• Sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Origem da pecuária

Entrevista com: Ana Paula Oliveira

Sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025 - 06h00
-A +A

Foto: Bela Magrela


Ana Paula Oliveira:
Na primeira edição da expedição, percorremos aproximadamente 15.000 km, atravessando diversos estados brasileiros. Iniciamos no Mato Grosso do Sul, partindo de Três Lagoas, passando pelo Pantanal da Nhecolândia e Paiaguás até Coxim. De lá, seguimos para Rondonópolis, em Mato Grosso, e adentramos o Vale do Araguaia, rumo a Santa Maria das Barreiras, no Pará. Cruzamos o estado até Marabá e seguimos para Colinas do Tocantins. Depois, descemos até Pium e entramos em Goiás por São Miguel do Araguaia, realizando nossa última visita no estado em Iaciara. Na reta final, passamos por Quirinópolis e concluímos a jornada em Uberaba, Minas Gerais. No total, foram 36 visitas em dois meses de expedição.

Scot Consultoria: Durante a expedição quais as principais diferenças observadas nas estruturas ou no manejo entre as fazendas visitadas?

Ana Paula Oliveira: A expedição permitiu observar diferentes abordagens no manejo da pecuária de cria, com propriedades que se destacam pela integração de tecnologias reprodutivas, protocolos sanitários rigorosos e estratégias nutricionais eficientes. Algumas dessas fazendas podem servir como referência para futuras edições do Circuito Cria.

Entre os principais pontos identificados, destacam-se tanto os desafios enfrentados quanto às soluções adotadas. Um dos avanços mais notáveis foi a expansão das áreas com integração lavoura-pecuária, que contribuem para o aumento da produtividade por hectare, a melhoria das condições do solo e a sustentabilidade do sistema. Além disso, houve um investimento em tecnologia e melhoramento genético, visando a máxima eficiência produtiva do rebanho. Outro aspecto relevante foi o avanço no uso de protocolos reprodutivos, como a indução de puberdade em novilhas, combinados a um manejo nutricional estratégico para maximizar o desempenho produtivo. No entanto, a diversidade climática e geográfica do Brasil impõe desafios distintos a cada região, tornando essencial a adaptação das práticas de manejo às particularidades locais.

Por exemplo, no Mato Grosso do Sul, observamos desafios relacionados a solos arenosos, com alta incidência e diversidade de plantas daninhas. Apesar do clima quente na região pantaneira, vimos a utilização do cruzamento industrial com Angus, resultando na produção de bezerros de alta qualidade. Já em Mato Grosso, a estratégia de "sequestro/resgate" para fêmeas precoces se mostrou viável do ponto de vista econômico, favorecida pela alta disponibilidade de insumos para suplementação. No Pará, encontramos grandes rebanhos de qualidade e pastagens bem manejadas, mas a região enfrentou seca, incêndios e, com a chegada das chuvas, o desafio da infestação por lagartas. Em Tocantins, nas regiões visitadas, a escassez de chuvas e a carência de informações técnicas foram desafios marcantes. No entanto, notamos pecuaristas investindo em integração lavoura-pecuária como estratégia para minimizar os impactos da baixa no ciclo pecuário e aproveitar a valorização da soja no mercado. Em Goiás, visitamos uma propriedade com excelentes indicadores produtivos e financeiros, onde a gestão detalhada e criteriosa dos números—uma prática ainda rara em sistemas de cria—contribuiu para a construção e direcionamento do nosso banco de dados e para o refinamento dos indicadores econômicos do setor. Por fim, em Minas Gerais, apesar de termos visitado apenas duas propriedades, ambas demonstraram a importância de trabalhar com bovinos adaptados às condições de nível Brasil, impactando diretamente na eficiência produtiva e na otimização de custos.

Scot Consultoria: Quais foram os principais desafios técnicos identificados nos estados onde passaram? Como o Circuito Cria pode ajudar a superá-los?

Ana Paula Oliveira: Como mencionado anteriormente, os desafios são muitos, e aqui destacamos apenas alguns deles. Acredito que o projeto tem um papel fundamental na troca de informações, beneficiando todos os envolvidos. Os técnicos ganham a oportunidade de visualizar de perto os desafios e principais dúvidas dos pecuaristas, enquanto os pecuaristas têm um canal direto para expor sua realidade, esclarecer dúvidas e acessar conhecimento técnico. Além disso, a iniciativa contribui para a construção de uma base de dados sólida e amplia a visibilidade dos sistemas de cria no Brasil, fortalecendo o setor como um todo.

Scot Consultoria: Após um período de alta participação de fêmeas no abate, como você observa os investimentos nos sistemas de cria durante o período da expedição? Foram implementadas novas tecnologias?

Ana Paula Oliveira: Visitamos estados estratégicos e propriedades referência em cria, todas com um ponto em comum: o otimismo e a expectativa pela virada do ciclo pecuário de preços. Observamos que muitas dessas fazendas acompanham de perto o mercado, buscando oportunidades para investir no rebanho e aproveitar a alta oferta de fêmeas. Grandes grupos que possuem maior capital de giro/reserva de oportunidades, souberam tirar proveito do momento, descartando fêmeas estratégicas, renovando o plantel e investindo no manejo de pastagens para maximizar a eficiência produtiva. No entanto, o cenário de 2023/2024 foi marcado por uma postura mais cautelosa, com os pecuaristas reduzindo o volume de bovinos em seus sistemas. Já em 2024, percebemos um movimento de retomada nos investimentos, embora com estratégias distintas—alguns optando por um crescimento mais conservador, enquanto outros demonstram maior “apetite” pelo mercado.

Scot Consultoria: Finalizada a primeira edição, Circuito Cria – Origem da Pecuária, quais são as expectativas e quando começará a segunda edição?

Ana Paula Oliveira:  A primeira edição do Circuito Cria – Origem da Pecuária foi uma experiência extremamente enriquecedora, proporcionando uma visão aprofundada dos desafios e das estratégias adotadas pelos pecuaristas em diferentes regiões do Brasil. Com o encerramento dessa etapa, as expectativas para a segunda edição são altas. Nosso foco agora está na análise dos dados coletados e na consolidação das informações para aprimorar ainda mais o projeto. A próxima edição deve manter o compromisso de visitar propriedades referência, mas com um foco maior em rebanhos comerciais, expandindo a cobertura para novas regiões e aprofundando discussões sobre temas essenciais, como eficiência reprodutiva, nutrição, manejo de pastagens e gestão.

A segunda edição está prevista para o final de setembro e início de outubro, e já estamos trabalhando ativamente em sua organização. O forte engajamento do setor e o interesse dos pecuaristas reforçam a relevância dessa iniciativa, impulsionando sua continuidade e expansão. Os próximos passos já estão definidos: em 2025, exploraremos o "BERÇO DA PECUÁRIA", e, em 2026, seguiremos "NO RASTRO DO BEZERRO". Cada edição trará novas perspectivas e contribuirá ainda mais para a construção de conhecimento sobre a pecuária de cria no país.

Ana Paula Oliveira

Médica-veterinária e zootecnista, formada na FMVZ/Unesp, Botucatu/SP, mestre em produção animal pela FMVZ/Unesp, Botucatu/SP. Atua na área de ciências agrárias, análises e consultoria de mercados agropecuários. Analista de mercado, com elaboração e realização de análises setoriais e pesquisas nas áreas de bovinocultura de corte, mercados internacionais e imóveis rurais. Analista de marketing, técnica da pesquisa-expedicionária "Confina Brasil", e responsável pela coordenação da pesquisa-expedicionária "Circuito Cria".

<< Entrevista anterior
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja