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Scot Consultoria

Mercado de leite vive encruzilhada no país


Quinta-feira, 4 de setembro de 2008 - 10h29

A produo de leite no Brasil caminha para atingir este ano um volume que quase ningum do setor achava provvel. Depois do volume de 27,2 bilhes de litros de 2007, segundo o IBGE, estimativas indicam que a produo pode bater 30 bilhes de litros em 2008, algo que era esperado para 2010, nas projees mais otimistas. O motivo para esse cenrio foram os preos altos - no mercado interno e no exterior no ano passado - que estimularam o aumento da produo de leite. De acordo com o levantamento do Cepea/Esalq, entre agosto de 2006 e agosto de 2007, a valorizao dos preos mdios ao produtor foi de 52%, de R$0,5028 para R$0,7654 por litro. De agosto de 2007 at o ms passado, a queda foi de 7%, e o preo voltou para R$0,7117. E deve cair mais j que o setor enfrenta recuo na demanda e as exportaes de lcteos, apesar de avanarem, ainda respondem por uma pequena parcela da produo nacional de leite. Num setor em que o crescimento histrico mdio da produo de 3% a 4% ao ano, surpreendeu o avano de 9,31% levantado pelo IBGE no primeiro trimestre deste ano, quando o volume de leite captado pelas indstrias alcanou 4,893 bilhes de litros. A previso se refere ao leite que passa por inspeo sanitria (federal, estadual ou municipal) - no ano passado foram 17,886 bilhes de litros do total de 27,2 bilhes - segundo o IBGE. Extrapolando o avano de 9,3% para a produo total, o volume alcanaria 29,8 bilhes de litros. A expectativa era que o pas iria produzir isso em 2010, afirma Joo Bosco Ferreira, presidente da mineira Cemil. H quem fale em quase 33 bilhes de litros, acrescenta Larcio Barbosa, vice-presidente da Associao Brasileira da Indstria de Leite Longa Vida (ABLV) e diretor do Laticnios Jussara. Essa estimativa, ainda mais surpreendente, considera o ndice de captao de leite do Cepea - que de janeiro a julho deste ano foi 21,6% superior ao de igual intervalo de 2007. O ndice feito com base em levantamento em indstrias de nove Estados brasileiros. Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil (que rene produtores), reconhece que a produo cresceu absurdamente este ano e diz que o quadro foi estimulado pelas indstrias que fizeram uma corrida compra de leite. Segundo ele, dados compilados pelo setor produtivo com base em informaes do Ministrio da Agricultura indicam que as indstrias receberam 11,7% mais no primeiro semestre deste ano. Ele avalia, porm, que esse ritmo no ir persistir at o fim do ano. Gustavo Beduschi, pesquisador do Cepea, tambm considera que o avano de 21,6% no ndice de captao visto at julho no deve se manter. O primeiro semestre foi muito forte, observa. Mas ele admite que difcil que caia abaixo de 10%. O pesquisador pondera que h um risco em extrapolar o avano na captao (apenas leite inspecionado) para o total da produo. A razo que a alta dos preos pode ter levado a uma formalizao de produtores, contribuindo para a maior oferta. Isto , produtores que no entregavam as empresas passaram a faz-los. Eles j existiam, mas sua produo era comercializada informalmente. Maurcio Nogueira, analista da Scot Consultoria, avalia que o crescimento de 10% a 15% na produo pode est superestimado. Se confirmar, porm, o leite vai despencar. Para ele, a atual queda dos preos pode resultar num amadurecimento da cadeia, com a sada de produtores, como os que chama de extrativistas, aqueles que aproveitam perodos de bons preos para elevar a oferta. Rubez, que junto com cadeia produtiva, levar ao governo um pedido de medidas de apoio - como EGF (emprstimos do governo federal) para a indstria - diz que a queda do consumo piora o quadro para os produtores. Segundo ele, pesquisas indicam recuo entre 8% e 10% no consumo de lcteos no primeiro semestre do ano. Alfredo de Goye, da trading Serlac, considera o quadro positivo no mdio prazo e diz que os excedentes devem ser destinados ao exterior. Isso j est acontecendo. No primeiro semestre, fizemos o equivalente ao que exportamos todo o ano passado, observa. Em receita foram US$291,00 milhes e o volume alcanou 81.952 toneladas. Para Barbosa, da ABLV, o potencial de exportao foi superestimado, o que tambm levou ao aumento da produo. Demora tempo para abrir mercados. Hoje, o Brasil exporta para a Venezuela e pases da frica e sonha com o Mxico, mercado que se abriu recentemente, mas que ainda no compra, j que importar dos EUA mais vantajoso. Fonte: Valor Econmico. Agronegcios. Por Alda do Amaral Rocha. 4 de setembro de 2008.
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