Por duas safras seguidas, o produtor brasileiro ficou suscetvel s mudanas trazidas por fenmenos climticos. Em um ano foi o El Nio, que provocou excesso de chuvas, e no ciclo passado, o La Nia, com sua forte estiagem na Primavera de 2007 que resultou em perda de produtividade do cultivo de caf, frutas e replantio de lavouras de soja. Quando todos esperavam para este ano um comportamento de clima mais prximo da mdia histrica, outra surpresa: chove demais no Sul e de menos no restante do Pas, principalmente no Centro-Oeste. O ciclo 2008/09 mal comeou e j h algumas conseqncias: No Rio Grande do Sul, segundo maior produtor de trigo do Pas, as lavouras esto submersas em gua h 15 dias e as perdas at o momento so de 40% da produo, incluindo prejuzo em volume e qualidade. O cultivo de feijo no estado est afetado com fungos, por causa da umidade elevada, e a de arroz, pode ficar prejudicada se a chuva persistir por mais 15 dias.
Mas, enquanto a agricultura gacha afetada pelo excesso de chuva, a pecuria padece da falta dela. As chuvas abaixo da mdia em quase todo o Pas esto atrasando a recuperao das pastagens e, a previso, de que a entressafra do boi, que terminaria a partir de novembro e dezembro, se estenda por quase um ms, o que pode elevar ainda mais os preos da arroba no mercado.
Paulo Molinari, da Safras & Mercado, explica que a tendncia que haja recuo de gado abatido nos frigorficos - que j esto com capacidade instalada ociosa em torno de 40% a 50% - por conta da menor oferta esperada para novembro e dezembro. A oferta de boi confinado est terminando e no h volume elevado de boi de pastagem no mercado. Apesar da crise, a demanda interna continua forte. Teremos escassez e o preo do animal pode ter novas altas. Ainda assim, a indstria ter de abater boi com menor peso, avalia Molinari.
O nvel de abate bovino entre novembro e dezembro vem caindo h alguns anos. Em 2005 e 2006, foram abatidas 3,2 milhes de cabeas por ms em novembro e dezembro, segundo a Safras & Mercado. Nestes mesmos meses de 2007, esse volume caiu para nveis entre 2,6 milhes e 2,9 milhes de cabeas. Na mdia do segundo semestre deste ano, a mdia de abate est entre 2,6 milhes e 2,9 milhes de cabeas, volume que deve cair para nveis entre 2,6 milhes e 2,7 milhes no ltimo bimestre do ano, estima Molinari.A falta de boi de pasto neste momento e a previso de escassez nos prximos dois meses se deve ao fato de as chuvas terem sido escassas em setembro e abaixo da mdia em quase todas as regies do pas em outubro. Isso esta atrapalhando a recuperao das pastagens, que levam de 60 a 90 dias aps as chuvas para se recomporem, diz
Alcides Torres, analista da
Scot Consultoria.
De acordo com dados da Somar Meteorologia, no ms de outubro choveu metade do esperado na maior parte dos estados brasileiros. Em Mato Grosso, onde h o maior rebanho comercial do Pas, a mdia histrica para o ms de precipitaes de 200 milmetros (mm) e choveu entre 50 mm e 100 mm, dependendo da regio. No Tringulo Mineiro, esperava-se 100 mm e ocorreram apenas 50 mm. Em Mato Grosso do Sul, a mdia histrica de 150 mm e, choveu 100 mm. As frentes frias do Sudeste que levam a chuvas para o interior do Pas no esto entrando no continente, esto ficando no litoral, explica Olvia Nunes, meteorologista da Somar Meteorologia.
esperada normalizao das chuvas para novembro, mas at agora, as precipitaes foram praticamente insignificantes na maior parte do Pas. Em Mato Grosso, onde a mdia para este ms de chuvas entre 200 mm e 250 mm, choveu at agora 30 mm. No Tringulo Mineiro, choveu nesta semana menos de 10% do esperado, em Gois e na Bahia, onde se aguarda 200 mm de chuvas, as precipitaes at agora no chegaram nem a 5 mm.
Na agricultura do Paran, onde a chuva est acima da mdia principalmente no Sul do estado, tambm esto sendo identificados alguns atrasos no plantio de soja, mas ainda pontuais, segundo Pedro Loyola, economista da Federao de Agricultura do Estado (Faep).
No Rio Grande do Sul, onde as chuvas em outubro chegaram a quase o dobro da mdia, e perduram em novembro, as perdas com trigo atingem 40% da lavoura, segundo Carlos Sperotto, presidente da Federao de Agricultura do Estado (Farsul). Antes desse dilvio, tnhamos colhido 10% da rea com condies excelentes de qualidade, com ph entre 7,8 e 8,0. Agora, o que est sendo colhido est com ph entre 7,0 e 7,2. Isso significa um desconto de R$1,00 por saca no preo pago ao produtor, lamenta o presidente da Farsul. De acordo com ele, com o excesso de chuvas, a produtividade de 50 sacas por hectare caiu para 26 sacas.
Fonte:
Gazeta Mercantil. Agronegcio. Por Fabiana Batista. 6 de novembro de 2008.
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