Pressionada pela valorização do real e perda de competitividade no exterior, a carne bovina enfrenta na produção a maior desvalorização dos últimos sete meses, consequencia da superoferta no mercado interno. Em Minas Gerais, a arroba do boi não passa dos R$75,00, enquanto o esperado era que os preços nesta época do ano atingissem R$80,00. O movimento no mercado futuro segue também confirmando a pressão de baixa, com negócios sendo fechados a R$78,00.
A desvalorização do produto nacional no mercado externo foi de 16% no último mês, comparado com igual período do ano passado. Basta lembrar que em março a remuneração para cada US$1 mil negociado no mercado externo era de R$2,3 mil, enquanto agora está em R$1,7 mil.
Na ponta do varejo, o consumidor ainda não sentiu no bolso a queda dos preços. Segundo o presidente da Associação Mineira dos Supermercados (Amis), Adilson Rodrigues, a maior oferta do alimento favorece as promoções, com descontos entre 10% e 20%. “Nossa expectativa é de que a partir de novembro os preços comecem a se estabilizar em um patamar mais baixo.” A analista de agronegócios da
Scot Consultoria, Gabriela Tonini, reforça que outubro deve fechar com uma queda de valores nas exportações ainda mais acentuada que setembro, o que explica a oferta doméstica aquecida.
As chuvas, que este ano chegaram mais cedo, também são um componente extra para a desvalorização da carne bovina. O rebanho, que seria mantido confinado por mais dois meses já começa a abastecer os frigoríficos. “Confinamento não combina com chuva. O manejo fica complicado em estabelecimentos a céu aberto”, explica o coordenador de pecuária da Emater-Minas, José Alberto de Ávila Pires.
Preços ao consumidor
A decoradora Maria da Paixão Alencar desembolsa por semana cerca de R$ 60 na compra de carne para alimentar uma família de seis pessoas. “Os preços estão estáveis e as promoções, mais frequentes. O único corte que caiu de preço foi o filé, de R$19,00 para R$16,00”, comenta. A estabilidade percebida pela consumidora deve começar a variar na próxima semana. Segundo Eurípedes da Silva, presidente do Sindicato da Indústria da Carne (Sinduscarne), o primeiro corte a baratear vai ser o de segunda.
“Os cortes nobres são mantidos em estoque para atender a demanda do fim do ano. Mesmo que a carne de primeira não caia de preço, ela não vai encarecer. O mínimo que o consumidor vai lucrar será a inflação. Vai pagar o mesmo preço que o ano passado”, garante.
A deflação que atinge a produção pode chegar com mais ou menos força para o consumidor, dependendo do bolso do produtor rural. “Com as finanças equilibradas, o produtor pode manter o boi no pasto por mais tempo, não cedendo à pressão do mercado. Esse movimento pode segurar a depreciação dos preços”, afirma Ávila. Nos últimos meses, o comerciante Sílvio Passos, que faz compras de carne quinzenalmente, passou pelo açougue sem sustos. “Sempre pago o mesmo valor, entre R$50,00 e R$60,00. Não tenho notado reajustes nos preços.”
Levantamento do site Mercado Mineiro mostra que este mês o filé mignon ficou 5,09% mais barato em relação ao ano passado. Já o acém barateou 8,55%. A variação de preços entre estabelecimentos chama a atenção. A fraldinha apresenta uma diferença que chega a 98,66%. O menor preço encontrado foi de R$5,99 e o maior, R$11,90. No caso da alcatra, a diferença atinge 77,75%, variando entre R$8,99 e R$15,98.
Fonte:
Estado de Minas. Por Marinella Castro. 29 de outubro de 2009.
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