A estiagem prolongada até o final de setembro neste ano afeta a recuperação das pastagens no Centro-Oeste e pode provocar atraso de mais de um mês na oferta de boi de pasto pronto para abate, o que deve contribuir para manter os preços em patamares elevados no mercado interno.
Analistas do setor disseram que a oferta de boi terminado a pasto, ou seja, do animal que passou por engorda após o período da seca, só deve ocorrer a partir do final de janeiro. Cenário que contribui para manter os preços da arroba, que atingiram recordes neste ano, sustentados no período.
“Sempre temos as primeiras chuvas em setembro, mas este ano vieram somente no final de outubro. Isso vai atrasar em uns 60 dias a oferta de gado terminado a pasto”, afirmou Antenor Nogueira, presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte, que numa previsão mais pessimista avalia que o pico da oferta de animais de pasto só deve ocorrer em março.
O Centro-Oeste, que segundo Nogueira concentra aproximadamente 60 por cento do rebanho do país, ainda teve o agravante das inúmeras queimadas nas áreas de cerrado. “Quando o pasto é queimado, a rebrota demora mais”, afirmou.
Demanda em alta
O problema ocorre justamente no período em que a demanda por proteínas animais se fortalece com recursos do 13o salário e os preparativos para os feriados de fim de ano. Nogueira avalia que a situação só poderia ser revertida se a região recebesse um volume de chuvas mais concentrado. “O que não vem ocorrendo”, acrescentou.
Em algumas regiões de Mato Grosso, Estado com maior rebanho no país, o atraso nas primeiras ofertas pode ser de um mês, segundo relato do diretor técnico da AgraFNP, José Vicente Ferraz, que esteve na região na semana passada.
“Agora as chuvas começam a se normalizar. Os pastos em Rondonópolis (sul do Estado) estão verdes e rebrotando, mas a oferta de boi gordo só deve começar na segunda quinzena de janeiro”, afirmou Ferraz.
Se o ritmo do setor fosse mantido, os animais para abate da região Centro-Oeste começariam a chegar ao mercado em meados de dezembro, contribuindo para esfriar o movimento de alta registrado desde agosto nos preços.
“O normal seria que já saísse um volume melhor de gado em dezembro, mas agora isso só deve ocorrer em janeiro”, afirmou Ferraz. “É preciso considerar que não é só o clima. Este é mais um fator, que se soma ao problema de escassez de oferta”, acrescentou Ferraz.
A analista do mercado de boi da
Scot Consultoria, Gabriela Tonini, ressalta que no período inicial das chuvas, a lotação de animais é menor para permitir o crescimento do capim. “Não adianta comprar bezerro nesta fase se o animal não pode engordar no campo”, disse.
A seca mais prolongada e com maior intensidade neste ano dificulta a engorda dos animais. “Alguns animais já estão debilitados, porque nem todos conseguiram fazer a suplementação adequada”, aponta Luciano Vacari, o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
Segundo Vacari, o resultado é que a restrição de gado que marcou 2010 vai persistir. “O pecuarista não segura gado pronto, o que acontece é que a oferta de gado é menor mesmo”, disse, acrescentado que a situação reflete o abate de matrizes feito entre 2006 e 2007, e a consequente redução no número de bezerros.
A Acrimat estima que o abate de animais em Mato Grosso deve ficar entre 4,3 e 4,4 milhões de animais este ano no Estado. “O abate só não é maior por causa da restrição de oferta”, afirma. Cerca de 70 por cento da produção do Estado é destinada ao mercado interno.
Acomodação
O professor e pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, Sérgio De Zen, observa que o preço da arroba arrefeceu, mas ele atribui o movimento a um ajuste de mercado. O indicador Esalq/BMFBovespa chegou a bater o recorde de 117,18 reais por arroba recentemente, mas nesta segunda-feira já havia recuado para 113,10 reais.
A alta expressiva da arroba ao longo do ano foi repassada para o varejo e teve reflexos na inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) avançou 0,85 por cento na terceira prévia de novembro, maior resultado desde a primeira semana de abril, puxado pelo aumento do grupo Alimentos, informou na terça-feira a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O aumento de 9,43 por cento registrado para as carnes bovinas puxou para cima o grupo de Alimentos, disse a FGV.
“Agora temos uma acomodação, até encontrar equilíbrio. Mas fica difícil saber qual é o limite, é preciso olhar as condições do mercado”, afirmou De Zen. Ele acrescenta que grande parte dos bois prontos que chegarem ao mercado no período já devem estar atrelados a contratos de venda e é possível que os preços no mercado disponível (
spot) continuem sustentados, mesmo com a oferta maior esperada em janeiro.
Fonte:
Reuters. Por Fabiola Gomes. 24 de novembro de 2010.
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