Professor titular na Universidade de São Paulo (USP). Suas áreas de interesses são: ecofisiologia de plantas forrageiras, ecologia do pastejo, manejo do pastejo e sistemas de produção animal em pastagens. Além de mestre em nutrição animal e pastagens pela Universidade de São Paulo, obteve seu título de doutor e pós-doutorado em pasture agronomy pela Massey University na Nova Zelândia. Silva publicou mais de 100 artigos em periódicos especializados, 165 trabalhos em anais de eventos, um livro e 43 capítulos de livros. É consultor de sete revistas científicas e orientou cerca de 100 estudantes, considerando trabalhos de iniciação científica, trabalhos de conclusão de curso, mestrados, doutorados e pós-doutorados.
Foto: Scot Consultoria
Scot Consultoria: Quais são os novos desafios para o pecuarista em relação ao manejo de pastagens para se adaptar aos novos ideais do programa carbono zero?
Sila Carneiro da Silva: Os desafios para lidar com a pecuária carbono zero é entender que pasto não só sequestra, mas também emite carbono e o problema está em emitir mais do que é sequestrado.
A pecuária produtiva é uma sequestradora de carbono tão eficiente quanto uma floresta, o problema é quando a pastagem é mal conduzida, que degrada e não cresce suficientemente. Por não crescer, esse tipo de pastagem não retém nem o carbono que é emitido em sua respiração.
O pecuarista que maneja mal a pastagem gera uma fonte de emissão e consequentemente gera a “má fama” dos pastos. A solução da emissão é consequência do bom manejo.
Scot Consultoria: Qual a importância ambiental da intensificação das pastagens?
Sila Carneiro da Silva: A intensificação da pastagem, do ponto de vista produtivo, tem a vantagem de produzir a mesma quantidade de alimento ou mais com uma menor área de pasto, aliviando a pressão de áreas para novos usos, permitindo que áreas de pastagens degradadas sejam dispensadas para serem recuperadas por meio de outro uso agrícola, como lavouras, por meio da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e outros sistemas.
A pastagem intensificada, por definição, é uma pastagem muito bem cultivada, produtiva e com longevidade. Quando isso é levado para dentro do conceito de exploração de pastagem, o foco não fica apenas na produção de pastagem e animal, mas também em todos os serviços ecossistêmicos que esse ambiente entrega para a sociedade, como a lixiviação e percolação de nutrientes que contamina os lençóis freáticos, a erosão que vai assorear os cursos d’água, a diversidade da microbiologia do solo etc.
A grande densidade de animais, que é utilizada para fazer o uso do pasto intensivo, gera uma deposição de fezes e urina muito mais uniforme e a ciclagem de nutrientes no pasto é tão importante que o pasto bem manejado passa a ter uma elevação da fertilidade do solo anualmente. Esse é um processo que, se bem conduzido, gera um ciclo virtuoso, não só no ponto de vista produtivo, mas do ponto de vista ambiental e social.
Scot Consultoria: Visando o melhor aproveitamento das áreas, muitos produtores optam pelo manejo rotacionado. Na sua opinião, qual os maiores cuidados que devem ser tomados nesse tipo de manejo?
Sila Carneiro da Silva: Quem faz esse manejo deve saber a hora de retornar o animal para o pasto.
Neste aspecto, muitos pecuaristas quando vão retornar o gado não levam em consideração o ponto de colheita e as características importantes do pasto que determina a sua produção e longevidade, mas sim um cronograma com o número de dias fixos.
O pasto e qualquer cultura agrícola crescem em função da disponibilidade de água, luz, temperatura, então, com 30 dias em dezembro, o pasto cresce mais do que em março. O animal que cresce no pasto vai perceber dois ambientes distintos e isso é ruim para o animal e para a planta, desta forma, a planta tem que ter um ponto de colheita que esteja ligado ao seu ritmo de crescimento.
O maior desafio de quem quer fazer o manejo rotacionado das pastagens é entender qual o tipo de pasto que ele possui e conhecer o ponto correto de colheita. Sabendo o ponto de colheita daquele pasto, que normalmente é uma altura de entrada máxima que não deve ser transposta, será possível antecipar o problema e tomar uma decisão antes que se instaure.
Scot Consultoria: Na sua opinião, o pecuarista enxerga a importância da intensificação da pastagem no seu sistema produtivo? E qual a expectativa, a médio e longo prazo, sobre esse tipo de sistema?
Sila Carneiro da Silva: Esse é um sistema que, invariavelmente, vem crescendo e deve continuar aumentando. A intensificação não quer dizer que irá buscar sempre a máxima produção possível por unidade/área, porque nem sempre isso é possível devido à fatores limitantes, sejam esses abióticos, como calor, água, nutrientes, luminosidade, fertilidade do solo etc, ou ligados à parte social, como uma fazenda que é primorosa, mas a mão de obra não tem condição de “pilotar” no ritmo que a fazenda tem condição de andar.
O conceito de intensificação é relativo e, com essa salva guarda, a intensificação sempre vai ser buscada, porque todos procuram o melhor rendimento em sua unidade de produção. Os produtores não deixam de aumentar seus rendimentos por escolha, mas sim por possuírem algum ponto limitante que impede esse crescimento.
O produtor apenas conseguirá visualizar e transpor esse ponto quando chegar nele, não conseguindo aumentar sua produção, mas tendo a compreensão do progresso que fez e enxergando o “degrau” que deve mudar para acertar um novo patamar, assim o negócio vai crescendo, a intensificação vai subindo, podendo começar do sistema extensivo e vir subindo vários “degraus” de intensificação até chegar próximo ao potencial biológico do sistema que é intrínseco ao recurso que ele tem e a planta que ele faz uso.
Então, intensificação eu vejo como um processo que sempre vai acontecer, mas não de uma forma linear, não em uma meta sempre única. O indivíduo vai estipulando metas e irá subindo de “degrau em degrau”, onde cada “degrau” é um passo na intensificação, um processo que não tem volta.
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