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Scot Consultoria

Período das águas - Práticas que podem potencializar o resultado no principal sistema de produção brasileiro

Entrevista com zootecnista, mestre em Zootecnia, Lorrano Cidrini

Terça-feira, 5 de novembro de 2024 - 06h00
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Zootecnista, mestre em Zootecnia pela FCAV Unesp Jaboticabal/APTA Colina, com período de intercâmbio na Agriculture and Agri-Food Canada. Doutorado na mesma instituição (Unesp), com período de intercâmbio na Montana State University. Foi consultor de pecuária de corte (2021-2024) e hoje integra o time técnico premix da ElancoAH.

Foto: Bela Magrela


Scot Consultoria: Quais são os impactos fisiológicos da maior disponibilidade de forragem de alta qualidade no período das águas sobre o metabolismo proteico e energético dos ruminantes, e como isso pode ser explorado para melhorar a eficiência alimentar? 

Lorrano Cidrini: O período chuvoso proporciona condições favoráveis para o crescimento e melhoria da qualidade da forragem, resultando em maiores níveis de proteína bruta e menor teor de fibra em detergente neutro (FDN). Isso favorece o consumo e, consequentemente, o ganho de peso do gado, devido ao maior aporte de proteína e nutrientes digestíveis totais (NDT) provenientes da forragem. Entretanto, mesmo nessas condições, ainda existe um potencial de ganho não explorado nesses animais em pastejo (ganho latente), o qual pode ser aproveitado com a utilização de suplementos proteicos ou proteico-energéticos. A suplementação durante o período chuvoso, em pastagens bem manejadas, visa promover o consumo regular de macro e microminerais, fornecer um aporte adicional de proteína – visto que uma fração da proteína do pasto é indisponível – e veicular aditivos alimentares, como ionóforos (ex: monensina e narasina), que atuam na melhoria do desempenho animal por meio de alterações no metabolismo, como a otimização da fermentação ruminal e a redução da emissão de metano, entre outros. A combinação desses fatores torna a suplementação, mesmo durante a estação chuvosa, uma ferramenta importante para maximizar o potencial de ganho do gado. 

Scot Consultoria: Como a digestibilidade e o valor nutritivo da forragem afetam o desempenho do rebanho em termos de ganho de peso e produção de leite? 

Lorrano Cidrini: O valor nutritivo e a digestibilidade da forragem influenciam diretamente o consumo e, consequentemente, o desempenho animal. Considerando que o consumo potencial de matéria seca (MS) pode ser estimado em 1,2% do peso vivo em fibra em detergente neutro (FDN) (Mertens, 1992), um animal em recria com 300kg teria um consumo potencial de 3,6kg de FDN. Com uma forragem contendo 60% de FDN, isso equivaleria a um consumo de 6,0kg de MS por dia. Por outro lado, com uma forragem de menor valor nutritivo, contendo 70% de FDN, o consumo potencial seria de 5,1kg de MS por dia. Portanto, a redução do valor nutritivo da forragem limita o consumo potencial, uma vez que a menor taxa de passagem aumenta o tempo de retenção no trato gastrointestinal. No entanto, vale ressaltar que o consumo real também é fortemente influenciado pela estrutura da pastagem. Não basta a forragem ser nutritiva; ela precisa estar disponível em uma estrutura que permita ao animal atingir seu consumo potencial. 

Scot Consultoria: Como o aumento da umidade relativa do ar e a maior densidade populacional de parasitas durante o período das águas influenciam a resposta imunológica dos animais, e quais protocolos integrados de controle sanitário podem ser aplicados para mitigar esses efeitos? 

Lorrano Cidrini: A grande maioria dos parasitos, tanto vermes, ácaros ou dípteros, se beneficiam das condições de alta umidade e temperaturas ambientais, as quais costumam acelerar o ciclo de biológico das diferentes espécies, reduzindo o intervalo entre gerações. Esse aumento na carga parasitária e a maior proteção às formas infestantes, oferecidas pela maior presença de forragem, fazem com que haja maior infestação dos hospedeiros alvo, tornando o controle cada vez mais necessário e crítico para obter melhor produtividade. Programas de controle integrados, que visam combater de forma eficiente uma ou mais espécies de parasitos, simultaneamente, permitem aos produtores e gestores de sistemas de produção maior eficiência. O controle de carrapatos com a associação de endectocidas + fluazuron é um exemplo clássico dessa metodologia. O endectocida combate as formas adultas presentes nos animais, enquanto elimina, concomitantemente, vermes internos e bernes que porventura, também estejam infestando os animais, tendo o fluazuron o papel de eliminar os carrapatos que ascendem da pastagem nas próximas quatro a cinco semanas, durante seu período de ação. Essas estratégias têm como premissas básicas manter os animais livres de infestações, reduzindo o número de manejos necessários ao longo dos meses, com racionalização de custos e mão de obra. 

Scot Consultoria: Qual o papel de estratégias como o uso de vermífugos seletivos e a adoção de técnicas de manejo integrado de pragas (MIP) na saúde do rebanho? 

Lorrano Cidrini: O Controle Integrado de Pragas é uma estratégia que visa aproveitar, simultaneamente um determinado princípio ativo ou a combinação de dois ou mais ativos, para atacar mais de um gênero ou espécie de parasito. Essa estratégia vem do uso de produtos endectocidas, as Lactonas Macrocíclicas (ivermectinas e milbemicinas) ou mesmo aqueles que têm efeito em diferentes parasitos, como é o caso dos organofosforados. Tratamentos seletivos são alternativas que podem auxiliar o controle, porém seu êxito dependerá diretamente de qual o parasito está envolvido e principalmente seus impactos sobre os animais. Em ovinos, o uso do FAMACHA, contra Haemonchus contortus tem efetividade, porque ele ingere sangue e é possível selecionar aqueles indivíduos com distintos graus de anemia, porém outros parasitos intestinais, que não causam anemia, já não têm utilidade. Em resumo, o tratamento seletivo é uma ferramenta e por vezes eficaz e em outros casos, não. O controle integrado é excelente para racionalizar custos operacionais, pois um manejo pode combater diversos parasitos, ao mesmo tempo, reduzindo o número de intervenções ao longo do ano sobre determinados lotes de animais. Sempre o assessoramento técnico qualificado será uma necessidade para o sucesso dos programas de controle, inclusive quando o produtor já tem experiência prévia no controle, pois uma opinião externa adequada, sempre pode trazer uma nova perspectiva para o controle eficaz dos parasitos que afetam o rebanho. 

Scot Consultoria: Quais são os principais desafios relacionados ao manejo da fertilidade do solo e da recuperação das pastagens no período das águas, e como práticas como a rotação de pastagens, adubação de cobertura e o uso de leguminosas podem contribuir para aumentar a capacidade de suporte das áreas de pastoreio? 

Lorrano Cidrini: Durante a estação chuvosa, as condições climáticas favorecem o crescimento da forragem. No entanto, se a capacidade de suporte da pastagem for excedida pelo pastejo excessivo, as reservas de forragem podem se esgotar, iniciando um processo de degradação. Essa degradação se manifesta pelo aparecimento de plantas invasoras e pela redução da fertilidade do solo. Em estágios avançados, com baixa densidade de plantas forrageiras desejáveis, a recuperação da pastagem se torna necessária. Contudo, a adoção de práticas de manejo que ajustem a carga animal à capacidade de suporte, juntamente com a calagem, adubação de cobertura para manutenção e/ou o uso de leguminosas para fixação biológica de nitrogênio, contribui para a maior perenidade e, consequentemente, para o aumento da capacidade de suporte das pastagens.


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