Engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo, é diretor-fundador da Scot Consultoria. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.
Scot Consultoria: Scot, 2023 foi, definitivamente, um ano desafiador para a pecuária de corte. Quais foram os principais destaques deste ano para o mercado do boi?
Alcides Torres: Todos os anos são desafiadores. A produção pecuária está sob forte pressão ambiental, simplesmente por ser a atividade econômica que mais ocupa terras no Brasil. Além disso a produção brasileira incomoda blocos econômicos fortes que detinham a hegemonia desse mercado. O nosso sistema de produção é o mais eficiente sob todos os pontos de vista e bloqueios de toda ordem, sob o manto de políticas ambientais, tem sido a rotina. Para completar, 2023 foi caracterizado por excesso de produção, queda de preço da arroba do boi gordo, desconfiança do setor produtivo com relação ao governo das coisas nacionais, retração dos investimentos e queda do preço da carne exportada.
Scot Consultoria: Em 2023, tivemos um bom volume de exportação de carne bovina in natura, mas esse cenário positivo não se repetiu quando olhamos para os preços. Para 2024, podemos projetar um cenário diferente?
Alcides Torres: Com relação aos preços, não. O ágio que existia para a carne exportada para a China perdeu a magnitude. O faturamento será, comparativamente, menor em relação ao vigente em 2022. É um novo cenário de preços. Com relação ao volume exportado, se não acontecer fato novo, deveremos ter mais um bom ano.
Scot Consultoria: Neste ano, o Brasil sofreu inúmeros impactos climáticos influenciados pelo El Niño. Quais foram as consequências disso para o mercado de grãos e mercado do boi gordo? E para 2024, quais são as expectativas?
Alcides Torres: O clima rotineiramente afeta a produção rural, para o bem e para o mal. Neste ano de calor intenso e de atraso das chuvas em importantes regiões produtoras tivemos problemas na semeadura da soja, ressemeadura, possivelmente teremos uma janela mais estreita de semeadura do milho safrinha, pastagens afetadas e por aí vai. O preço dos grãos em função desse quadro é de firmeza e a safra de bovinos deverá ser afetada. Como estamos na fase de baixa do ciclo de preços pecuários, a expectativa é de que esse quadro climático dê firmeza à cotação da arroba do boi do boi gordo e firmeza às cotações do milho.
Scot Consultoria: Scot, o produtor de milho e de soja deve esperar custos mais atrativos em 2024?
Alcides Torres: Os custos de produção deverão ser mais palatáveis, uma vez que o mercado assimilou as consequências da guerra na Ucrânia x Rússia. Mas essas previsões precisam ser monitoradas em função da volatilidade.
Scot Consultoria: A partir de 2024, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) vai suspender a obrigatoriedade da vacinação contra a febre aftosa em São Paulo, Bahia, Maranhão, Pará, Rio de Janeiro, Roraima e Sergipe. Como essa medida deve impactar o mercado do boi no próximo ano?
Alcides Torres: Nada muda em 2024. O fim da obrigatoriedade da vacinação abre a perspectiva da conquista de mercados que só compram de regiões pecuárias livres de aftosa sem vacinação, mas isso leva tempo. O fim da obrigatoriedade, em tese, significa redução de custo, mas por outro lado deverá fragilizar a rotina dos protocolos sanitários, uma vez que na temporada de vacinação contra a febre aftosa, se aproveitava para a dosificação de outras vacinas e medicamentos.
Scot Consultoria: O Encontro de Analistas de 2023 reuniu grandes nomes do mercado. Quais foram alguns dos principais pontos discutidos para os quais devemos ter atenção em 2024?
Alcides Torres: Esse Encontro já faz parte do calendário de eventos da pecuária e da agricultura brasileira, nele se discute o mercado presente e o que deverá acontecer no ano seguinte. Entre outros temas, foi abordado o mercado do boi gordo, o mercado de grãos, o mercado de carnes e a conquista de compradores de nossos produtos. Os debatedores apresentaram questões relativas às políticas energéticas, de abastecimento, o futuro do mercado internacional, câmbio, juros e financiamento para o agro. Nesta conexão eletrônica você pode ter acesso ao resumo do que foi tratado.
Scot Consultoria: O Confina Brasil chegou à sua 4ª edição em 2023, com mais de 55 mil quilômetros percorridos e 180 propriedades visitadas em 14 estados mapeados presencial e remotamente. Quais foram os principais destaques que podem ser encontrados no benchmarking gerado pela expedição?
Alcides Torres: O Confina Brasil pretende ser um censo da pecuária intensiva. É um projeto de cinco anos. Esta foi a quarta edição. A expedição retrata o que é a pecuária de alta produtividade e qual o perfil dos produtores e, do time que conduz esse capítulo da pecuária nacional (acesse aqui para ler o benchmarking Confina Brasil 2023).
Scot Consultoria: A Scot Consultoria está sempre inovando em tendências, eventos e na distribuição de informações. O que podemos esperar para 2024? Vem alguma novidade por aí?
Alcides Torres: A Scot Consultoria escuta o mercado. É fiel fonte de informação do dia a dia do agro. Neste ano lançamos o Indicador do Boi Gordo da Scot Consultoria (uma demanda do mercado) e reformulamos integralmente o informativo pecuário diário Tem Boi na Linha (que circula há trinta anos). Em 2024, além dos eventos tradicionais, pretendemos rodar pelo Brasil com mais uma expedição, desta vez tratando da integração lavoura - pecuária.
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