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Scot Consultoria

Manejo sanitário para setembro


Quarta-feira, 31 de agosto de 2022 - 08h00

Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo. É professor titular do departamento de clínica médica pela FMVZ-USP, especializado em Clínica de Ruminantes (ortolani@usp.br).


Foto: Scot Consultoria


1) Cuidados no nascimento de bezerros

Para quem fez a estação de monta, de meados de outubro ao começo de janeiro de 2021, o período de nascimento de 2022 ocorre entre os meses de agosto a outubro. Os cuidados sanitários quanto aos bezerros serão descritos a seguir:

A) Cura do umbigo

Prepare a solução de iodo a 6% em solução aquosa ou alcoólica para a cura e trate os animais logo em seguida ao nascimento. Faça a imersão do umbigo nessa solução por no mínimo 1 minuto.

B) Prevenção contra “bicheira” no umbigo

Injete, por via subcutânea nos bezerros 1ml a base de doramectina, que é o anti-helmíntico que tem apresentado os melhores resultados para esse fim.

C) Pese os bezerros

Bezerros muito leves ou muito pesados morrem mais que os de peso normal ao nascimento (ideal para bezerros Nelore: machos 29-34 kg; fêmeas 27-31 kg; bezerros cruzados 2 kg a mais). É essencial que todo bezerro seja pesado, para que medidas preventivas sejam tomadas e se evite pesos anormais. Pese os bezerros com uma balança apoiada em trave (Figura 1) ou com uma fita de costureira, medindo a circunferência toráxica na altura do coração (Figura 2). O número de centímetros obtidos estima o peso dos bezerros: 86 cm= 50 kg; 82 cm = 45 kg; 78 cm = 40 kg; 74 cm = 35 kg; 70 cm = 30 kg; 66 cm = 25 kg; 62 cm = 20 kg; 58 cm =15 kg).

Figura 1.
Balança apoiada em trave.

Fonte: Portal DBO

Figura 2.
Peso estimado pelo uso de fita métrica.

Fonte: Embrapa

D) Oferecimento de colostro para bezerros com baixa vitalidade

Bezerros leves ou que passaram por partos complicados têm baixa vitalidade e demoram mais para levantar e tomar o colostro, que oferece anticorpos que os protegem contra várias doenças. Quanto mais rápido o colostro é ingerido maior será a sua proteção. Você deve oferecer o colostro para bezerros que demoraram mais de 3h para tomá-lo. Obtenha de vacas leiteiras o primeiro colostro e o congele a -10ºC em garrafas plásticas, não completamente cheias. Descongele, antes do oferecimento, não deixando a temperatura ser superior a 50ºC. Ofereça lentamente 4 litros de colostro pela boca.

E) Outros cuidados com bezerros fracos

Limpe a narina, que por vezes fica entupida. Faça massagem com uma tolha ou saco limpo na região do tórax do bezerro, que estimulará sua respiração. Estimule o bezerro a tomar colostro na própria vaca ou ofereça o colostro, como orientado no item anterior. Aqueça o bezerro em dias muito frios.

F) Cuidados com o piquete-maternidade

Verifique se o piquete-maternidade está limpo e não contém muitas moitas altas, pois muitas vacas escondem os bezerros nelas, o que dificulta o rápido manejo com o bezerro recém-nascido.

2) Vacinação de vacas contra leptospirose

Para as fazendas que iniciam a estação de monta em outubro, recomenda-se vacinar duas vezes as reprodutoras contra leptospirose: um mês antes da estação de monta e no dia anterior ao início desta. A leptospirose pode provocar mortalidade embrionária, o aborto entre o 5º e 8º mês de gestação e o surgimento de bezerros fracos. Cerca de 90% dos casos são transmitidos pela própria vaca, 5% por transmissão venérea pelo touro e 5% por ratos. A leptospirose ocorre em todo território nacional, mas ela é mais frequente nos rebanhos do Centro-Oeste, Norte e regiões baixas do estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo.  

3) Vermifugação estratégica no RS e no planalto catarinense

Diferente do Brasil Central, em que a vermifugação estratégica em bovinos desmamados até 2 anos de idade é feita nos meses maio (5) /agosto (8) /novembro (11), no estado do Rio Grande do Sul e no planalto catarinense, em que as condições climáticas são diferentes, a vermifugação é feita nos meses março (3) /junho (6) /setembro (9) /novembro (11). Segundo recomendações de especialistas gaúchos, a vermifugação pode ser feita em setembro com anti-helmínticos a base de fembendazole ou moxidectina.

Surtos de doenças em bovinos de corte

Atenção especial com a raiva bovina

Dizem que agosto é o mês do cachorro louco. O número de focos de raiva bovina aumentou de julho para agosto. Veja os municípios, de diferentes estados, em que foram confirmados, recentemente, casos de raiva em bovinos.

PR: Ampére, Dois Vizinhos e Santo Antônio do Sudoeste¹.

MT: Lucas do Rio Verde, Araputanga, Mirassol D’Oeste, Santo Antônio do Leverger, Chapada dos Guimarães e Novo São Joaquim².

MG: Muzambinho, Fortaleza do Sul e Piumhi³.

RO: Machadinho d’Oeste e Pimenta da Veiga⁴.

SP:  Votorantim, Itupeva, Jundiai, Itapeva e Capão Bonito5.

Recomenda-se vacinar todos os rebanhos bovinos em torno de 12 km dos municípios citados. Tal distância é recomendada, pois os morcegos machos jovens expulsos da sua colônia, migram até esta distância para formar novas colônias, podendo levar o vírus consigo. Planteis que nunca foram vacinados devem fazer a primeira imunização agora e uma segunda de reforço daqui a 30 dias. Com exceção dos bezerros com menos de 3 meses, todos devem ser vacinados.

Focos de carbúnculo hemático

Foram descritos dois focos de carbúnculo hemático, um no Brasil (São Pedro do Sul-RS, dois casos) e outro na Bolívia (Santa Cruz de La Sierra, três casos). Os bovinos eliminaram sangue “vivo” pelas narinas (figura 3), boca e ânus e hemorragia visível por baixo da capa dos chifres. Após a morte as carcaças apresentaram grande inchaço, ausência de endurecimento (sem rigor mortis). Nas duas condições, as mortes ocorreram em plena seca prolongada, onde acredita-se que bovinos possam ter bebido água contaminada com o Bacillus anthracis, a bactéria causadora da doença. Recomenda-se que não se abra a carcaça ou toque o sangue, pois a doença pode ser transmitida ao homem. Para evitar a contaminação ambiental é indicada a incineração do cadáver, no próprio lugar da morte.

Fato importante que ocorreu nas duas propriedades: todos os animais do rebanho já tinham sido vacinados contra clostridioses, com vacinas reconhecidas. Porém, a grande maioria dessas vacinas comerciais retiraram, recentemente, o imunógeno contra B. anthracis, não protegendo contra a doença. Recomendou-se nesses casos vacinar com vacina específica que contêm esse imunógeno.

Figura 3.
Bovino com sangramento nas narinas.

Fonte: Portal DBO

Foi descrito, num rebanho de gado de corte de Araruama-RJ, um grande número (30% dos animais de sobreano) de casos de papilomatose, de difícil controle. Pelo fato de existir vários subtipos de vírus causadores, sugeriu-se o tratamento com o uso de autovacina, aplicada por 3 a 6 semanas consecutivas, retirando-se papilomas de vários animais do rebanho para a confecção da vacina. Como trata-se de um rebanho fechado (só saem animais, não entram), acredita-se que a contaminação do plantel deva ter ocorrido por contato indireto desses bovinos com os dos vizinhos, separados pela cerca de arame farpado.

Boa sorte no manejo sanitário e até o próximo mês!

Referências bibliográficas

¹ Agência de Defesa Agropecuária do Paraná, ADAPAR

² Instituto de Defesa Agropecuária do Estado do Mato Grosso, INDEA

³ Instituto Mineiro de Agropecuária, IMA

⁴ Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia, IDARON

5 Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo, CDA

 


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