Os indicativos de oferta e demanda mais justos determinaram o rumo nos preos dos principais itens agropecurios negociados na BM&F Bovespa nos ltimos trs meses. Passado o auge da crise financeira global, que dissipou a especulao e o inchao das
commodities, analistas acreditam que a estabilidade dos preos futuros atuais passaram a refletir a realidade do mercado em relao produo e consumo. Mesmo com a valorizao de 10% no dlar durante o perodo, o que causaria queda nos preos por aqui para reajustar a remunerao, produtos como o caf e o milho mostraram fora para subir no mercado futuro. Segundo dados do Centro de Informaes da Gazeta Mercantil, a moeda americana subiu de R$2,1220, no dia 20 de outubro, para R$2,3390 at sexta-feira passada.
Ainda assim, a saca do caf negociada na Bolsa brasileira contrariou a lgica de queda proporcional ao dlar e recuou apenas 1% em trs meses, sendo cotada atualmente em US$132,50, o que no clculo final mostra uma alta de 9%. A commodity tambm foi destaque no mercado internacional, com valorizao de 4,4% no primeiro contratos desde o dia 20 de outubro.
Para Eduardo Carvalhaes Jnior, do Escritrio Carvalhaes, essa estabilidade do caf mesmo com a crise mostra que os fundamentos do mercado (oferta e demanda) provavelmente esto exercendo fora no mercado futuro. O Brasil ter uma safra bem menor neste ano. Alm disso, os estoques so os menores j registrados e na passagem deste ano-safra, em junho deste ano, devemos ficar com os estoques praticamente zerados no mundo inteiro, explica.
Por esses motivos, outros analistas e at mesmo produtores estavam projetando uma valorizao nas cotaes do caf acima de 20% at o final deste ano. Uma coisa certa: no teremos caf sobrando no mercado, prev Carvalhaes. Segundo explicou, um dos fatores que contribuem para esse cenrio de escassez o crescente consumo interno. O Brasil onde as taxas de consumo crescem acima do ritmo mundial. Para ele, os nveis dos preos poderiam estar ainda mais elevados, pois j surgiram informaes de que a safra da Colmbia, segundo maior produtor mundial do tipo arbica, ser menor. O mercado s no subiu ainda mais porque ainda no h total segurana sobre essas informaes.
A demanda pelo milho fez com que as cotaes futuras negociadas na BM&F Bovespa se descolassem do mercado internacional. Na Bolsa de Chicago (CBOT), o gro recuou 6,6% nos ltimos trs meses, passando para US$3,9050 o
bushel (27,2 quilos). Por aqui, a saca de 60 quilos teve valorizao de 8,9%. Pedro Colussi, da AgraFNP, observa que fenmenos distintos ocorreram no mercado interno e externo para que isso ocorresse. No mercado americano, as notcias de que haver reduo na demanda por rao provocou a queda. A demanda por etanol tambm dever cair e h todo o cenrio internacional, onde a produo de milho na Unio Europeia e Canad foram grandes, reduzindo a demanda pelo gro, analisa.
No mercado interno, a valorizao dos preos futuros foi impulsionada basicamente pelas notcias de quebra na produo do Paran e Santa Catarina, explica Colussi. As exportaes tambm subiram muito em novembro e dezembro. Os agricultores americanos estavam recusando propostas de vendas por causa dos preos baixos pagos naquele perodo e isso aumentou a demanda aqui. Ele acrescenta ainda que a janela de exportao do milho brasileiro tambm foi favorecida por causa do vcuo deixado pela Argentina. As licenas para exportaes deles esgotaram em setembro.
Na contramo do caf, o boi gordo foi o mais atingido at agora pela crise. Os valores da arroba negociada na BM&F Bovespa recuaram 8,8% desde outubro e agora esto em R$82,90.
Fabiano Tito Rosa, da
Scot Consultoria, lembra que as vendas aos principais consumidores internacionais caram muito por causa da crise. Porm lembra que os preos esto acima da mdia no primeiro semestre de 2008. Essa sustentao foi proporcionada pela baixa oferta de gado no mercado por parte dos produtores, explica. Ele acrescenta que janeiro historicamente um ms ruim por causa das despesas de incio de ano. Mas disse que a margem de lucro dos frigorficos no dever ser muito prejudicada. O atual patamar dos preos e uma boa gesto permitem um lucro satisfatrio.
Fonte:
Gazeta Mercantil. Agronegcio. Por Roberto Tenrio. 30 de janeiro de 2009.
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