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Scot Consultoria

Arroba do boi a R$100. Como isso muda tudo na pecuária


Segunda-feira, 14 de julho de 2008 - 12h51

No faz tanto tempo assim. Um ano atrs nessa mesma poca, no havia quem ousasse falar em preos recordes pagos pela arroba do boi. Ao contrrio de hoje, em que pecuaristas traam suas estratgias para fazer bombar os seus rebanhos, o cenrio era outro. Preos baixos, criadores desmotivados e um caminho de problemas para resolver: custo de produo em alta por causa do dlar baixo, Estados fechados em funo dos focos ancestral de febre aftosa, Unio Europia pressionando o sistema nacional de rastreabilidade e tantas outras contas do rosrio de reclamaes a que o setor tinha direito. Mais eis que o Brasil chega a junho de 2008 prestes a ver os maiores preos pagos na histria por uma arroba de boi. Em relao a junho do ano passado, o aumento foi superior a 67% e, segundo especialistas, a tendncia continuar subindo rumo aos R$100,00. Por trs desse fenmeno, houve uma revoluo tecnolgica, liderada por pecuaristas como Carlos Viacava, do municpio de Paulnia, no interior paulista. Criador de nelore mocho, ele fornece tourinhos para os mais importantes rebanhos brasileiros. Esses animais, cruzados a campo com vacas mestias, fazem animais melhorados, que so abatidos mais cedo. Com mais animais precoces, o giro fica mais rpido e todos ganham dinheiro. a gentica de ponta chegando ao bife, define Viacava. E o aquecimento do setor est sendo sentido. A procura por animais tem sido enorme, todos querem ampliar o rebanho explica. Segundo o consultor Alcides Torres Junior, da Scot Consultoria, o fenmeno tem explicao. De um lado, a demanda global por protena animal, puxado por paises como China, no para de crescer. Alm disso, por causa dos preos depreciados num passado recente, muitos criadores, em vez de segurar suas matrizes para gerar mais bezerros, mandaram animais para o abate independentemente do sexo. Menos fmeas no campo, menos nascimentos. Com uma oferta reduzida de boi gordo pronto para o abate, os preos comearam a subir e no vo parar to cedo. Ainda existe muito pecuarista matando suas piores matrizes e trocando por fmeas melhores, por isso o problema da oferta no ser solucionado to cedo, atesta o consultor Paulo Molinari, da consultoria Safras & Mercado. Prova disso o pecuarista Antonio Balbino, do municpio de Correntina, regio de barreiras, no extremo oeste da Bahia. Balbino, dono de dez mil cabeas de gado, faz as contas. Este ano ele quer entregar pelo menos duas mil cabeas para o frigorfico da regio. Vai abater algo em torno de 500 matrizes que falharam na ltima estao de monta e no conseguiram emprenhar. Perguntado se ao abater fmeas ele no estaria dando um tiro no p, ele responde: Vaca ruim come o mesmo que vaca boa, ento no podemos nos dar esse luxo. Mesmo longe dos grandes centros pecurios, Balbino faz de sua propriedade um verdadeiro laboratrio e aplica tudo o que h de mais moderno no que diz respeito a boi de capim: rotao de pastagem, prova de ganho de peso e at desenvolve animais com cruzamentos que ele experimenta em sua regio. Uma dessas invenes o guzenel, mistura de nelore com guzer. O ganho de peso foi bem superior e como nosso negcio carne, no podemos nos preocupar com a questo de raa, avalia. Os preos pagos na Bahia sofrem desgio em relao praa paulista, que pode chegar at R$30,00, dependendo dos animais. Mas tambm fao a venda de tourinhos e estou ganhando dinheiro com isso, diz. Sua propriedade fatura mais de R$3 milhes ao ano com venda de animais para abate e melhoramento a campo. Mas, a verdade que a pecuria brasileira mudou muito na ltima dcada. Considerando uma espcie de Meca da pecuria nacional, o estado do Par tem sido responsvel pelo maior fluxo de investimentos quando o assunto boiada. As grandes vantagens competitivas do Par esto no baixo custo de produo, cerca de 20% menor do que em regies como sudeste e centro-oeste, no clima favorvel e no baixo preo das terras, estimadas em R$3 mil a R$4 mil o hectare. A pujana do setor tem atrado investimentos para aquelas terras. At mesmo a Tortuga, empresa especializada em suplementao animal, abriu um centro de distribuio na regio pecuria. um lugar estratgico, diz Max Fabiane, presidente da empresa. Mas no so apenas os grandes grupos que tm feito bons negcios. Gente que chegou a dcadas tambm desfruta dos bons tempos do boi naquelas terras. o caso de Joo Oliveira Costa, mineiro de Governador Valadares, que h 34 anos partiu com destino ao Par em busca de fortuna. E conseguiu: Vivemos um momento de produo mais profissional e hoje s no ganha dinheiro aqui quem no quer, pondera. Suas quatro fazendas abrigam dez mil cabeas em quatro mil hectares. Angus e nelore do origem ao cruzamento industrial, ainda pouco explorado naquelas bandas, algo ainda pouco usado entre os pecuaristas da regio. Nosso tempo de abate mdio de 24 meses, bem menor do que a mdia estadual, de 30 meses. Em 2007, ele vendeu mais de duas mil cabeas, o que rendeu aproximadamente R$2 milhes. E foi exatamente isso que fez o pecuarista Nedson Rodrigues Pereira, de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Mesmo vivendo na capital da pecuria extensiva, ele resolveu partir para um sistema mais sofisticado. Vendo novilho superprecoce, abatido aos 13 meses, com peso de boi adulto, diz, orgulhoso. Com um manejo mais caro, utilizando suplementao alimentar e confinamento, Rodrigues define seu negcio como pecuria de preciso. No h espao para erro avalia. Num ciclo mdio de 30 meses, ele produz trs animais com 17,9 arrobas. Apesar de seus custos de produo serem mais elevados, ele garante que o processo d retorno. S no pode errar. Por ano ele entrega 450 cabeas e diz que pretende ampliar a produo, mas sem perder tecnologia. Por entregar um animal mais jovem, ele bonificado pelos compradores. Outro modelo de sucesso pode ser encontrado na CFM Agropecuria, que mantm um rebanho com nada menos que 80 mil cabeas, em So Jos do Rio Preto (SP). Segundo o coordenador de pecuria Luiz Adriano Teixeira, produzir com tecnologia a nica forma de conseguir agregar valor atividade. Voc no pode depender de preo, por isso tem que ter escala e custos baixos diz. Intensificar, alis, o caminho que todo pecuarista deveria seguir segundo a analista Gabriela Tonini, da Scot Consultoria. Em estudo realizado, ela demonstra que animais em sistema mais intensivo, com trs cabeas por hectare em vez de apenas uma, conforme a mdia nacional (ver tabela), o resultado economicamente superior. Para ela, a pecuria nunca ser to rentvel quanto a agricultura, mas, em compensao, os riscos so muito menores. A agricultura est para a bolsa de valores assim como a pecuria est para a poupana, define. Mas, como aconteceu no ano passado, a poupana pode ser uma boa aplicao financeira. Sobre o preo do boi? Esses preos vo se manter firmes, no mnimo, at 2010, avalia. O mercado agradece. O boi sumiu Novo levantamento do IBGE pode mostrar rebanho brasileiro menor Em meio s altas nos preos, um dado curioso intriga frigorficos e analistas. Se o Brasil possui mesmo um rebanho de 200 milhes de cabea de gado, onde esto esses bichos? O Pas vive uma entressafra como nunca se viu desde que se estabeleceu como grande produtor de carne na dcada passada. Muitas matrizes foram abatidas e estamos sem pea de estoque, brinca Gabriela Tonini, da Scot Consultoria. H em andamento um censo agropecurio. Em informaes preliminares extra-oficiais, tcnicos do IBGE tm falado em um rebanho de aproximadamente 165 milhes de cabeas. Caso o nmero se confirme, possvel entender porque o boi sumiu. Fonte: Isto Dinheiro. Agronegcios. Por: Ibiapaba Neto. 14 de julho de 2008.
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