Engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo, é diretor-fundador da Scot Consultoria. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.
Foto: Scot Consultoria
Scot Consultoria: Faça um balanço sobre a pecuária de corte brasileira em 2022. Quais foram os destaques do ano?
Alcides Torres: Acredito que o que mais chamou a atenção esse ano foi a queda de preço da arroba do boi gordo na entressafra, quando normalmente os preços sobem. Essa queda pode ter sido, entre outros fatores, causada pela maior quantidade de contratos de entrega futura de boiadas, fazendo com que no mercado de balcão os preços não se sustentassem.
A queda do consumo por pessoa, o pior nível dos últimos 26 anos, em função da queda do poder aquisitivo do consumidor, foi outro fator de destaque, pois 70% da carne brasileira é consumida internamente.
Por fim, a guerra na Europa, que provocou um aumento generalizado de custos, e a pecuária brasileira, uma que está globalizada, sofreu e está sofrendo os efeitos dessa calamidade.
Scot Consultoria: Neste mesmo contexto, quais tópicos você aponta como positivos e negativos neste ano e em qual contexto aconteceram?
Alcides Torres: Com relação aos pontos positivos, a exportação recorde de carne é sem dúvida o maior deles, fecharemos o ano com um desempenho inédito. O faturamento deverá ser de US$11,7 bilhões e o volume perto 2 milhões de toneladas.
A adoção, em maior escala, de contratos para a entrega futura de boiadas, foi outro fator positivo. Dessa forma o pecuarista que usou essa ferramenta de risco saiu-se bem, garantindo preço, e o frigorífico garantindo a entrega de boiadas.
E, por fim, embora não seja unânime a satisfação do setor produtivo, a queda da obrigatoriedade da vacinação contra a febre aftosa, em importantes regiões produtoras, poderá abrir mercados para a carne bovina nacional.
Com relação aos pontos negativos, a concentração das vendas para um só mercado (China) é preocupante, a elevação do custo de produção, estreitando a margem do produtor e, por fim, a aparente mudança do comportamento do ciclo de preços pecuários, cujas cotações indicam que está entrando num ciclo de baixa.
Scot Consultoria: Como o setor lidou com estes aspectos da questão anterior?
Alcides Torres: Lidou de várias formas, mas a que mais chamou a atenção foi o fechamento de confinamentos de bovinos de pequeno e médio porte, cujas boiadas foram transferidas para confinamentos de grande porte. Esse fenômeno aconteceu em função da elevação dos custos e da perda da escala. Os confinamentos de grande porte, em certa medida, propiciam resultado econômico melhor.
Scot Consultoria: Faça um comentário final sobre a expectativa para o setor em 2023. O que esperar? Quais desafios podem surgir? E como o setor deve se preparar para enfrentá-los?
Alcides Torres: As projeções para 2023 são de aumento de boiadas causada pelo aumento da participação de fêmeas no abate de bovinos, determinando a confirmação de manutenção ou queda de preços da arroba do bovino gordo.
Com relação à economia global, o cenário não está otimista, com gente acreditando numa retração mundial. Teremos que lidar com isso para manter o bom desempenho da exportação.
A cotação dos bovinos para reposição do rebanho deverá cair, favorecendo recriadores e invernistas. A vez da cria, passou.
E, como sempre, esse quadro é muito bom para o investimento, desfazendo-se de estoque caros e adquirindo estoques a preços menores, antecipando a retomada de preços e margens futuras.
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