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Scot Consultoria

Abertura do mercado de carnes para a África

Entrevista com o secretário de comércio e relações internacionais do MAPA, Luis Rua

Sexta-feira, 6 de dezembro de 2024 - 06h00
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Secretário de Comércio e Relações Internacionais do MAPA. Possui formação acadêmica com bacharelados em Economia e Relações Internacionais pela Faculdade de Campinas (FACAMP). mestre em Economia Internacional pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP/UP) e pós-graduado em Agronegócios pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP). Atuou como diretor de mercados na Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), uma organização que representa os setores de avicultura e suinocultura.

Foto: Freepik


Scot Consultoria: Recentemente, 19 plantas frigoríficas brasileiras foram habilitadas para a exportação de carnes à África do Sul. De que maneira as negociações comerciais e diplomáticas entre o Brasil e países africanos têm contribuído para o fortalecimento de acordos bilaterais que sustentam a abertura de mercado para produtos brasileiros e quais acordos e regiões têm demonstrado maior potencial de expansão?  

Luis Rua: Para além da abertura recorde de mercados — até o presente momento, 282 mercados desde o início do mandato do Ministro Carlos Fávaro à frente do Ministério da Agricultura — e de uma série de novas habilitações, o exemplo da África do Sul é mais um entre muitos. Tivemos, aproximadamente, 40 plantas habilitadas para a China. Há uma série de novas oportunidades que têm sido geradas para os produtores e exportadores brasileiros.

Esse avanço é resultado, em grande parte, do retorno das boas relações diplomáticas, do fortalecimento das conversas e das discussões técnicas. Gostaria de destacar o trabalho em parceria entre a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais, da qual sou secretário, e a Secretaria de Defesa Agropecuária. Sem essa coordenação entre as áreas do ministério, naturalmente, não alcançaríamos esse número recorde de mercados abertos.

As ampliações de mercado, seja por meio de novas habilitações, seja por ampliações de áreas livres de aftosa sem vacinação, são fruto de um trabalho coordenado sob a liderança do ministro Carlos Fávaro, que nos tem dado a diretriz de buscar toda e qualquer oportunidade para nossos produtores e exportadores. Esse número recorde de abertura e ampliação de mercados já reflete as boas relações diplomáticas e o cuidado que temos em cultivar parcerias estratégicas, visando cada vez mais criar oportunidades para nossos produtores e exportadores.

Scot Consultoria: Hoje vemos diferentes padrões regulatórios de importação dos mercados consumidores do Brasil. Considerando os padrões regulatórios de importação do mercado africano, quais são as principais considerações ou pontos de exigência para o seu atendimento? Há alguma imposição específica para a compra de carnes, como no mercado chinês, cuja exigência hoje é de bovinos com até 30 meses de idade.

Luis Rua: Para a maior parte dos países africanos, os padrões regulatórios de importação exigidos são os mesmos padrões que o Brasil já adota na sua produção. Basicamente, seguem-se as normas que o Brasil utiliza, e os africanos confiam no mercado e no serviço sanitário. Eventualmente, um ou outro país acaba tendo um requisito específico, mas o Brasil é capaz de cumprir. Tanto é que vem aumentando as exportações para essa região e tem colocado foco, dentro do governo, para que possamos, cada vez mais, estreitar os laços com os países africanos, trabalhando não só a questão do comércio, mas também a de cooperação e investimentos.

Entendemos que a África é uma região de grande importância, tanto no presente quanto em um futuro próximo. Enquanto isso, a Ásia e o Sudeste Asiático continuam sendo mercados com maior expansão e nos quais temos observado avanços, como é o caso das Filipinas.

A China, por sua vez, continua aumentando suas importações de carne bovina brasileira, além de comprar volumes expressivos de carne suína e de aves. Enfim, são mercados importantes na Ásia, mas a África também se destaca como um mercado potencial de grande relevância para o Brasil.

Scot Consultoria: Em um cenário de crescente competição internacional, quais estratégias e vantagens competitivas o Brasil está utilizando para consolidar sua presença em mercados africanos, frente à concorrência de grandes exportadores globais desses produtos?

Luis Rua: É importante que o Brasil se aproxime cada vez mais dos países africanos e de seus consumidores. Para isso, é essencial que as empresas privadas, juntamente com o governo, participem de eventos, seminários e feiras, a fim de demonstrar a qualidade da carne brasileira. Mais do que isso, é fundamental destacar a competitividade do país como um provedor seguro, estável, confiável e capaz de oferecer um produto em condições competitivas, complementando as produções locais sem ferir os interesses desses países, mas apoiando e ocupando o espaço que lhe cabe.

Essa iniciativa faz parte da estratégia do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), que busca fortalecer o setor de promoção comercial dentro da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais. Nosso objetivo é intensificar a participação em feiras, eventos e encontros, levando ao conhecimento das autoridades dos países africanos, bem como dos consumidores e importadores de proteína, o fato de que o Brasil produz seguindo os principais requisitos sanitários. Além disso, entrega um produto com qualidade, sabor e características que são atributos marcantes das nossas proteínas.

Scot Consultoria: Em novembro, durante o Grupo dos Vinte (G20), principal fórum de cooperação econômica internacional, que aconteceu no Brasil ocorreu o anúncio de que a China abriu quatro mercados para produtos da agropecuária brasileira, sendo eles uva fresca, gergelim, sorgo e a farinha de peixe. Como essa abertura poderá beneficiar o agronegócio brasileiro e quais as expectativas para os próximos anos? Sobre o mercado de carnes, em 2024, a China habilitou novas plantas a exportarem carnes para o país. Há em discussão atualmente, a possibilidade de mais aberturas em 2025?

Luis Ruas: De fato, o anúncio pelo governo chinês da abertura de quatro mercados para os produtos agropecuários brasileiros - uvas, gergelim, sorgo e farinha de peixe — é uma grande conquista. Esses quatro produtos representam um mercado no qual os chineses importam anualmente cerca de US$7,0 bilhões. Esse é o tamanho total do mercado, e, no caso do Brasil, estima-se que o impacto potencial positivo nas nossas exportações seja de aproximadamente US$500,0 milhões em um médio prazo. 

Esse volume é significativo, especialmente em um contexto em que a China é a maior importadora mundial de alguns desses produtos, como o sorgo. Boa parte das importações chinesas de sorgo atualmente vem dos Estados Unidos, e, diante da possibilidade iminente de tensões comerciais entre China e Estados Unidos, o Brasil pode se beneficiar. O país estará pronto para oferecer esses produtos à China, caso haja interesse do mercado chinês.  Essa conquista se soma a outras vitórias importantes alcançadas em 2024, como a abertura do mercado chinês para as nozes-pecã no meio do ano e a habilitação recorde de quase 40 estabelecimentos para a exportação de diferentes tipos de carne, principalmente carne bovina e de aves.

As perspectivas para 2025 são positivas. Nunca a relação entre Brasil e China esteve tão boa e transparente. As discussões técnicas estão ocorrendo de forma clara e trazendo resultados concretos para ambos os lados, fortalecendo o comércio bilateral. Nesse contexto, as expectativas são as melhores, e esperamos novos anúncios de habilitações de estabelecimentos ao longo de 2025.


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