Nos primeiros quatro meses deste ano, o Brasil exportou menos de 2 milhões de toneladas de milho, muito abaixo dos 7 milhões a 10 milhões de toneladas que analistas e o próprio governo consideram ser necessário embarcar ao exterior este ano para evitar que os preços internos do grão afundem numa temporada de safrinha recorde.
Real valorizado em relação ao dólar, que deixa o milho brasileiro caro no exterior na comparação com outros produtores, e concorrência forte da Argentina, que voltou ao mercado depois de um ano de quebra na safra, explicam as exportações ainda aquém do esperado, segundo analistas. No mesmo período de 2009, as vendas externas do Brasil somaram 2,927 milhões de toneladas.
Como no ano passado, só o apoio oficial deve viabilizar os embarques, por isso, nesta semana, o governo já publicou portaria prevendo recursos para estimular o escoamento do milho. O Ministério da Agricultura não comentou ontem quais serão os instrumentos utilizados para apoiar a comercialização, mas no fim de março, a Secretária de Política Agrícola da pasta já indicava que poderiam ser destinados R$800 milhões para apoiar o milho com ferramentas como leilões de prêmio de escoamento da produção (PEP) e de prêmio equalizador pago ao produtor (Pepro). O primeiro funciona como um subsídio ao frete nas regiões de logística mais difícil, como o Mato Grosso, e o Pepro, como um subsídio ao produtor.
O governo deve fazer leilões semanais - cada um com ofertas de 1 milhão de toneladas (metade proveniente do Mato Grosso) - para retirar 15 milhões de toneladas do mercado.
Não à toa o Mato Grosso é a maior preocupação do governo. Lá estão os preços mais baixos do milho no país - em Sorriso, a saca sai a R$7,00, segundo o Insitituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). O Estado é também o grande responsável pela safrinha recorde no ciclo 2009/10, já que elevou sua área de plantio na segunda safra em 19,4%, para 2 milhões de hectares, conforme o Imea.
A estiagem nas lavouras mato-grossenses até derrubou a estimativa de produtividade, e a produção deve ficar em 8,738 milhões de toneladas no Estado, segundo a previsão mais recente do instituto. O número é 8,6% menor que a estimativa anterior, mas ainda supera em 2,7% a produção na safrinha de 2008/09.
“A produção em Mato Grosso pode ser um pouco menor, mas não deve ir a 8 milhões de toneladas. Além disso, as safrinhas do Paraná e de São Paulo estão perfeitas”, observa Paulo Molinari, analista da Safras&Mercado. “Se não tivesse ocorrido estiagem no Mato Grosso, a produção ficaria entre 10 milhões e 11 milhões de toneladas”, acrescenta. Maria Amélia Tirloni, analista de grãos do Imea, reconhece que, mesmo com quebra a safrinha do Mato Grosso “é uma safra muito grande”.
Segundo a última estimativa da Safras, a safrinha em todo o país deve alcançar 21,1 milhões de toneladas. A previsão da Conab é inferior, de 20,2 milhões de toneladas, mas ainda recorde.
Diante desses números, Molinari estima que seja necessário vender 7 milhões a 8 milhões de toneladas no exterior. Para
Rafael Ribeiro, da
Scot Consultoria, o número é um pouco maior, entre 8 milhões e 9 milhões de toneladas. Considerando a produção de milho na safra e na safrinha mais o estoque final, Ribeiro prevê um excedente de milho de 14 milhões de toneladas no país.
Num ponto os dois analistas concordam: sem ajuda do governo, os preços devem recuar. Só não caíram mais até agora porque parte dos produtores está sem pressa de vender, principalmente em Mato Grosso, aguardando as medidas do governo para apoiar a comercialização, diz Molinari. “A única coisa que pode fazer (o mercado) rodar é o PEP. Só assim para o mercado não entra em parafuso”, comenta.
Hoje, o preço do milho para exportação está em R$18,00 no porto de Paranaguá enquanto vendedores pedem R$17,00 no interior do Paraná, segundo a Safras A conta não fecha porque o frete entre a região oeste e o porto está na casa de R$4,00.
O milho brasileiro também é mais caro que os concorrentes. Enquanto em Paranaguá, a tonelada sai por US$ 175, no Golfo do México (referência para o milho americano), a tonelada está US$ 10 abaixo disso, segundo a Safras.
Fonte:
Valor Econômico. Agronegócios. Por Alda do Amaral - Colaborou Mauro Zanatta, de Brasília. 14 de maio de 2010.
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