A lista apresentada ontem pelo Ministério da Agricultura brasileiro a autoridades da área de sanidade da União Européia, com as propriedades produtoras de gado bovino consideradas aptas a exportar ao bloco, tem entre 2.600 e 2.800 estabelecimentos, apurou o Valor junto aos órgãos de defesa de seis Estados e fontes do setor exportador. A relação com as propriedades foi apresentada pelo secretário de Defesa Agropecuária do ministério, Inácio Kroetz, a uma equipe do Directorate General for Health and Consumer Affairs (DG Sanco), que não escondeu que esperava uma lista menor. Procurado pelo Valor, Kroetz não deu entrevista.
Segundo as fontes ouvidas pela reportagem, os europeus teriam insistido no número de 300 fazendas, como foi aventado em dezembro passado, quando a UE exigiu a lista do Brasil como forma de restringir a entrada de carne bovina brasileira em seu mercado. A decisão foi tomada depois que uma missão européia que visitou o Brasil encontrou falhas no sistema de rastreabilidade do gado, o Sisbov.
A avaliação no setor de carne bovina no Brasil é que a União Européia não tem justificativa técnica para alterar a lista agora nem prerrogativa para isso, já que em sua decisão de dezembro definiu que o Ministério da Agricultura seria o responsável por elaborar a relação.
Pelo cronograma acertado, os europeus teriam de publicar no diário oficial da UE uma lista com as propriedades habilitadas no próximo dia 31. O cronograma prevê ainda que técnicos da UE virão ao Brasil em março para auditar as fazendas da lista. Após as inspeções, a lista, que a UE chama de provisória, poderá ser revista.
No total, há 6.780 propriedades ou ERAs (estabelecimentos rurais aprovados) nas regiões do país habilitadas para exportar carne bovina à UE. Das 2.651 de Goiás, "mais de 1.000" foram consideradas "conformes", segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Agricultura goiana. Nem todas as propriedades, porém, foram visitadas.
Em Minas Gerais, de 1.710 ERAs, 1.237 foram aprovadas para exportar à UE, disse o secretário de Agricultura do Estado, Gilman Viana. Todas receberam equipes para auditorias. "Quem não foi aprovado, poderá fazer os ajustes necessários", disse Viana, lembrando que a lista do ministério poderá passar por modificações, com a exclusão ou inclusão de propriedades periodicamente.
No Mato Grosso, com 1.793 fazendas nas áreas habilitadas para exportar à UE, 494 propriedades foram visitadas e 140 consideradas "conformes", segundo Décio Coutinho, presidente do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado. Ele disse que o número de fazendas visitadas foi baixo porque o órgão estava sem orçamento e só pôde se juntar às equipes do ministério nas inspeções uma semana antes do prazo final para entrega da lista.
No Rio Grande do Sul, 470 das 546 propriedades que foram vistoriadas pelos técnicos foram habilitadas, segundo o diretor do departamento de produção animal da secretaria de agricultura do RS, Cláudio Dagoberto Bueno.
Ele disse que as propriedades que não foram aprovadas apresentaram, em geral, inconsistências na documentação, como falta do registro de movimentação do bovino e anotações de atividades realizadas manejo dos animais. Houve casos também de número de animais na propriedade diferente do número que aparece no Sisbov.
Em Santa Catarina, apenas 32 propriedades foram vistoriadas. Inicialmente, o Estado tinha 40 previstas, mas logo tirou oito delas porque não chegaram a ter a auditoria das certificadoras no tempo hábil, segundo Edson Veran, presidente da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc). Das 32 propriedades, apenas 2 estavam na lista entregue pelo ministério em Bruxelas, de acordo com o superintendente do ministério em SC, Francisco Van de Casteele. Ele disse que há possibilidade que outras façam parte da lista que será publicada no diário oficial da UE, no dia 31. No Espírito Santo, de 40 fazendas vistoriadas, 23 foram incluídas até sexta-feira, segundo Camila Cortez Firmino, da Superintendência do Ministério no Estado.
Os animais das propriedades incluídas na lista para a UE devem se valorizar em relação aos demais, segundo analistas e frigoríficos. Estima-se que possa haver uma diferença de R$10 na arroba. "O boi para a UE vai subir e os outros vão cair", disse um dono de frigorífico. Segundo a Scot, a arroba do boi rastreado estava ontem em R$70 em Cuiabá (MT).
Fonte: Valor Econômico. Agronegócio. Por Alda Amaral Rocha e Vanessa Jurgenfeld. 29 de janeiro de 2008.