Perspectiva de crescimento da renda no Brasil e aumento nas exportaes fazem o preo do gado para abate disparar e a expectativa de que no caia at 2013
A melhora na renda do brasileiro e a presso na demanda so conhecidas. Os trabalhadores com menores salrios tiveram aumento de renda superior a 15% nos ltimos anos. O PIB vem crescendo a taxas altas e o desemprego apresenta ndices baixos. Esses fatores explicam por que os supermercados estiveram mais cheios no ano passado, com o pblico em busca de carne de primeira. Mas j houve poca recente de vacas magras. Guilherme Bellotti de Melo, analista do Rabobank, instituio voltada para a indstria brasileira de alimentos e para o agronegcio, lembra que entre 2004 e 2006 os preos da carne estavam to em baixa que mal cobriam os custos. Para se ter uma ideia, em 2006, a mdia da arroba (15 quilos de carcaa) era vendida a R$52,76, segundo dados da BM&F. Mas em outubro de 2010 chegou a R$118 e os contratos futuros para outubro de 2011 continuam fechados acima de R$100.
H quem suspeite de uma grande bolha com a alta das commodities, entre elas a carne, com as negociaes em mercado futuro na BM&F. Mas o analista da BeefPoint, Andr Camargo, avalia que essa alta no resultado deste tipo de especulao na bolsa. O volume de negcios at caiu, argumenta. A especulao, na verdade, ocorreu em outro momento, quando havia pouca demanda e os preos despencaram. Durante a baixa dos preos, houve uma grande reduo do rebanho, com abate das matrizes na tentativa de equilibrar os preos. Agora, a alta provocada pela escassez, diz Bellotti de Melo, do Rabobank.
Coordenador da CFM, maior produtora de touros nelore do Pas, Luis Adriano Teixeira lembra que a pecuria sempre exibiu ciclos de alta e baixa e que, neste momento, h uma reteno de matrizes nas fazendas. O bezerro desmamado valia R$350 em 2005. Hoje cada animal custa R$740, porque no tem para vender, conta Teixeira. Enquanto o frango leva em mdia 50 dias para ficar pronto para o abate, o processo de fertilizar o gado, desmamar o bezerro e engordar o boi no pasto exige trs anos. Por isso, o preo da carne no voltar to cedo aos tempos de bonana. O pecuarista Paulo de Castro Marques, presidente da Associao Brasileira de Angus, diz que no perodo de entressafra, quando a seca comear a prejudicar as pastagens, a partir de abril, o preo vai subir ainda mais. Em 2010, os frigorficos conseguiram repassar os preos para o consumidor. No houve perda de margem, diz o analista de renda varivel do segmento de alimentos da Fator Corretora, Renato Prado. O preo subiu e a populao se disps a pagar mais, conclui.
Claro que existe um teto-limite para o preo da carne. Afinal, o consumidor sempre pode substituir o bife de cada dia por carne de frango ou porco, mas essas alternativas tambm esto em alta porque os gros e a soja, que respondem por 70% da rao dos animais, no param de subir. A soja e o milho acumulam alta de dois dgitos na bolsa de Chicago, por causa dos escassos estoques, que j so os menores dos ltimos 15 anos. A soluo seria aumentar a oferta de carne. Mas, segundo o pesquisador do Centro de Estudos Avanados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, Srgio de Zen, os investimentos do setor pecurio so insuficientes para cobrir o mercado atual. Diante da alta dos preos, resta populao esquecer o fil mignon, comer menos picanha e mais contrafil e alcatra.
Alm do desequilbrio do mercado nacional, a demanda no mundo inteiro por carne bovina cresceu. E apesar de o Brasil consumir 80% da carne que produz, sofre influncia dos problemas nos pases concorrentes, que tambm esto no limite de sua capacidade de produo, segundo Andr Camargo, da Beef Point. Outro agravante: as naes em desenvolvimento aumentaram suas compras e os pases desenvolvidos comeam a se recuperar. Os EUA, por exemplo, retomaram as importaes de carne bovina congelada, cozida e processada do Brasil, que estavam suspensas desde meados do ano passado. Cumprimos todas as exigncias. uma vitria, diz o ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Pode ser. Mas, com as exportaes em alta, dificilmente o preo da carne vai parar de subir.
A remarcao de preos nos aougues virou ritual to comum quanto separar os produtos por corte e passar um pano no balco. Somente no ano passado, a carne bovina subiu cerca de 35%. Em janeiro, o preo caiu um pouco, mas no h motivo para a dona de casa comemorar: o churrasco continuar pesando no bolso das famlias durante todo o ano de 2011 e nada mudar at 2013. A explicao, como de praxe, est na lei da oferta e da procura. O brasileiro, com a renda melhor, quer comer mais carne, mas a produo no acompanha a demanda. Relatrio da
Scot Consultoria mostra que, normalmente, os frigorficos teriam estoques comprados para os prximos dez dias, mas a escala atual de apenas trs a quatro dias. Os frigorficos esto trabalhando com uma ociosidade de 40%, porque no encontram boi gordo para abater e atender ao consumo. Para cada 1% de aumento na renda, o consumo de carne cresce 0,5%. uma das relaes mais estreitas no varejo, afirma
Alex Lopes, analista da
Scot.
Fonte:
ISTO Independente. Por Adriana Nicacio. 7 de fevereiro de 2011.
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