Dono dos melhores resultados em faturamento e nível de endividamento entre as agroindústrias, o segmento de laticínios tem pela frente um cenário diferente dos demais. "Os preços ao produtor tendem a subir acima da inflação, o que vai elevar o custo de produção das indústrias. Mas se elas conseguirão repassar o aumento ao consumidor final é um mistério", afirma
Maurício Nogueira, analista da
Scot Consultoria.
Daniel de Figueiredo Felippe, diretor das áreas comercial e marketing da Indústria de Alimentos Nilza, preocupa-se com 2007. "Tivemos aumento nos custos com energia, mão-de-obra, medicamentos. Se os preços dos grãos subirem muito, o setor pode ter problemas, porque o varejo não está receptivo a aumentos de preço".
Felippe afirma que o câmbio não estimula as exportações, o que reduz alternativas de vendas. Segundo dados da Secex, até outubro o setor exportou o equivalente a US$145 milhões, 24,1% mais que em igual período de 2005.
Nogueira, da
Scot, observa que as indústrias viveram um ano favorável, com redução de custos e aumento dos investimentos. Os preços pagos ao produtor estão 7,5% menores em relação à média de 2005, enquanto as cotações dos laticínios no varejo recuaram, no máximo, 1,5%. "A indústria de laticínios pagou menos pelo leite e vendeu a um preço estável. Com isso conseguiu uma recuperação na receita", afirma Nogueira.
Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq-USP aponta para outubro preço médio (referente ao produto entregue em setembro) de R$0,5016 o litro, 1,85% abaixo da média histórica deflacionada dos últimos seis anos para o mês. A receita do produtor acumula no ano queda de 15,17%, em valores reais. Funcionam como fatores de pressão o aumento da oferta nacional em 0,86% no ano e o acirramento da concorrência.
Conforme levantamento da Serasa, as indústrias de laticínios, por sua vez, elevaram a receita em 10,9% no primeiro semestre em relação a 2005, e obtiveram rentabilidade sobre faturamento de 1,5%.
O resultado favorável estimulou investimentos, principalmente no Rio Grande do Sul, que elevou a captação em 14% neste ano, ante os 2,4 bilhões de litros captados o ano passado - crescimento motivado pela substituição das lavouras pela pecuária leiteira. "O leite importado do Mercosul também passa por lá e o excesso de oferta provocou queda de 14% nos preços da região", diz
Nogueira, da
Scot.
Para Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), além dos investimentos já anunciados por empresas como Nestlé, Embaré e Danone, destaca-se a corrida das cooperativas. Neste ano, a Coorlac, de Erechim (RS), anunciou aporte de R$30 milhões em uma fábrica na região. A CCGL, da Avipal, também investe R$90 milhões em uma fábrica em Cruz Alta (RS). "As cooperativas respondem por 40% do setor, mas devem a alcançar 50% no curto prazo", calcula.
Ele cita ainda aportes recentes da Centroleite (que reúne 13 cooperativas em Goiás), da Cooperativa Central dos Produtores Rurais (CCPR), dona da marca Itambé, e da Coopercentral Aurora.
Fonte:
Valor Econômico. Agronegócios. 17 de novembro de 2006.
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