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Scot Consultoria

Encontro de Confinamento e Recriadores 2025

Entrevista com: Julia Zenatti

Sexta-feira, 7 de março de 2025 - 06h00
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Foto: Bela Magrela


Entrevista originalmente concedida ao programa Terra Viva da DBO.

A pecuária brasileira está vivendo um processo de evolução, e a intensificação da produção é um dos principais temas em debate, principalmente no que se refere à recria e terminação de gado. Apesar de muitas pessoas ainda associarem a intensificação apenas à terminação no confinamento, é importante entender que a recria eficiente também desempenha um papel fundamental para o sucesso desse sistema.  

Nesta quarta-feira (5/3), o jornalista e apresentador do Canal Terra Viva, na DBO, Sidnei Maschio, entrevistou Julia Zenatti, médica-veterinária, coordenadora de marketing da Scot Consultoria e da pesquisa-expedicionária Confina Brasil. Eles conversaram sobre temas importantes para a intensificação da produção.

Julia ainda falou um pouco do que acontecerá no Encontro de Confinamento e Recriadores, que será realizado em Ribeirão Preto nos dias 8, 9 e 10 de abril, e em Barretos no dia 11. Ela conta que durante os três primeiros dias, haverá palestras e debates focados nas principais atualizações e desafios do universo da recria, do confinamento e do mercado agropecuário. E no último dia, os participantes terão uma experiência prática em campo, visitando o Confinamento Monte Alegre, em Barretos, participando de estações de visitas e oficinas de conhecimento.

Sidnei Maschio: Quando se fala em intensificação na pecuária aqui no Brasil, ainda tem muita gente que pensa só em engorda do gado no confinamento, mas vocês vão começar o encontro falando de recria. Por que, Julia?

Julia Zenatti: Sidnei, a gente sempre ouve que "a pecuária é uma atividade de margem", e a recria nos dá oportunidade para que essa margem seja ampliada. Uma recria bem-feita encurta o tempo de terminação e pode reduzir os custos na fase final.

Por isso, vamos começar o evento falando desse tema: recria eficiente é a base de um sistema de produção mais lucrativo e sustentável. E para falar dessa fase tão importante, traremos nomes como Rodrigo Goulart e professor Júlio Barcellos, além dos gestores de fazendas como a Nelore Paranã e a Maragogipe, que estão fazendo um trabalho incrível na recria.

Sidnei Maschio: Para poder fazer uma recria mais eficiente, primeiro o fazendeiro precisa produzir um bezerro de alta qualidade, né? Qual é a receita para fazer isso?

Julia Zenatti: Com certeza. A recria eficiente começa na cria. O pecuarista precisa garantir que o bezerro tenha um bom desenvolvimento desde o útero. A base de tudo é uma boa vaca: genética funcional, boa habilidade materna e sanidade em dia. Depois, vem o manejo, com controle sanitário desde o nascimento, uma desmama bem-feita, uma nutrição que atenda às exigências do bezerro.

Genética, manejo e nutrição bem conduzidos, com esse tripé bem ajustado, o pecuarista já sai na frente na recria. E é justamente sobre isso que queremos falar nesse primeiro momento do dia 8/4: como um bezerro bem-criado tende a desempenhar melhor na recria e chegar melhor na engorda.

Sidnei Maschio: A qualidade do pasto também tem importância para se fazer uma recria mais eficiente?

Julia Zenatti: Sem dúvida. A pecuária ainda é predominantemente a pasto no Brasil, então a qualidade e o manejo eficiente da forragem são pautas que não podem faltar nesse evento. Um pasto bem manejado significa maior oferta de nutrientes e menor necessidade de suplementação, ou seja, redução de custos. Isso se bem manejado. O pasto é a base da recria no Brasil, e um erro muito comum é pensar que ele é "de graça". Na verdade, pastagem degradada significa custo alto e desempenho ruim.

E os tópicos são muitos, desde adubação, controle de lotação, taxa de suplementação. Por isso, para tratar desse assunto, vamos trazer a maior referência no assunto de pastagens para compor nosso time de palestrantes, o professor Moacyr Corsi.

Sidnei Maschio: O que é que mudou em relação à necessidade de suplementação dos animais na fase de recria?

Julia Zenatti: Sidnei, acredito que o grande avanço foi entender que a suplementação na recria não pode ser tratada como um custo, e sim como um investimento. Antes, muita gente apostava só no sal mineral. Hoje, com as pesquisas, a evolução das estratégias e os esforços das empresas de nutrição, o pecuarista tem ferramentas para garantir que o bovino mantenha os ganhos mesmo em épocas de seca.

A suplementação proteica e energética, ajustada à necessidade do animal, pode contribuir muito com o desempenho, mas não se pode fazer nada sem ter os números na ponta do lápis. E esse é o diferencial dos nossos eventos. Sempre que trazemos alguma abordagem técnica, fazemos questão de que ela esteja bem alinhada com o cunho econômico, afinal, o produtor tem que entender a viabilidade desses investimentos para tomar a decisão certa para o seu negócio.

Sidnei Maschio: Já tem gente no Brasil fazendo recria embaixo de pivô de irrigação, Julia? Compensa fazer isso?

Julia Zenatti: Sim, não é de hoje que temos produtores investindo nessa estratégia, especialmente em regiões onde a seca severa impacta muito a produtividade. Com irrigação, a recria ganha maior previsibilidade, porque o pecuarista mantém a oferta de forragem o ano todo, garante o ganho de peso e controla melhor a lotação da fazenda.

Mas o desafio principal é o custo inicial do sistema, que precisa ser muito bem planejado, fora o entendimento de qual a porcentagem do seu negócio que vai ser inserida nesse contexto de intensificação. Dificilmente veremos um grande sistema 100,0% debaixo de pivô.

Mas, em regiões com períodos secos prolongados, a recria irrigada pode ser uma alternativa viável, principalmente se associada a sistemas integrados com agricultura. Mas o mais importante é: a conta tem que ser feita.

Sidnei Maschio: Mudando agora o rumo da prosa. Para intensificação na terminação do gado para abate, como é que tem sido, nestes anos recentes, a evolução do tamanho da boiada confinada no Brasil, e como é que a gente está hoje comparado com os Estados Unidos, por exemplo?

Julia Zenatti: Nos últimos anos, o rebanho brasileiro confinado deu um salto significativo. Nós saímos de 5,8 milhões de cabeças confinadas destinadas ao abate em 2018 para cerca de 7,4 milhões em 2024. E os dados da última edição do Confina Brasil confirmam essa tendência: entre os pecuaristas entrevistados no ano passado, mais de 70,0% pretendiam confinar ainda mais cabeças em 2025.

Mas ainda estamos longe do modelo norte-americano. Apesar dos nossos colegas estarem vivenciando um cenário de menor rebanho histórico atualmente, lá, mais de 90,0% da boiada é terminada no cocho, enquanto aqui esse número ainda gira em torno de 15,0% a 18,0%. Para comparar, hoje o rebanho confinado brasileiro representa cerca de 10,0% do rebanho confinado estadunidense.

É que aqui, o confinamento segue, na maioria das ocasiões, como uma estratégia de ajuste de oferta, uma estratégia para a entressafra, uma ferramenta utilizada principalmente para ajudar na terminação e manutenção de bovinos jovens nas épocas de seca.

Mas, algo que devemos ressaltar é a profissionalização desses sistemas, que estão estruturados e especializados. A tendência é que essa ferramenta siga crescendo, com o objetivo de obter ganhos em eficiência, encurtar o ciclo e reduzir os impactos da sazonalidade climática, que é um grande desafio na produção extensiva.

Sidnei Maschio: Com a profissionalização do confinamento no Brasil, o que foi que mudou em relação à nutrição da boiada de cocho?

Julia Zenatti: Acho que tudo pode se resumir em melhorar a conversão e reduzir custos. A nutrição se tornou muito mais técnica, mais estratégica. Se antes o confinador trabalhava com dietas padronizadas, hoje ele usa modelos ajustados para cada lote, para otimizar os custos e reduzir desperdícios.

A gama de ingredientes também aumentou. Além do tradicional milho e do farelo de soja, vemos cada vez mais a adoção de ingredientes estratégicos, como coprodutos da agroindústria e aditivos que melhoram o aproveitamento dos nutrientes e protegem a saúde ruminal dos bovinos.

Mas o mais importante: a gestão nutricional está mais profissional, com acompanhamento de dados em tempo real e de forma individualizada. Para um tema tão importante, reservamos diversos espaços para debates voltados a dietas de alto desempenho, trazendo ao palco nomes como Thiago Bernardes, Júlio Barcellos, Juliano Rezende e Professor Luiz Gustavo Nussio.

Sidnei Maschio: Falando da estrutura física e das instalações do confinamento, como é que o pecuarista/confinador faz para escolher qual é o melhor modelo para o seu caso e para o seu poder de investimento?

Julia Zenatti: Minha mãe costumava falar: “você não é todo mundo”, e acho que isso se aplica para muita coisa né, Sidnei?

A escolha do modelo de confinamento depende de vários fatores: clima, disponibilidade de insumos, capacidade estática e, principalmente, de orçamento.

O segredo é encontrar um equilíbrio entre viabilidade econômica, manejo eficiente e conforto animal. Durante o evento no dia 10/4, Geraldo Martha da Embrapa Agricultura Digital, abordará a relação entre investimento e retorno no confinamento. Nosso foco é responder à pergunta: “Quais melhorias produtivas justificam esse investimento em infraestrutura?”

Sidnei Maschio: O encontro vai terminar com uma visita guiada em um dos mais importantes confinamentos aqui do estado de São Paulo. O que a gente vai ver lá e por que é importante não perder essa parte da agenda, Julia?

Julia Zenatti: Isso mesmo. O dia de campo acontece dia 11 de abril no Confinamento Monte Alegre (CMA), em Barretos, e é estruturado em duas modalidades: oficinas temáticas e visitas técnicas.

Os participantes que optarem pela visita técnica farão um tour pelas estruturas do Confinamento Monte Alegre, acompanhando de perto os principais aspectos da operação e conhecendo o modelo de operação desse confinamento que é referência.

Enquanto as oficinas de conhecimento visam trazer uma abordagem mais profunda, como um minicurso, sobre diversos temas, como gestão de pessoas, gestão de risco, oficina de churrasco, produção de insumos para o confinamento e um debate dinâmico sobre negociações com a indústria da carne.

E, após tudo isso, ainda finalizamos essa semana imersiva com um festival de churrasco com diversos cortes de carne e música ao vivo.

Para garantir sua vaga nesse evento, você pode se inscrever pelo site: www.confinamentoerecria.com.br  ou entrar em contato pelo telefone 17 981804961.

Julia Zenatti

Médica-veterinária, analista de Marketing da Scot Consultoria e coordenadora da expedição Confina Brasil

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