Mas produtores duvidam que a medida v surtir efeitos
O governo vai intervir pesadamente no mercado de produtos agrcolas para controlar os preos dos alimentos, cuja alta tem castigado a populao de baixa renda. Com a venda de parte dos estoques de gros, que somam 7,29 milhes de toneladas, e a garantia de preos ao produtor, a equipe econmica quer derrubar o custo da comida e ajudar a manter na mesa dos brasileiros mais pobres feijo, arroz, carnes de aves e sunos, leite e ovos. Mas essa iniciativa pode ser insuficiente para enfrentar o salto nas cotaes internacionais e a evoluo da renda dos trabalhadores, que eleva o consumo e, em consequncia, gera inflao.
Com a venda de sacas de milho, o Ministrio da Agricultura quer garantir a reduo do preo do produto
in natura e contribuir para diminuir os custos de produo de carne de aves e sunos. O milho um importante insumo na produo das raes dos animais. Ontem mesmo, j foi realizado um leilo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com entrega de 83 mil toneladas 66,5% do total de 125,9 mil toneladas oferecidas.
O governo promover leiles de arroz para garantir o pagamento mnimo estipulado aos produtores. No incio, a oferta ser de cerca de 60 mil toneladas do gro. J os preos do feijo tendem a baixar quando a oferta subir. Segundo anlise dos tcnicos da Conab, os agricultores esto recebendo pela saca do produto recm-colhido entre R$50 e R$90, dependendo da qualidade. As recentes chuvas tm criado uma maior dificuldade de compra nas regies produtoras. A primeira safra, ou safra das guas, ter reduo de 1,1% na rea plantada, mas ser maior em 1,5 milho do que a anterior.
Crculo vicioso
A equao formada por consumo aquecido e oferta reduzida tem levado valorizao dos alimentos. No caso da carne bovina, no h estoques e impossvel engordar um bezerro da noite para o dia. Nos gros, as cotaes previstas para as sacas que definem o investimento do produtor. Se o preo baixar, o produtor acaba no plantando. Sem colheita, cai a oferta e o preo chega mais alto na safra seguinte, num crculo vicioso. Por isso, consultores, pesquisadores e, principalmente, produtores rurais no acreditam que qualquer interveno feita na marra, por meio da venda dos estoques reguladores do governo, tenha efeitos duradouros.
O consultor de Mercado da
Scot Consultoria Alex Lopes da Silva lembra que a arroba do boi atingiu a cotao recorde no Brasil no ano passado, chegando a R$118. Falta matria-prima e a renda est em alta. Por isso, houve o pico na entressafra, explicou. Hoje, o preo da arroba est, em mdia, em R$100 e no h expectativa de queda. Segundo
Silva, o preo da carne bovina diretamente ligado ao aquecimento da economia. Estudos mostram que, se a renda aumenta 1%, o consumo de carne, principalmente dos cortes traseiros, de maior valor agregado, sobe 0,5%.
O proprietrio da fazenda Agromill, Renato Mller, de Paracatu (MG), tambm duvida que uma interveno do governo para baixar preos de gros surta efeito. O tiro pode sair pela culatra, alertou. Ele planta feijo, milho, soja, abboras e cebolas. Segundo Mller, a saca de 60 quilos de feijo esteve mais cara em agosto (R$80). Agora, a cotao est em R$50. No sei onde querem intervir.
A onda de elevao de preos no relacionada apenas ao aumento da renda dos pobres. Segundo Lucilio Alves, pesquisador da rea de Gros do Centro de Estudos Avanados em Economia Aplicada (Cepea), a recuperao de preos da soja e do milho foi ditada pelo mercado internacional. No se consegue ampliar a oferta rapidamente e muito menos reduzir a demanda, observou. Segundo analistas, o consumo internacional continuar aquecido.
Exportaes
As exportaes brasileiras de produtos agrcolas bateram recorde em 2010, atingindo US$76,4 bilhes, num crescimento de 18% em relao aos US$64,7 bilhes de 2009.
Os produtos que se destacaram foram acar (US$12,7 bilhes), caf (US$5,7 bilhes), milho (US$2,1 bilhes) e carnes bovinas, sunas e de aves (US$11,8 bihes). A sia se consolidou como principal destino, comprando 30,1% da pauta. Somente a China foi responsvel por 14,4% do total. Segundo o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, as vendas podem ultrapassar a casa dos US$85 bilhes neste ano. Seria bastante razovel esperarmos incremento em torno ou acima de 10%, disse ontem, ao anunciar os nmeros.
Fonte:
Correio Braziliense. Por Jorge Freitas e Graziela Reis. Economia. 14 de janeiro de 2011.
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