteção?
Leonardo Alencar: Após um ano ruim aumenta-se o uso de ferramenta de hedge. Com o passar do tempo há a sensação de que se ganharia mais caso não houvesse feito e o uso começa a cair de novo.
A ferramenta como hedge deve ser considerada como um custo no sistema de produção pecuário e esse custo deve ser absorvido dentro da operação, não sendo uma opcional. É um custo necessário que, no melhor dos cenários, não será utilizado.
Scot Consultoria: Como o Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) poderá movimentar o agronegócio brasileiro em 2022 e nos próximos anos?
Leonardo Alencar: Como é uma ferramenta muito recente, nem todo mundo vê com clareza como isso vai impactar de imediato. O Fiagro está sendo interessante, pois está buscando absorver as dívidas que estão sendo emitidas, os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA).
Muitas empresas estão emitindo os CRA, possibilitando o acesso para muitos investidores investirem no setor do agronegócio, sem um risco específico de uma empresa.
Quando se faz uma única operação como pessoa física, assume-se um risco direcional, mas, ao comprar um Fiagro, compra-se uma carteira grande de dívida, permitindo que o investidor consiga acessar o agro com uma rentabilidade interessante, sem o risco específico de uma única empresa.
Scot Consultoria: Quando falamos em hedge, qual é o perfil de investidor mais observado entre os pecuaristas de pequeno e médio porte do Brasil?
Leonardo Alencar: O tamanho não está relacionado ao uso da ferramenta. Existe uma sofisticação necessária para utilizar, sendo necessário uma pessoa que tenha controle das informações e custos para travar a receita, além de dados e análises.
O perfil do produtor que usa hedge não é muito vinculado ao tamanho, normalmente é aquele produtor que chegou ao nível mais alto de tecnificação da produção e que busca dar os próximos passos, que são a gestão de risco e a gestão estratégica.
O pequeno produtor pode ser muito tecnificado e ter uma boa gestão, conhecendo o custo exato e travando a receita fazendo um hedge. O grande produtor pode levar anos aperfeiçoando a produção e ter prejuízo em um ano que não se preocupou com a comercialização.
Tem muito produtor de pasto que faz hedge melhor que produtor de confinamento. É preciso entender que a comercialização é uma parte importante na administração de uma empresa rural e não pode ser definida no momento do abate, mas sim, desde o começo da produção.
Scot Consultoria: Na sua opinião, qual o peso de um evento como o Encontro de Analistas da Scot Consultoria para o agronegócio nacional?
Leonardo Alencar: O grande desafio do setor, de muito tempo, é o viés da informação. É importante misturar os elos da cadeia, indústria e academia, proporcionando visões diferentes e enriquecendo a discussão.
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