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Scot Consultoria

Mais uma vez, Irlanda pede embargo à carne brasileira


Quarta-feira, 2 de junho de 2010 - 11h11

Os irlandeses “atacam” novamente. O presidente da Associação dos Produtores da Irlanda (IFA, na sigla em inglês), John Bryan, defendeu, na semana passada, que a União Europeia suspenda as importações de carne bovina do Brasil depois que os Estados Unidos identificaram resíduos de vermífugo Ivermectina, acima do permitido pela legislação americana, em carne industrializada brasileira. Autoridades do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) encontraram tais resíduos em carne processada exportada pela JBS a partir de sua planta de Lins (SP). A empresa teve de fazer recall do produto. O episódio levou o Ministério da Agricultura brasileiro a suspender temporiamente as exportações de carne industrializada aos EUA. Na próxima semana, autoridades dos dois países vão se reunir para discutir a harmonização dos métodos de análise da carne. A metodologia utilizada pelo Brasil segue recomendação do Codex Alimentarius (organismo internacional de referência para a segurança dos alimentos). Nesse método, o fígado é analisado. Os EUA analisam o músculo bovino. Apesar de contar, nos EUA, com o lobby da multinacional Merial, fabricante do vermífugo Ivermectina, o Brasil terá que driblar as pressões dos pecuaristas americanos, descontentes com a eventual abertura dos EUA à carne bovina de Santa Catarina. No site da IFA, o dirigente irlandês diz que a Comissão de Saúde e Consumidor da UE (DG Sanco) deve banir a carne brasileira e retirar dos supermercados carne industrializada do Brasil, como ocorreu nos EUA. Ele defendeu que a Comissão da UE reavalie os procedimentos de análises usados em suas visitas ao Brasil. Disse ainda que o órgão deve rever as práticas relacionadas à produção bovina no Brasil e que “produtores e consumidores estão sendo expostos a um risco desnecessário”. Para Otávio Cançado, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec), o pedido da IFA não tem fundamento já que a UE também segue as regras do Codex Alimentarius. Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, também não acredita que o pedido irlandês tenha reflexo, mas diz que esse tipo de “bronca não ajuda nada o Brasil”. Num momento de crise na Europa, em que há temor de queda na demanda por carne, o protecionismo também pode aumentar. Desde 2008, a UE restringe as compras de carne bovina brasileira e definiu que apenas fazendas rastreadas e certificadas de uma lista administrada pela UE pode fornecer animais para abate e exportação da carne ao bloco. Hoje, há 1.957 propriedades aprovadas na lista. Antes das restrições, quando não havia essa exigência, cerca de 11 mil fazendas forneciam animais para abate. A decisão da UE de transferir ao Brasil a administração da lista de fazendas habilitadas dependerá do teor do último relatório técnico feito por uma missão veterinária do bloco no país. Se o texto for favorável ao Brasil, como indicou o rascunho enviado ao Ministério da Agricultura, pecuaristas irlandeses - e também franceses - devem elevar a pressão política sobre as autoridades sanitárias da UE. O bloco promoveu uma recente troca no primeiro escalão da área. Simpáticos às demandas brasileiras, a italiana Paola Testori e o luxemburguês Bernard Van Goethem comandam a DG Sanco. Mesmo assim, o governo avalia que o Brasil corre riscos de ver adiada sua reivindicação de controlar a inclusão e a exclusão das fazendas da lista. A chave do processo será o irlandês Michael Scannell, novo chefe do Escritório de Alimentos e Veterinária (FVO), que sofre forte influência do lobby pecuário irlandês, sobretudo por sua localização, próxima a Dublin. Há dois anos, o Brasil reivindica o fim da auditoria em 100% das fazendas. Quer fazer uma auditoria por amostragem na lista. A médio prazo, o governo pensa em repassar a obrigação ao setor privado nacional. Houve avanços nos entendimentos, mas a questão política e a troca de comando podem prejudicar os objetivos brasileiros. Fonte: Valor Econômico. Agronegócios. Por Alda do Amaral Rocha e Mauro Zanatta. 2 de junho de 2010.
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