A dificuldade de oferta está fazendo produtores e frigoríficos buscarem animais fora de seus Estados e do Brasil para repor a produção. A Bahia recebe pecuaristas de outras localidades atrás de seus bezerros, enquanto as indústrias de São Paulo tiveram de aumentar a compra de bovinos fora do Estado. Mas a pior situação é no Rio Grande do Sul: frigoríficos e produtores importam animais do Uruguai.
"Indústria e pecuarista estão precisando ir cada vez mais longe atrás do gado", diz o analista Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria. Segundo ele, em decorrência do ciclo pecuário está sendo comum achar frigorífico com 40% de ociosidade, uma média de entressafra. Por conta disso, de acordo com o analista, as indústrias de São Paulo, que geralmente compram até 50% dos animais dos estados vizinhos, estão com 90% da escala fornecida de outras localidades. "E quem trabalha com recria e engorda também está e tendo de andar atrás do gado, que nem o frigorífico, além de pagar mais por isso".
De acordo com levantamento da Scot Consultoria, desde o início do ano, na média brasileira o boi gordo acumula alta de 10,89%, enquanto os animais de reposição subiram mais: o bezerro 24,87% e o boi magro, 27,06%, indicando a dificuldade de oferta. No acumulado de 12 meses, o boi gordo aumentou 43,48%, o bezerro 43,20% e o magro, 49,52%. "O Brasil todo está com falta de animal para reposição", afirma Maria Gabriela Tonini, da Scot Consultoria. Ela lembra que nos últimos anos, com os preços baixos, o pecuarista se desfez de matrizes - o descarte chegou a mais de 40% do total dos abates. Situação que em 2007 se reverteu: o abate de matrizes caiu 7% e o de machos cresceu 6,8%.
Relação de troca
Segundo dados da Scot Consultoria, é na Bahia onde o produtor está conseguindo com o boi gordo ter a melhor reposição do País. O animal com 16 arrobas compra 2,59 bezerros e 1,58 bovinos magros. "Isto porque a oferta está maior", afirma Maria Gabriela. O gerente de Programas Especiais do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) da Bahia confirma que, por conta disso, tem muito pecuarista de Minas Gerais, Goiás e Espírito Santo buscando animal nas fazendas baianas. Segundo ele, o aumento de oferta ocorre porque eles estão em um período de "seca verde": há pasto, mas não há água para os bovinos. "O pessoal está precisando se desfazer de animais para poder não morrer de sede e, além disso, há poucos frigoríficos para a oferta", conclui.
Situação inversa ocorre no Centro-Oeste. A pior relação de troca para a compra de bezerro no País é em Goiás: 1,71. Para o boi magro é em Mato Grosso do Sul: 1,24. Maria Gabriela explica que o que ocorre nestes dois estados é que o preço dos animais de reposição está subindo mais que o do boi gordo. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, um bezerro de um ano é vendido a R$720, enquanto na Bahia custa R$400. Paulo Molinari, da Safras & Mercado, lembra que tem boi magro a R$1,1 mil no Centro-Oeste." Há dificuldade no Brasil todo. E, no Rio Grande do Sul e em São Paulo está impossível", afirma.
O resultado é a importação de animais. O presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura do Rio grande do Sul (Farsul), Carlos Simm, diz que já entraram, desde o início do ano, mais de 10 mil bovinos - incluindo animais para a pecuária leiteira. Ele lembra que o pecuarista está retendo fêmea para ter mais bezerro - a relação no abate está 30% a 70% - mas ainda não foi suficiente para aumentar a oferta. Com menos animais, a capacidade ociosa da indústria local é de 45%. O diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de carnes do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Zilmar Moussalle, diz que as empresas também estão comprando o produto final de outros estados.
O presidente do frigorífico Mercosul, Augusto Cruz, diz que 10% do abate no estado já é de gado uruguaio. Segundo ele, com a maior disponibilidade de oferta naquele país, o animal chega a valores até 10% inferiores do gaúcho. "A compra é mais por falta de oferta que por conveniência de preço", afirma. Cruz diz que a importação foi a solução para manter uma escala mínima de abate no Estado. Segundo ele, a falta de matéria-prima fez com que a empresa precisasse mudar o funcionamento de suas plantas, inclusive de outros estados: algumas apenas desossando, enquanto outras estão abatendo. O presidente da empresa diz que nas unidades do Paraná e Centro-Oeste a capacidade está mais alta, apesar de se pagar também mais por este animal.
"Se não tivesse oferta lá, não teríamos onde buscar, pois a distância é proibitiva. E trata-se de outro gado", lembrando que no Sul os animais são de raças européias.
Fonte: Gazeta Mercantil. Agronegócio. Por Neila Baldi. 15 de maio de 2008.
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