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Scot Consultoria

Mercado aquecido estimula exportação e eleva preço do leite


Quinta-feira, 24 de maio de 2007 - 14h43

Um cenário inédito no mercado internacional, com preços atingindo patamares recordes e altas de mais 100% em um ano provocam uma reviravolta no setor de leite, com reflexos importantes no Brasil. Depois de um ano em que o dólar desvalorizado inibiu as exportações brasileiras de lácteos, a expectativa é que as vendas externas alcancem US$200 milhões, um valor também recorde, este ano. E a exportação maior, que juntamente com a entressafra gera disputa entre as indústrias pela matéria-prima, já provoca alta nos preços ao produtor brasileiro e do leite nas gôndolas dos supermercados. Demanda maior e oferta crescendo num ritmo mais lento explicam a alta do leite no mercado internacional, segundo especialistas do setor. A "fome por leite", expressão usada pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV), Wellington Braga, vem principalmente da Ásia, de países como China e India, além de África e América Latina. A demanda maior nessas regiões deve elevar o consumo mundial em 3%, enquanto a produção, de 600 bilhões de litros em 2006, deve crescer entre 1% e 2%, conforme estimativas repetidas por analistas. Se há "fome por leite", alavancada pelo crescimento econômico em alguns países, há recuo ou estagnação na produção entre os principais produtores e exportadores mundiais. Daí o desequilíbrio que levou o preço do leite em pó, referência Europa Ocidental, a oscilar entre US$4.500 e US$4.950 por tonelada atualmente, conforme o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Na mesma semana de 2006, o produto estava cotado entre US$2.250. A Austrália, que amargou vários períodos de seca, deve ter uma queda de 4% na produção enquanto a Nova Zelândia, outro importante produtor, tem restrições para ampliar a oferta devido à sua pequena área, observa Marcelo Costa Martins, assessor técnico da Comissão Nacional da Pecuária de Leite da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Além disso, a redução dos subsídios na União Européia (à produção e à exportação) também afeta a oferta de leite no bloco, que não consegue ampliar os excedentes exportáveis, acrescenta. A UE tem 35% das exportações mundiais, um mercado que movimenta 50 bilhões de litros de leite por ano. Para completar, os EUA encontram dificuldades para ampliar a produção de leite devido à pressão de custos por causa da alta do milho usado na ração. "Abriu-se um vão no mercado internacional, e o Brasil pode ampliar suas exportações de lácteos", afirma Martins. Os números das exportações de janeiro a abril mostram estabilidade em relação a igual período de 2006 - foram US$51,4 milhões - , mas o setor volta a ter superávits. Em abril, quando foram exportados US$12,6 milhões, o saldo comercial foi de US$2,9 milhões, segundo os dados da Secex citados por Martins. "Devemos voltar a registrar superávit no ano", prevê. Em 2006, a balança dos lácteos teve déficit de US$16,2 milhões, em grande parte atribuído ao real valorizado. No cenário de preços internacionais elevados para o leite, até o efeito negativo do câmbio se reduz. "Exportamos US$21 milhões no primeiro quadrimestre, o melhor resultado para o período desde 2002 [quando a empresa foi criada]", comemora Alfredo de Goye, presidente da trading Serlac. Para ele, o mercado de leite entrou num "círculo virtuoso", e os preços tendem a se estabilizar em patamares mais altos, entre US$3.500 e US$4.000 por tonelada, não mais retornando à faixa dos US$2.000. Na cooperativa mineira Itambé, a previsão é de que as vendas externas atinjam US$50 milhões este ano, número inédito. Foram US$34 milhões em 2006. "Em 2006, exportamos pouco por causa do dólar, mas com a alta dos preços internacionais, a Itambé voltou a ter oportunidade de exportar", diz o vice-presidente da cooperativa, Jacques Gontijo. Até abril, a empresa vendeu US$20 milhões ao exterior, ante US$8 milhões em igual período de 2006. A elevação dos preços internacionais do leite já afeta os resultados de grandes multinacionais, como a americana Hershey, que, este mês, reduziu sua previsão de lucro por causa da alta da matéria-prima. Por aqui, o interesse em exportar mais lácteos por causa dos mercado externo aquecido gera disputa pelo leite entre as indústrias. Essa competição e o período de entressafra do leite fizeram o preço ao produtor nacional subir 18,5% desde janeiro, para a média de R$0,559 o litro em maio (produto entregue em abril), conforme estimativa prévia da Scot Consultoria. No mercado spot, o leite atingiu o preço médio de R$0,76 o litro este mês (prévia), o maior valor desde que a Scot iniciou esse levantamento, em dezembro de 2002. No caso do leite longa vida, o preço ficou em de R$1,51 o litro no atacado este mês, a maior cotação desde setembro de 1998, quando o levantamento foi iniciado. "Nunca vi nada parecido", diz Laércio Barbosa, vice-presidente da ABLV, sobre o atual quadro no mercado mundial de leite. Segundo ele, empresas que exportam leite em pó disputam matéria-prima no mercado. Além disso, algumas que trabalham com longa vida e leite em pó têm priorizado a produção do último para aproveitar os altos preços internacionais. Diante disso, há ociosidade na indústria de longa vida, que têm dificuldade para comprar leite, acrescenta Wellington Braga, presidente da associação. Os estoques do produto também diminuíram. Assim, num momento em que o aumento da renda eleva o consumo no varejo no Brasil, os preços do leite longa também estão em alta. Segundo Barbosa, desde março, o produto já subiu até 30% no varejo e há regiões com ofertas a até R$1,70 o litro. "O leite pode romper a barreira dos R$2,00 ao consumidor", afirma. Com tal cenário, a expectativa da ABLV é de que o preço do longa vida se estabilize em patamares mais elevados. Fonte: Valor Econômico. Agronegócios. Por Alda do Amaral Rocha. 24 de maio de 2007.
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