A margem dos frigorficos brasileiros deve cair em 2010 com a valorizao do real e a retrao dos mercados dispostos a pagar mais caro pela carne. Atualmente, a cotao do boi gordo brasileiro, em dlares, s perde para a carne norte-americana. A mesma tendncia comea ser seguida pelo mercado de aves e sunos.
Em contrapartida aos preos altos, a rentabilidade da indstria segue em queda e a meta de recuperao para o prximo ano j esbarra em obstculos. A expectativa de termos que conviver, no prximo ano, com o real valorizado somente refora a urgncia da imediata abertura de novos mercados com preos mais atraentes, afirmou Pedro de Camargo Neto, presidente da Associao Brasileira dos Exportadores de Carne Suna (Abipecs).
As exportaes de carne suna em outubro ilustram bem o cenrio de reduo das margens: apesar da alta expressiva de 34,31% em volume, para 63,03 mil toneladas, em valor, as vendas externas caram 9,67%. Segundo Camargo Neto, os preos continuam deprimidos, refletindo as crises financeira e setorial, que atingem os principais pases produtores. Ele destaca ainda que a Unio Europeia, EUA e Canad atravessam crise no setor de sunos parecida do Brasil, vendendo a carne mais barato, o que torna o contexto de apreciao do Real mais complicado. Estamos claramente perdendo competitividade. Nesse cmbio, nosso produto j est mais caro que o norte-americano, disse o presidente da Abipecs. Ele entende que para avaliar uma tendncia para 2010 necessrio que o governo altere a poltica cambial. Se deixar por conta do mercado vai ser um ano muito difcil, salientou.
O pecuarista Flvio Telles de Menezes, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB) e atual membro do conselho, afirma que entre os produtos agrcolas brasileiros, a carne s no est sendo to afetada pelo cmbio quanto a soja. A negociao possvel tentar fazer o preo subir em dlar que o que a indstria frigorfica est fazendo, disse.
A estratgia de avanar nos preos em dlar tambm pode atrapalhar as exportaes brasileiras. Isso porque ao longo da crise financeira mundial, o Brasil viu seus principais mercados importadores - Rssia e Unio Europeia - se retrarem. Alm da importante quantidade de carne comprada, esses mercados costumavam pagar mais caro pelo produto brasileiro.
De acordo com Alexandre Mendona de Barros, professor da Fundao Getulio Vargas (FGV) e scio da MB Agro, os volumes exportados j esto em paridade com os do ano passado e podem ser considerados bons. No entanto, o padro de remunerao da carne que est sendo vendida baixo. O Brasil assegurou mercados, mas cresceu em pases pobres, que no dispostos a pagar um preo alto pela carne, avaliou Mendona de Barros.
Segundo levantamento do Centro de Estudos Avanados em Economia Aplicada (Cepea), pelo segundo ano consecutivo, a arroba do boi acumula queda em outubro - neste ano, o indicador recuou 5,6%. No encerramento do ms, esteve a R$75,16, o que significa retornar ao patamar nominal de fevereiro de 2008. O fechamento de outubro 14,4% inferior ao de outubro do ano passado (em termos nominais).
Os pesquisadores da entidade avaliam ainda que nos ltimos dias, a presso exercida, sobretudo pelas escalas alongadas de frigorficos, tem levado pecuaristas a aceitar os valores ofertados por compradores, ainda que considerem as ofertas insatisfatrias.
Compensao
Se do lado das vendas a situao dos pecuaristas est complicada, do lado das compras as relaes de troca esto melhores para os criadores. De acordo com levantamento da
Scot Consultoria, os pecuaristas da Bahia, Mato Grosso, Paran e Par tm atualmente um poder de compra maior do que no mesmo perodo do ano passado, considerando a venda de um boi gordo de R$16,5 arroba e a compra de bezerros recm-desmamados.
Com a chegada do perodo de desmame, a oferta de bezerros deve aumentar e, como o mercado no est comprador, a expectativa que os preos caiam, melhorando o poder de compra dos produtores com a venda do boi gordo, avalia
Maria Gabriela Tonini, analista da
Scot.
Fonte:
DCI. Agronegcios. Por Priscila Machado. 10 de novembro de 2009.
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