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Scot Consultoria

Utilização de silagem e redução de custos na produção

Entrevista com o consultor técnico regional de bovinos de corte - RO/AC/AM/MT, da Nutron-Cargill, Rafael Reis

Segunda-feira, 24 de junho de 2024 - 06h00
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Engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Forragicultura, com pós-doutorado em Ciência Animal e Pastagens - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, ESALQ/USP. Atualmente é Consultor Técnico Regional de Bovinos de Corte - RO/AC/AM/MT, da Nutron-Cargill.

Foto: ShutterStock


Scot Consultoria: A produção de silagem tem acompanhado as constantes evoluções, em termos de cultivo e genética, como tem ocorrido na produção de grãos? Qual o impacto para o produtor?

Rafael Reis: Sim, o milho para a produção de silagem, têm experimentado a mesma evolução que os cultivos para grãos. Grandes empresas, detentoras de programas de melhoramento genético no país, possuem eixos destinados à obtenção de melhores materiais para produção de silagem. Isso é bem evidente tanto no milho quanto no sorgo. Essa evolução em cultivo traz para o produtor cultivares que respondem em produtividade e que se adaptam às condições edafoclimáticas de cada região e aos diferentes momentos de cultivo, como safra e safrinha. Junto com essas cultivares, vem o pacote tecnológico, incluindo o manejo fitossanitário e proteção da cultura. Isso dá mais segurança ao produtor ao cultivar plantas para produção de silagem. O impacto é muito positivo, tanto para o produtor quanto para a cadeia para a produção de silagem, acompanhando a produção de grãos.

Scot Consultoria: Quais os principais fatores que influenciam os custos associados à produção e armazenamento de silagem na sua opinião? Existem estratégias eficazes para otimizar esses custos sem comprometer a qualidade do produto final?

Rafael Reis: Os principais fatores que influenciam os custos associados à produção de silagem envolvem produzir mais na mesma área e reduzir perdas, aumentando a eficiência da conservação. Para produzir mais, é necessário escolher híbridos e manejar a lavoura com técnicas adequadas de cultivo e adubação, bem como controle de doenças, pragas e plantas daninhas. Reduzir perdas envolve conhecer bem o processo de conservação e entender que a ensilagem usa a fermentação lática. Boas práticas podem resultar em perdas de apenas 5,0% a 10,0%, enquanto um manejo inadequado pode levar a perdas de até 30,0% a 40,0%, encarecendo a silagem. Portanto, é preciso colher as plantas no ponto ideal para fazer uma boa compactação e expulsar o oxigênio do silo, vedando corretamente. Atualmente, existem barreiras de oxigênio no mercado que impedem a entrada de ar dentro do silo e aditivos que ajudam na fermentação e proteção da silagem. O uso correto de aditivos biológicos-inoculantes, que podem incluir enzimas, estimula a fermentação adequada e protege a silagem após a abertura do silo. Após o armazenamento e a abertura do silo, é essencial manejar a silagem corretamente, mantendo o silo protegido e retirando camadas de forma a minimizar a entrada de ar. Em resumo, se a produção no campo for eficiente, a tonelada de matéria seca será mais barata. Reduzindo perdas durante a conservação, você preserva uma maior parte do investimento inicial, combinando eficiência de produção e conservação para otimizar os custos e a qualidade da silagem.

Scot Consultoria: Considerando as flutuações do mercado agrícola, como as variações nos preços das commodities afetam a produção e o consumo de silagem na pecuária, e como os produtores podem se adaptar a essas mudanças?

Rafael Reis: Essa é uma pergunta bastante ampla, então eu vou tentar abordar em algumas vertentes. As flutuações do mercado agrícola, como o aumento das commodities, podem afetar a produção e o consumo da silagem na pecuária. Primeiro, imagine que o preço do grão de milho, por exemplo, suba. Isso pode levar produtores a usar uma quantidade maior dos ingredientes volumosos e fibrosos na dieta, como a silagem, visando reduzir custos (não que isso seja verdadeiro em todos os cenários). Isso vale tanto para silagens de milho e sorgo, que contêm bastante grãos, quanto para silagens de capim (mais fibrosas) que podem compor uma parte maior da dieta para reduzir custos diários. Tudo isso precisa ser estudado conforme o rendimento esperado dos animais e ajustado para a dieta de cada um.

Outra vertente é que a alta do milho-grão no mercado também aumenta o custo de produção da lavoura de milho. Em períodos de alta do milho-grão, a silagem de milho e até o sorgo, cujo preço é influenciado pelo milho, também têm seus custos elevados quase que proporcionalmente. Há alguns anos, vimos uma alta considerável no valor do milho-grão, refletindo no custo de produção e comercialização do milho para silagem. Nos últimos anos experimentamos um fluxo mais estável ou inverso.

Então, como o produtor pode se adaptar a essas mudanças? De várias formas, mas acredito que para quem produz silagem, a melhor forma é adquirir experiência e confiança para aproveitar as variações do mercado. Com um bom conhecimento da produção e conservação, é possível flexibilizar a produção de silagem para torná-la mais econômica em cenários comerciais desafiadores.

Scot Consultoria: Em termos de eficiência produtiva, quais são os principais desafios enfrentados nas lavouras, colheita e pós-colheita pelos produtores de silagem e o que você enxerga como oportunidade para melhorar a produção e maximizar os rendimentos?

Rafael Reis: Devemos começar pelo que chamamos de pré-silo. Enfrentamos muitos desafios na lavoura, seja de milho, sorgo ou capim. Para a silagem de capim, ainda acho que vivemos grandes desafios. Propriedades agrícolas estabelecidas têm menos dificuldades, pois já possuem rotinas de correção de solo e manejo das culturas, resultando em alta produtividade. Propriedades pecuárias que estão iniciando na atividade ainda precisam de tempo para a construção de um melhor perfil de solo e ajustar a topografia (uniformidade do terreno), o que impacta eficiência de colheita e aumenta os custos de produção. A parte agronômica também apresenta desafios, especialmente com o milho e o sorgo, devido a pragas e doenças. Biotecnologias e monitoramentos regulares são necessários para proteger as culturas.

É muito comum que propriedades com experiência em lavoura geralmente se saiam melhor. Em propriedades que estão iniciando ou avançando, às vezes esses pontos acabam fazendo com que a produtividade seja um pouco mais baixa do que ela poderia ser, e a colheita seja um pouco menos eficiente, um pouco mais lenta e lá no final resulta em um custo de produção final das silagens um pouco maior. Um exemplo é a incidência de cigarrinha que vem acontecendo nos últimos anos no milho, certo? Então, é preciso cultivares resistentes ou mais tolerantes, alinhadas a uma rotina melhor de lavoura.

Durante a colheita, é essencial ter máquinas de boa qualidade para triturar o material e quebrar os grãos. Por mais que isso já tenha expandido bastante em algumas regiões do país, existem muitos produtores que não possuem maquinários à disposição para colher no momento ideal, resultando em perdas. Depois que o material está no silo, a compactação não deve ser negligenciada e, às vezes, por falta de maquinário (ou de informação), a compactação vai ser um pouco menos intensa do que deveria e o produtor só verá o impacto disso depois da abertura do silo, quando as perdas são visivelmente evidentes e maiores do que o esperado.

Outro ponto em que temos uma grande oportunidade de avançar, é na proteção do silo. Hoje, já existem empresas que disponibilizam no mercado filmes plásticos e lonas muito mais eficientes. Isso garante que aquilo que você produziu (e investiu recursos), colocou dentro do silo e compactou, seja preservado na forma de silagem, resultando em uma significativa redução de perdas. Além disso, empresas idôneas que produzem aditivos que ajudam o processo, é fantástico. Esses são investimentos pequenos comparados ao custo total da operação, mas que têm um impacto positivo muito interessante. Então, um inoculante, uma lona e/ou filme plástico de pouca qualidade, não economizar no processo de compactação, ok?

Também é crucial um bom dimensionamento do silo, ajustando sua largura e o painel do silo de acordo com o consumo.  Às vezes, isso é negligenciado, silagem que resulta em perdas muito grandes durante 20, 30, 40 dias de uso. O planejamento do processo deve considerar a proteção diária da silagem que permanece no silo, evitando a deterioração. Essas oportunidades de produtos e processos, certamente podem maximizar o rendimento final na operação.

Scot Consultoria: Quais você acredita que serão as principais alterações no processo de produção de silagem que podem influenciar o mercado agrícola e pecuário?

Rafael Reis: Pensando que talvez a utilização de milho para silagem represente menos de 5,0% de toda a área cultivada para milho-grão no Brasil, não sei se o impacto chega a ser tão grande assim, mas podemos pensar nos seguintes cenários: mais produtores fazendo silagens de capins, por exemplo, pode reduzir um pouco a utilização de silagem de planta inteira de milho (proporcionalmente). É muito mais fácil enxergar oportunidade de crescimento do que um impacto que possa ser negativo no mercado agrícola.

Agora, no mercado pecuário, é visível que a produção de silagem impacta esse mercado. Em qual sentido? Atualmente, vemos o uso de silagens desde a fase de recria, por exemplo. Ou seja, o uso dessas silagens acelera o ciclo produtivo e, consequentemente, pode ter um impacto no mercado pecuário. As silagens também atuam como um balanceador de custos, tanto na dieta de animais em confinamento quanto para o gado leiteiro. Cada vez mais, a importância da silagem é reconhecida, pois ela flexibiliza a forma de lidar com a alimentação dos rebanhos, auxilia ao produtor em momentos desafiadores e, ao mesmo tempo, possibilita o produtor uma estabilidade maior ao longo do ano. Além disso, oferece uma garantia dentro do planejamento forrageiro e alimentar para que esse possa ser cumprido.


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