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Scot Consultoria

Rastrear o rebanho pode ser simples. Aprenda a fazer!

Entrevista com o CEO da iRancho, Thiago Parente

Terça-feira, 19 de setembro de 2023 - 06h00
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Thiago Parente é formado em Administração, especialista em mercado financeiro pela FGV, com mestrado em Agribusiness na Texas A&M University. Experiência em empresas como IBM e Oracle. Atualmente é CEO da iRancho.


A rastreabilidade de rebanhos é um tema frequentemente abordado. Isso ocorre porque ela representa mais uma ferramenta importante para os pecuaristas que desejam aumentar a produtividade no campo.

Pode-se dizer que a rastreabilidade bovina é o monitoramento de todo o trajeto dos bovinos, desde sua origem/nascimento até o corte. Dessa maneira, torna-se possível utilizar a tecnologia para compreender quais fazendas um determinado bovino percorreu, qual o tipo de nutrição recebeu, quais bovinos estão proporcionando melhores resultados zootécnicos e lucros etc.

Nesse contexto, diversas startups começam a despontar no setor. Uma delas é o SafeBeef, plataforma associada à iRancho, que é uma plataforma de gestão de fazendas com mais de 3 milhões de cabeças de gado registradas. O SafeBeef é uma plataforma de rastreabilidade bovina que recebeu um investimento R$7,2 milhões do Banco do Brasil, como parte de uma parceria destinada a estimular suas atividades.

Para conhecer mais sobre o SafeBeef, entrevistamos  Thiago Parente, CEO da iRancho.

Scot Consultoria: Thiago, você pode nos explicar o que é o SafeBeef e como esse sistema foi idealizado?

Thiago Parente: O SafeBeef é o primeiro sistema de rastreabilidade por consequência. Ou seja, ele utiliza informações que já são coletadas no dia a dia da fazenda para gerar rastreabilidade.

A iRancho nasceu com o objetivo de desenvolver um sistema de gestão. Entendemos que estávamos coletando uma quantidade de informações que poderíamos aproveitar para criar essa rastreabilidade, por isso o nome “rastreabilidade por consequência”.

Nós olhamos a rastreabilidade sempre como algo separado da gestão, porém ambas podem ser tratadas em conjunto. E, olhando para o perfil do nosso cliente, o pecuarista, que geralmente tende a ser mais conservador e pode enfrentar desafios com a tecnologia, solicitar que ele utilize dois sistemas, um de gestão e outro de rastreabilidade, pode ser “um pouco demais”.

Então, fizemos a fusão entre gestão e rastreabilidade, criando o SafeBeef, uma plataforma que recebe as informações em blockchain do dia a dia das fazendas.

Scot Consultoria: Como o SafeBeef pode garantir a sustentabilidade na cadeia produtiva? E como o consumidor pode saber mais sobre a origem da carne que ele está consumindo?

Thiago Parente: O SafeBeef não garante a sustentabilidade da atividade e sim a transparência do que está acontecendo na fazenda. Por isso, a minha luta é desmistificar o termo “rastreabilidade”, pois isso nada mais é do que conseguir registrar o que está ocorrendo com o animal na fazenda. O mundo inteiro quer saber a origem do alimento, se foi produzido de forma socialmente responsável, sustentável e se o consumo é seguro.

O SafeBeef é uma ferramenta de transparência, que busca, se o produtor autorizar, dar transparência e visibilidade ao que aconteceu ao animal. Cada vez mais, o consumidor está curioso em saber onde e como o alimento está sendo produzido, sempre frisando que é necessária a autorização do pecuarista, pois a informação a ele pertence. Como aconteceu com um de nossos clientes: fizemos um churrasco na ExpoInter, com carne 100% rastreada, do nascimento ao corte, e quem estava nesse churrasco pôde ler um QR Code e saber todas as informações do animal que originou aquele corte: quais as fazendas por onde passou, que tipo de nutrição recebeu, qual tratamento sanitário foi realizado e se houve algum tipo de seleção na escolha e reprodução dos pais (nesse caso específico, o bovino passou por um ultrassom de carcaça, que dizia a área de olho de lombo [AOL], o marmoreio e a capa de gordura). Portanto, o SafeBeef busca atender a esse anseio do mercado consumidor.

Scot Consultoria: Como é vantajoso para o produtor ter essa transparência na produção?

Thiago Parente: O pecuarista tem orgulho da sua produção, da sua atividade e de seus animais. É muito difícil um produtor não abrir a porteira para mim em uma visita. E o SafeBeef é isso: abrir sua porteira! Por que é bom? Analisando o histórico de rastreabilidade no Brasil, encontramos três grandes barreiras:

1. Um esforço adicional do produtor;Custo adicional demandado para o produtor e,Falta de estímulo para realizar a rastreabilidade.

2. No SafeBeef, quebramos as três barreiras, não tendo obrigatoriedade ou custo adicional ao produtor.

3. Na ponta do benefício, temos estímulos financeiros, pois temos como sócio o Banco do Brasil. Além disso, o governo soltou, no Plano Safra de 2023/24, um desconto em taxas de juros para produtores mais sustentáveis e mais eficientes na atividade. Juntamente aos frigoríficos, estamos trabalhando uma bonificação adicional aos produtores que aderirem a esse projeto de rastreabilidade, sustentabilidade e produtividade, porque a transparência gerada por esse processo é de amplo interesse da sociedade.

Scot Consultoria: Quantas cabeças de gado a iRancho gerencia atualmente? Dado o tamanho do mercado pecuário no Brasil, qual a perspectiva de crescimento para 2023/24?

Thiago Parente: Hoje temos de 3 a 3,4 milhões de cabeças gerenciadas, o que é cerca de 2% do rebanho total do Brasil. São, aproximadamente, 3.500 a 4.000 fazendas sendo gerenciadas pelo sistema. Quando falamos do potencial de rastreabilidade desses clientes, 60% dos animais gerenciados pelo iRancho já teriam os requisitos de segurança que precisamos para cadastrá-los no SafeBeef.

Scot Consultoria: Como convencer o pecuarista de que a transparência na produção pode gerar lucro no futuro?

Thiago Parente: Para o pecuarista, a visão é de que a rastreabilidade significa custo adicional. Como nós criamos a fusão de gestão com rastreabilidade, a conclusão é que, se for feita a gestão, você já realiza a rastreabilidade. Ou seja: não há custo, não há esforço, mas há estímulo. O custo seria apenas a identificação do animal, um brinco eletrônico de, em média, R$5,50 por bovino, uma quantia pequena quando comparada à composição de custo/cabeça.

Além disso, ao realizar a gestão, você pode perceber que os filhos de um determinado touro estão engordando de 1 a 2@ a mais que os outros. Assim, você consegue gerenciar, em termos de recria/engorda, quais animais têm apresentado melhor conversão e quais estão trazendo mais lucro para o negócio. Se o produtor não tem condições de identificar esses ganhos, ele continua sem explorar o potencial máximo do seu rebanho.

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