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Scot Consultoria

Queda das commodities pode reduzir safra de verão


Terça-feira, 19 de agosto de 2008 - 15h28

O novo ciclo de baixa na agricultura, com a reversão de preços dos grãos, pode inviabilizar os lucros dos produtores já nessa safra de verão. Associações do setor já estão revisando suas estimativas, prevendo migração de cultura e queda na produtividade como resultado da fuga dos fundos de investimentos desses mercados. Em apenas um mês, a queda nas cotações já é bastante expressiva. A média mensal dos preços do milho recuou de R$26,28 em julho para R$24,00 este mês. No caso da soja a retração é ainda mais acentuada, de R$53,57 em julho para R$45,00 no mês de agosto. A previsão dos analistas é que para aqueles que não adotaram mecanismos de proteção a crise seja pior que a observada em outros períodos, já que desta vez vem acompanhada de novos fundamentos, como a fuga dos fundos de investimento dos mercados futuros do setor, e da forte alta dos custos com insumos. Em dólar, o rendimento do produtor é ainda mais depreciado. Hoje o exportador trabalha com um câmbio de R$1,57, em média. Em setembro de 2007 esse valor era de R$1,90. Para o professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, ainda que a maioria dos produtores não fique em situação de endividamento eles terão uma sensível redução de lucros nessa safra. “Isso se deve ao fato de que as despesas de produção foram feitas num momento de alta dos preços dos fertilizantes, sementes e defensivos agrícolas, e terão suas receitas em momento de queda dos preços dos produtos agrícolas no mercado internacional”, avalia. Segundo o especialista, o Brasil deve manter o foco nos países emergentes já que, mais que nos Estados Unidos, a desaceleração das economias do Japão e Europa deve reduzir o consumo de alimentos na região. A Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja) já espera um rendimento inferior ao obtido na safra 2007/2008. Ainda que a entidade não espere uma redução de área de plantio, já espera que a safra 2008/2009 tenha uma produtividade inferior. Isso porque a um mês do plantio cerca de 30% dos fertilizantes não haviam sido comprados. A perspectiva de preço também não é das melhores e a posição vendedora dos fundos aumenta a cada dia. Em janeiro de 2008 a diferença entre os contratos comprados e vendidos batia na casa dos 140 mil e hoje está na casa dos 80 mil. De acordo com Maria Amélia Tirloni, analista de grãos e fibras, a desvalorização dos preços deixou os participantes de mercado ainda mais reticentes. “Isso não só impossibilitou os negócios como também as próprias indicações de preços foram apenas uma referência”, destacou. A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) divulgou um levantamento no qual prevê uma nova redução da área plantada no País. A nova estimativa aponta uma redução de 9,6%, ante a previsão de 20% apresentada no estudo anterior, feito num período de alta para os grãos. De acordo com o presidente da Abrapa, Haroldo Cunha, foi justamente a queda dessas commodities que fez aumentar a intenção de plantio de algodão para a próxima safra. A inflação medida pelo Índice Geral de Preços (IGP) entre os dias 11 de julho e 10 de agosto pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) já mostra os reflexos da queda das commodities. O índice desacelerou para 0,38%, ante a alta de 2% registrada na medição de julho. O item Matérias-Primas Brutas foi o que mais influenciou na forte desaceleração, registrando deflação de 1,87% este mês ante a inflação de 4,54% de julho. Neste subgrupo, destacam-se os itens soja em grão (12,88% para -6,51%), bovinos (11,15% para 0,72%) e milho em grão (6,93% para -3,73%). Os alimentos se transformaram, em pouco tempo, de vilões da inflação em um dos principais motivos para a queda dos preços. O Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S) anunciado ontem caiu de 0,44% para 0,34%, e o grupo alimentação impulsionou o recuo: teve deflação de 0,06%, ante alta de 0,4% na medição anterior. Em apenas um mês, a queda das cotações das commodities agrícolas já é expressiva. A média mensal dos preços do milho recuou de R$26,28 em julho para R$24,00 este mês. No caso da soja, a retração é ainda mais acentuada, de R$53,57, em julho, para R$45,00, neste mês de agosto. Esta queda nos preços deve provocar uma produção agrícola menor na safra 2008/2009. Como a do algodão, que deve reduzir, em 9,6%, a estimativa de área plantada, e a soja terá menor produtividade. Produtores que não adotaram mecanismos de proteção, garantem os analistas, conviverão com uma crise maior que a observada em outros períodos, já que desta vez as perdas virão acompanhadas de novidades, como a fuga dos fundos de investimento dos mercados futuros de commodities e a forte alta dos custos com insumos, como os fertilizantes. As carnes estão na contramão dessa tendência, já que deverão manter os preços em alta. No caso dos bovinos, a elevação se dará pela redução na oferta de animais. Além disso, a Austrália anunciou ontem que espera reduzir suas vendas externas do produto em 5% em 2009, principalmente por problemas climáticos que prejudicam as pastagens. A possibilidade de cobrir essa lacuna, para os brasileiros, estará no Oriente Médio e em países como Filipinas e Cingapura. Esses mercados representam 10% das exportações australianas. “A perspectiva positiva é aparecer em mercados mais marginais, ou seja, para onde os australianos exportam menos volume, mas que são regiões importantes para o Brasil, como o Oriente Médio”, esclarece Gabriela Tonini, consultora da Scot. Fonte: DCI. Agronegócios. Por Priscila Machado. 19 de agosto de 2008.
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