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Scot Consultoria

Manejo sanitário para outubro


Quarta-feira, 5 de outubro de 2022 - 18h00

Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo. É professor titular do departamento de clínica médica pela FMVZ-USP, especializado em Clínica de Ruminantes (ortolani@usp.br).


Foto: Shutterstock

 

Vacinação de vacas contra leptospirose

Você, que vai iniciar a estação de monta agora em outubro, já deve ter vacinado as vacas com a primeira dose contra a leptospirose, há 30 dias. Agora deve-se repetir essa vacinação um ou dois dias antes da IATF ou do início da estação de monta.

Em um experimento paulista verificou-se que em condições de IATF essa vacinação reduz as perdas gestacionais (abortamento e/ou mortalidade embrionária) em 6% em novilhas e cerca de 1% em vacas multíparas. A leptospirose ocorre em todo território nacional, mas é mais presente nos rebanhos do Centro-Oeste, Norte e regiões baixas do estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Foi-me perguntado se os touros empregados na estação de monta ou usados para repasse na IATF também devem ser vacinados. A resposta é sim, pois cerca de 5% da transmissão dessa doença pode ser pelo touro, que cobre uma vaca positiva, tendo possibilidade de levar a bactéria do muco vaginal contaminado para vacas sadias.

Controle de carrapatos no Brasil Central

A infestação de carrapatos (mais de 20 carrapatos na virilha ou barbela) é prejudicial para o ganho de peso, além de poder transmitir a tristeza parasitária, principalmente de animais meio sangue zebu-taurino, ou taurinos puros, e ocasionalmente também em gado Nelore. Geralmente, os chamados tratamentos estratégicos são feitos quando a população de carrapatos é bem menor, no decorrer do ano (entre julho e outubro, no Brasil Central). Assim, se seu rebanho tem risco de contrair carrapatos trate agora e repita no final do mês de outubro os animais com 20 carrapatos ou mais, nos locais já comentados.

Resistência aos carrapaticidas disponíveis

Com o tempo os carrapatos foram desenvolvendo alta resistência contra os principais carrapaticidas de plantão.

Vários estudos, pelo Brasil afora, têm acompanhado este grau de resistência e identificaram a ineficácia das lactonas macrocíclicas (ivermectina, abacmectina, doramectina etc.) e dos piretróides (deltametrina, cipermetrina etc.), a queda da eficiência do amitraz, do fenilpirazol (fipronil e piriprol), dos inibidores de quitina (diflubenzuron e fluazuron) e dos organofosforados (clorpirifós, fention etc.). Porém, os resultados variam de fazenda a fazenda.

Teste, gratuitamente, a eficiência destes produtos nos carrapatos de sua propriedade. Para tal, siga as instruções e envie carrapatos adultos para a EMBRAPA GADO DE LEITE MG: cnpgl.carrapato@embrapa.br; e o INSTITUTO DESIDÉRIO FINAMOR  RS => Site www.ipvdf.rs.gov.br .

Os resultados saem em até 60 dias e geralmente o carrapaticida indicado como o mais eficiente funciona tiro-e-queda! 

Registro de doenças transmissíveis

Foco de diarreia viral bovina no Pará

Ocorreram quatro mortes de bezerros recém-nascidos, da raça Nelore, com quadro nervoso devido ao vírus de diarreia bovina (VDB), no município de Nova Ipixuna-Pará.

O quadro é proveniente da infecção pelo vírus (VDB) de vacas gestantes, no terço médio da gestação, inibindo o pleno desenvolvimento do cerebelo, que é parte do sistema nervoso central. Muitas vezes nesses rebanhos, a mortalidade embrionária é maior que a média, assim como existe o risco de morte de bezerros, no final da lactação ou após a desmama, devido a uma diarreia muito intensa, com presença de úlceras na gengiva e em outros locais do sistema digestivo.

Na maioria das vezes o vírus é transmitido pela presença de vacas ou touros que tiveram a doença muito leve e que continuamente eliminam o agente para os bezerros jovens e animais não vacinados.

Recomenda-se dupla vacinação das vacas que estão para entrar no período de cobertura, trinta (30) dias e no dia anterior ao início da estação de monta ou da IATF, semelhante ao que se faz com a leptospirose.

A presença de casos de DVB já foi descrita em praticamente todo o Brasil.

Figura 1.
Bezerro recém-nascido com quadro nervoso de diarreia viral bovina.

Fonte: Enrico Ortolani

Surto de dermatofitose em SP

Detectei dois surtos de dermatofitose, causado pelo fungo Trichophyton verrucosum, em garrotes e novilhas de dois rebanhos do município de Sorocaba-SP. Alguns poucos animais foram comprados e já vieram com a doença, espalhando para outros animais jovens da propriedade.

A dermatofitose é mais frequente em bovinos jovens, por estes serem mais sujeitos ao estresse e à má nutrição, além de terem a pele mais alcalina.

Os casos são mais frequentes no final do período seco, quando as pastagens se tornam mais pobres em nutrientes, em especial em vitamina “A”.

A cura pode ser espontânea ou acelerada com uso de certos medicamentos, a serem receitados por seu veterinário de plantão.

Figura 2.
Bovino com sintomas de dermatofitose.

Fonte: Enrico Ortolani

A raiva continua matando  

Neste último mês, o número de focos de raiva bovina aumentou, comparados aos últimos dois meses, em alguns estados, destaque para Minas Gerais. Neste estado, focos foram identificados nos seguintes municípios: Delfim Moreira, Santo Hipólito (BH), Caraí, Tombos, Muzambinho e Minduri.

Em São Paulo, foram verificados focos de raiva bovina nos municípios de Quintana e Bananal. No processo de captura dos morcegos, para diminuir seu ataque num rebanho, foi isolado de um morcego o vírus rábico, no município de Bofete, na região Central do Estado. Este achado é indicativo suficiente de que os bovinos desse local tinham alto risco de contrair a doença.

O morcego também pode morrer de raiva, só que a doença se manifesta mais lentamente nestes animais, podem, assim, transmitir para muitos bovinos.

No Rio Grande do Sul, casos de raiva bovina foram detectados em Cerro Alegre Alto, Santa Cruz do Sul e Passo do Sobrado.

Finalmente, no Paraná, constataram casos em Dois Vizinhos e Santo Antônio do Sudoeste.   

Em todos os rebanhos desses municípios citados deve-se vacinar todos os bovinos acima de 3 meses de idade.

Figura 3.
Bovino jovem com sintomas de raiva.

Fonte: Enrico Ortolani

Até o próximo mês. Boa sorte com sua boiada!

Referências bibliográficas

¹ Instituto Mineiro de Agropecuária, IMA

² Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo, CDA

³ Programa de Controle da Raiva Herbívora no Rio Grande do Sul, PNCRH-RS

4 Agência de Defesa Agropecuária do Paraná, ADAPAR


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