Os irlandeses atacam novamente. O presidente da Associao dos Produtores da Irlanda (IFA, na sigla em ingls), John Bryan, defendeu, na semana passada, que a Unio Europeia suspenda as importaes de carne bovina do Brasil depois que os Estados Unidos identificaram resduos de vermfugo Ivermectina, acima do permitido pela legislao americana, em carne industrializada brasileira.
Autoridades do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) encontraram tais resduos em carne processada exportada pela JBS a partir de sua planta de Lins (SP). A empresa teve de fazer
recall do produto. O episdio levou o Ministrio da Agricultura brasileiro a suspender temporiamente as exportaes de carne industrializada aos EUA.
Na prxima semana, autoridades dos dois pases vo se reunir para discutir a harmonizao dos mtodos de anlise da carne. A metodologia utilizada pelo Brasil segue recomendao do Codex Alimentarius (organismo internacional de referncia para a segurana dos alimentos). Nesse mtodo, o fgado analisado. Os EUA analisam o msculo bovino.
Apesar de contar, nos EUA, com o
lobby da multinacional Merial, fabricante do vermfugo Ivermectina, o Brasil ter que driblar as presses dos pecuaristas americanos, descontentes com a eventual abertura dos EUA carne bovina de Santa Catarina.
No site da IFA, o dirigente irlands diz que a Comisso de Sade e Consumidor da UE (DG Sanco) deve banir a carne brasileira e retirar dos supermercados carne industrializada do Brasil, como ocorreu nos EUA. Ele defendeu que a Comisso da UE reavalie os procedimentos de anlises usados em suas visitas ao Brasil. Disse ainda que o rgo deve rever as prticas relacionadas produo bovina no Brasil e que produtores e consumidores esto sendo expostos a um risco desnecessrio.
Para Otvio Canado, diretor-executivo da Associao Brasileira da Indstria Exportadora de Carne Bovina (Abiec), o pedido da IFA no tem fundamento j que a UE tambm segue as regras do Codex Alimentarius.
Alcides Torres, diretor da
Scot Consultoria, tambm no acredita que o pedido irlands tenha reflexo, mas diz que esse tipo de bronca no ajuda nada o Brasil. Num momento de crise na Europa, em que h temor de queda na demanda por carne, o protecionismo tambm pode aumentar.
Desde 2008, a UE restringe as compras de carne bovina brasileira e definiu que apenas fazendas rastreadas e certificadas de uma lista administrada pela UE pode fornecer animais para abate e exportao da carne ao bloco. Hoje, h 1.957 propriedades aprovadas na lista. Antes das restries, quando no havia essa exigncia, cerca de 11 mil fazendas forneciam animais para abate.
A deciso da UE de transferir ao Brasil a administrao da lista de fazendas habilitadas depender do teor do ltimo relatrio tcnico feito por uma misso veterinria do bloco no pas. Se o texto for favorvel ao Brasil, como indicou o rascunho enviado ao Ministrio da Agricultura, pecuaristas irlandeses - e tambm franceses - devem elevar a presso poltica sobre as autoridades sanitrias da UE.
O bloco promoveu uma recente troca no primeiro escalo da rea. Simpticos s demandas brasileiras, a italiana Paola Testori e o luxemburgus Bernard Van Goethem comandam a DG Sanco. Mesmo assim, o governo avalia que o Brasil corre riscos de ver adiada sua reivindicao de controlar a incluso e a excluso das fazendas da lista. A chave do processo ser o irlands Michael Scannell, novo chefe do Escritrio de Alimentos e Veterinria (FVO), que sofre forte influncia do
lobby pecurio irlands, sobretudo por sua localizao, prxima a Dublin.
H dois anos, o Brasil reivindica o fim da auditoria em 100% das fazendas. Quer fazer uma auditoria por amostragem na lista. A mdio prazo, o governo pensa em repassar a obrigao ao setor privado nacional. Houve avanos nos entendimentos, mas a questo poltica e a troca de comando podem prejudicar os objetivos brasileiros.
Fonte:
Valor Econmico. Agronegcios. Por Alda do Amaral Rocha e Mauro Zanatta. 2 de junho de 2010.
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