Atualmente é coordenador comercial de grãos da Cotrijal Cooperativa Agropecuária e Industrial, possui MBA Executivo em economia e gestão no agronegócio pela Fundação Getúlio Vargas.
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Destaque Rural/ Scot Consultoria: Como está hoje o mercado de culturas de inverno pensando no trigo, canola, cevada e triticale?
Cristiano Erpen: Referente ao mercado, nós temos diversas incertezas, levando em conta a tensão entre Rússia e Ucrânia.
O trigo teve um leve atraso no plantio, mas teve um alto incremento de área no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O atraso está dentro da normalidade e devemos ter uma safra grande em volume. Não podemos falar em qualidade ainda, mas podemos afirmar que o trigo é o nosso protagonista do inverno. A Conab estima uma safra maior de trigo, com uma produção de 3,9 milhões de toneladas, incremento de 12% em relação ao ano passado.
A canola é trabalhada em apenas uma unidade, essa cultura tem uma apreciação microrregional.
Temos também uma grande área de cevada cervejeira, bem implantada e com bons preços. Ela é balizada em trigo e tivemos o trigo do primeiro semestre com bons preços. Essa é uma cultura com boa apreciação à campo.
Quanto ao triticale, temos uma área menor, mas que vem crescendo nos últimos anos. Trata-se de uma cultura que possui rusticidade e liquidez. Nesse momento, essa cultura é balizada em milho, entretanto, como ela será colhida mais para frente, temos que ver como estarão os preços do milho, levando em conta a chegada do milho segunda safra do Centro-Oeste. Se o preço do milho realmente cair, a cultura vai sentir um pouco, mas temos notado que o produtor vem apostando nesse grão.
Destaque Rural/ Scot Consultoria: Esse incremento na colheita de trigo pode contribuir para a continuidade dessa queda de preço do cereal aqui no Brasil?
Cristiano Erpen: Sim, o trigo vem caindo bem, tanto o disponível quanto no mercado futuro. Na bolsa de Chicago, o cereal bateu US$14/bushel, uma marca que não era atingida há 14 anos. Hoje o preço na bolsa está US$8/bushel, essa queda é referente a uma área de produção maior, a pressão de colheita que está acontecendo nos EUA, a expectativa de uma safra maior por parte do Brasil e Rússia, mas com incertezas quanto à colheita por conta do conflito com a Ucrânia.
No cenário interno, vemos um aumento na área semeada. Os moinhos gaúchos estão cheios nessa semana e já comprados. A intensão é levar essas posições até outubro, quando já tem colheita no Rio Grande do Sul e se encerra em novembro.
Algumas áreas começaram a ser colhidas no Paraná também, elevando a oferta interna.
O volume exportado nessa última safra foi de 3 milhões de toneladas. Se somarmos ao trigo que foi para ração, o que foi para semente e o que foi para consumo interno de moinho, a safra de 2021 foi acima de 4 milhões de toneladas “frouxo” e essa safra de 2022 que está por vir, pela área plantada do Brasil, alguns órgãos especulam uma safra de 4,5 até 5,3 milhões de toneladas de colheita, um número bem preocupante. É bom para o produtor, que teve problemas com o estresse hídrico no verão e que acaba apostando bastante nessa safra de inverno, mas onde vamos colocar todo esse trigo?
Destaque Rural/ Scot Consultoria: Pensando na guerra Ucrânia x Rússia, o Brasil poderia usar esse canal de escoamento que a Ucrânia não está podendo usar? Seria difícil o Brasil escoar para esses mercados?
Cristiano Erpen: Na verdade, nós já estamos fazendo isso. Com a tensão que começou no final de fevereiro/início de março, as limitações da Ucrânia, um dos maiores exportadores e produtores de trigo do mundo, foi facilmente o maior argumento para o aumento dos preços.
Lembro bem que o valor da tonelada do trigo elevou do dia para a noite, subindo R$400/t em uma janela de março. Nesse período normalmente não há exportação, sendo que a exportação do trigo fecha até fevereiro, mas como não tinha exportação de milho e a soja também estava sofrendo problemas, os navios que estavam aqui no Brasil para carregar a soja que não estava disponível, acabou levando esse trigo para certos locais onde a Ucrânia não conseguia exportar.
Destaque Rural/ Scot Consultoria: Para essa safra, tem alguma expectativa de redução no PH do trigo brasileiro devido ao clima?
Cristiano Erpen: Hoje é cedo dizer, a cultura implantada no Rio Grande do Sul, por mais que tenha um pouco de atraso, nós já chegamos a plantar até mais tarde há alguns anos atrás e correu tudo bem, então não temos por que nos preocuparmos com essa questão do PH mais baixo.
Realmente, isso pode acontecer caso mais para frente tivermos uma geada tardia ou excesso de chuva durante a colheita, mas hoje essa não é a realidade.
Destaque Rural/ Scot Consultoria: Ainda sobre o atraso dessa semeadura, isso pode impactar futuramente no cultivo da próxima safra de verão, em questão de zoneamento climático, ou enquadramento dentro das datas corretas?
Cristiano Erpen: A gente escuta de alguns produtores que, por mais que tenhamos um aumento de 40% de área de inverno, alguns produtores não plantam trigo porque acaba trazendo a implementação da cultura de verão, que seria a soja. Não vejo grandes problemas, como eu já disse, há alguns anos foi plantado mais tarde e correu tudo bem.
Existem variedades mais apropriadas para as épocas de plantio, também tem aquele produtor que gostaria de plantar no início de outubro e talvez não vá conseguir, se ele tiver plantado no inverno, mas acho que a época de plantio no inverno está bem tranquila.
Destaque Rural/ Scot Consultoria: Falando especificamente do mercado, referente a prefixação dos lotes de trigo, como foi em 2021 está sendo em 2022 também?
Cristiano Erpen: Nós tivemos uma boa fixação de lote em 2021 e isso contribuiu muito com o escoamento. O excedente que nós tínhamos, conseguimos exportar para outros países e com isso os moinhos locais ficaram com o volume que eles realmente conseguiam absorver.
Preocupa muito a safra que está por vir em 2022, com uma produção que vem tranquilamente acima de 5 milhões de toneladas. Nós precisaríamos exportar novamente a mesma quantidade, por volta de 3 milhões de toneladas, porém essa quantidade foi consequência da explosão da Guerra com a Ucrânia.
A mensagem da Cotrijal hoje é que o produtor faça uma parcela de sua fixação. Pensando nos preços que o produtor vendeu esse ano, acima de R$100, foi fruto da prefixação no ano passado. Com a prefixação, há uma liquidez maior para o produtor e o escoamento diminui a pressão interna, agregando mais valor ao produto que fica.
Destaque Rural/ Scot Consultoria: Se pensarmos em possíveis intempéries, nós vimos o mês de julho mais quente do que o normal dos últimos 30 anos, segundo INMET, e também nós temos possíveis geadas, como é comum no sul do Brasil. Então se esse trigo não atingir uma qualidade suficiente, como ficarão esses contratos prefixados?
Cristiano Erpen: Em 2012 tivemos uma geada tardia que acabou com o trigo do estado. Eu mesmo cheguei a receber, em algumas balanças, trigo com PH abaixo de 55-60, um trigo que não tem mercado nem para ração, e desde lá o mercado se ajustou.
Claro que os moinhos vão preferir um trigo com PH 78 e, dependendo da intempérie, os moinhos vão avaliar e se tivermos um trigo de PH 75 haverá um deságio. As traders possuem um contrato de PH acima de 78, mas elas aceitam acima de 72, com deságio.
Produtor hoje entregando, a cooperativa vai brigar pelo produtor e vai fazer o possível para colocar esse produto no mercado.
Destaque Rural/ Scot Consultoria: Para finalizar, gostaria que você repetisse os preços de hoje do trigo, triticale e das outras culturas de inverno e os preços do mercado futuro, pensando nessa prefixação. Quanto que o produtor ganharia na próxima colheita se fixasse o preço hoje?
Cristiano Erpen: O trigo hoje disponível na Cotrijal está em R$108,00, esse preço estava em R$115,00, caindo R$7,00 em questão de uma semana. E a tendência desse preço é cair, pois não vemos os moinhos comprando há pelo menos 2 semanas. Então, seguindo os fundamentos, enxergamos uma tendência de queda.
O trigo futuro, chegamos a fazer a R$115,00. Mas hoje, se quiser travar, o preço está em R$95,00.
O triticale é baseado em milho, hoje nosso balcão de milho está em R$80,00 e o preço é uma porcentagem, beirando os R$70,00. Mas não tem triticale disponível hoje, apenas o futuro, então precisamos ver como vai estar o preço do milho mais para frente.
A cevada possui aquele balanceamento de trigo de abril e maio, onde o preço ficou acima de R$100,00. Temos que analisar o preço do trigo lá na frente, agosto e setembro, para que possamos ver os outros 50% da fixação.
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