Analista de mercado na Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná - SEAB
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Scot Consultoria/Destaque Rural: Mais um ano de clima adverso no Sul do Brasil. Estamos na época do desenvolvimento vegetativo, com parte das lavouras já em floração, e sofrendo com a seca do solo, pouca umidade e carência de chuvas no estado. Como isso pode impactar na produção e no mercado de grãos no geral?
Edmar Gervásio: A safra de soja deve ser boa, não só em solo paranaense, mas no Brasil em geral. A expectativa brasileira é de uma safra recorde que supere os 140 milhões de toneladas. A expectativa de produção hoje é de mais de 152 milhões de toneladas, que deverá ser revisada, em função do quadro climático no Rio Grande do Sul.
No Paraná, estamos otimistas para a safra, a estimativa em dezembro/22 aponta para 21 milhões de toneladas. Entretanto, tivemos um cenário um pouco complicado em algumas regiões do estado, como a Oeste e Sudoeste, que tiveram participação menor em termos de semeadura comparado às outras regiões, mas, mesmo assim, continua sendo uma participação relevante.
Em um primeiro momento (até o começo de 2023), podemos dizer que é uma ótima safra para o Paraná e para o Brasil como um todo, diferente da safra passada, quando o clima causou danos severos às lavouras paranaenses e em outros estados mais ao Sul.
Scot Consultoria/Destaque Rural: Pensando na exportação, no Paraná temos o porto de Paranaguá - grande exportador brasileiro de grãos. Como está a exportação com esse início de colheita?
Edmar Gervásio: Quando você tem expectativa de uma ótima produção no cenário nacional e até internacional para um produto como a soja - produto com alta liquidez - a tendência é que haja uma pressão geral, ainda mais com a colheita se iniciando em Mato Grosso e no Paraná. Isso pressiona os preços de forma generalizada e estimula o comprador internacional. Em um primeiro momento, os preços estão estáveis no Paraná há praticamente seis meses, com quedas moderadas nas últimas semanas, devido à pressão da expectativa de uma maior produção no cenário nacional. No quadro exportador, começamos 2023 (janeiro) com um quadro fraco em termos de volumes embarcados, mas a expectativa é que o quadro melhore, principalmente puxado pela demanda chinesa.
Scot Consultoria/Destaque Rural: Como está o esmagamento de grãos e a produção de derivados, como óleo de soja e farelo, em relação aos preços no mercado?
Edmar Gervásio: O mercado de derivados/processados está, de certa forma, estável. A soja, estranhamente, teve um final de ano (2022) tranquilo em termos de preço. Nos últimos seis meses, não houve grandes oscilações de preços, trabalhando apenas com movimentos pontuais. Com isso, talvez, a indústria tenha se adaptado a essa percepção e o mercado tenha se acomodado melhor a essa oferta e demanda - como já acontece em outras culturas.
A soja, apesar de ter uma demanda internacional extremamente alta, no mercado doméstico está alcançando um patamar de equilíbrio. Isso é bom, principalmente para o consumo interno de produtos à base de soja - o óleo de soja, por exemplo, sofreu uma queda expressiva de preços nos últimos três ou quatro meses de 2022. Em uma expectativa para o longo prazo, talvez, possamos contar com cenário de estabilidade aos preços. A própria indústria está trabalhando para essa estabilização através de contratos futuros e outros mecanismos financeiros, justamente para auxiliar e não haver um “baque de oferta” como tivemos na pandemia.
O produto impacta também outras cadeias, como as de transformação de proteínas, por exemplo, a indústria de ração animal, assim como acontece com a cultura do trigo. Para nós, consumidores, o entendimento da indústria dessa importância da soja e do trigo em diversos segmentos pode gerar um mercado mais previsível, trazendo melhores ajustes quanto à oferta e demanda.
Scot Consultoria/Destaque Rural: E como está o cenário da produção localmente, pensando no Sul do Brasil?
Edmar Gervásio: O Rio Grande do Sul está ali, brigando com Santa Catarina para ver quem será o maior produtor de soja da região. É um cenário curioso: apesar de termos uma elevação grande nos custos de produção ao longo dos últimos anos, tivemos uma queda expressiva nos últimos meses. Não só nos pontos principais, como os fertilizantes, mas tivemos quedas nos fretes marítimos, redução do preço médio do combustível e ajustes na mão de obra com um capital financeiro mais caro. O produtor mais capitalizado, que tinha um investimento já aplicado no negócio, com essas reduções fez um excelente negócio, porque se ele já tinha um dinheiro aplicado, acabou ganhando duplamente na formação do seu custo. É um ótimo investimento em curto prazo, entre 6 e 8 meses ocorre o giro financeiro.
Scot Consultoria/Destaque Rural: Pensando em uma próxima safra, o que podemos esperar em relação a adubos e insumos a longo prazo?
Edmar Gervásio: No Paraná, por exemplo, temos volume acima do que seria necessário - estoque significativo. Inclusive, no porto Paranaguá, chegaram fertilizantes que precisaram ser reexportados devido à falta de compradores - quando aconteceu o boom da crise e da guerra, houve um desespero e muitas compras por um preço extremamente alto e agora o mercado brasileiro já está bem abastecido. Sendo assim, estamos em um cenário favorável para a produção da safra 2023/24 e com uma lógica de custo para o produtor bem cravada - o que não está cravado é o preço de venda, que está sujeito a variações significativas.
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