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Scot Consultoria

Manejo sanitário para janeiro


Sexta-feira, 30 de dezembro de 2022 - 08h00

Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo. É professor titular do departamento de clínica médica pela FMVZ-USP, especializado em Clínica de Ruminantes (ortolani@usp.br).


Foto: Bela Magrela


Em janeiro, poucas atividades do manejo sanitário estão previstas.

Vacinação das bezerras contra leptospirose

Um dos pontos chaves na prevenção contra leptospirose é a vacinação dos animais em risco. A vacina contra leptospirose não confere uma imunidade muito longa, mas, para que as vacinações anuais das fêmeas (feitas antes do início da estação de monta) possam ter melhor resultado, é fundamental a vacinação das bezerras aos 5 meses de idade.

Embora a leptospirose, que causa principalmente aborto, ocorra em rebanhos de todos os estados brasileiros, o maior número de casos acontece naqueles situados na região amazônica, no pantanal, nos vales úmidos do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Independente dessa diferente distribuição recomenda-se a vacinação em todos os rebanhos nacionais.

É hora de checar a geladeira!

Recomendo em janeiro fazer um “pente fino” na geladeira que armazena as vacinas e frascos abertos de medicamentos, com os antibióticos.

As vacinas devem ser mantidas em temperaturas entre 2ºC e 8ºC. Cansei de ver vacinas veterinárias em geladeiras lotadas, abertas muitas vezes ao dia, ou com problemas na borracha vedadora. Todas essas condições elevam a temperatura para até mais de 16ºC, podendo danificar as vacinas!

Por outro lado, muitas geladeiras estão mal reguladas, o que leva ao congelamento das vacinas, diminuindo muito seus resultados esperados, em especial em vacinas múltiplas, com as das clostridioses e as reprodutivas, para não falar na de brucelose, que é uma vacina contendo bactéria viva.

Cheque a temperatura interna com termômetro e regule sua geladeira; avalie a condição da borracha vedadora, que com o tempo vai ficando endurecida e vedando menos.

Checar as pistolas e agulhas

Nada como uma pistola dosificadora zero quilômetro. Porém, com o tempo ela vai ficando desregulada e sua borracha interna endurecida, pouco lubrificada e ajustada ao vidro, para não falar do aumento da contaminação. Pistolas assim, além de ficarem emperradas, injetam mais ou menos medicamentos do que você pretende aplicar.

Janeiro é o mês de desmontar as pistolas, descontaminá-las, de acordo com a orientação do fabricante, lubrificá-las e possivelmente trocar as borrachas vedadoras velhas e endurecidas.

Poucos proprietários e gerentes acompanham este processo e geralmente delegam aos colaboradores, que nem sempre se preocupam muito com essas operações de manutenção e pedem novas pistolas, enquanto a maioria existente só precisa de um reparo. Em tempo de vacas magras qualquer economia é bem-vinda.

Aproveite e dê uma olhada na qualidade das agulhas metálicas. Após um longo ano de uso as agulhas, para aplicação de vacinas e medicamentos, podem estar tortas, rombas, desgastadas e muito contaminadas. Descarte aquelas imprestáveis; desentorte e afie as pontas das que ainda têm jeito e faça uma descontaminação especial mantendo-as por 10 minutos em água fervente.

Figura 1.
Colaborador realizando manutenção em pistolas de vacinação.

Fonte: Enrico Ortolani

Registro de doenças e parasitoses recentes

No começo dos anos 1960, fez um sucesso danado uma balada norte-americana, cuja versão foi cantada no Brasil por Demétrius, denominada “Ritmo da Chuva”.  Pois, em vários relatos sobre da coluna deste mês, as infestações seguem a toada do “ritmo da chuva”, como vocês lerão.

Infestação por carrapatos

 

Com o aumento das chuvas e da temperatura média, em muitos estados da região sudeste (SP, ES e MG) e no Paraná, foram detectados aumentos na infestação por carrapatos, de no mínimo 30% a 40% a mais, em gado Angus e outras raças taurinas de corte, mestiços Angus-Nelore e de raças leiteiras. Nessas condições, a umidade do solo se torna muito favorável para a sobrevivência de carrapatas adultas (“jabuticabas”), dos ovos e larvas que começaram a infestar para valer os bovinos.

Quem fez tratamento estratégico com carrapaticidas nos meses de baixa infestação (já informado em colunas prévias) colhe agora os bons resultados de pequeno ataque por carrapatos. Para o tratamento de bovinos muito “carrapatados”, consulte seu veterinário, que fará a medicação de acordo com o princípio ativo que melhor atua em sua propriedade. 

Figura 2.
Bovino infestado por carrapatas "jabuticaba".

Fonte: Enrico Ortolani

Infestação por mosca-dos-estábulos em SP e Sul do Pará

 

Embora a temporada de chuvas e de calor facilitem a multiplicação da mosca-dos-estábulos, é fundamental para sua reprodução a presença de locais (substratos) que favoreçam o crescimento e a alimentação das larvas, como acúmulo de resíduos orgânicos de origem animal ou vegetal.

Segundo apuramos, há relatos de um ataque massivo dessas moscas nos municípios paulistas de Morro Agudo, ligado a fertilização de lavouras de cana-de-açúcar com vinhoto ou vinhaça (também chamado de “garapão”) vizinhas às criações; e em Santa Cruz do Rio Pardo, ligado a compostagem de palhada de café e fezes bovinas. No Sul do Pará (Xinguara e Santana do Araguaia), está ligado à introdução de gado em pastagens subutilizadas em que correu acúmulo de palhada.

O controle dessa infestação não é tão fácil como se pensa, principalmente em pastagens subutilizadas.

Quanto a compostagem de café + fezes bovinas, recomenda-se a cobertura completa das pilhas com lona plástica, por 40 dias, para evitar a postura de ovos pelas moscas.

No caso do uso de vinhoto nas culturas de cana, o controle é mais complicado e depende do manejo deste líquido nas fazendas de plantação ou usinas de cana. Em pequenas propriedades sugere-se colocação, pela manhã ou entardecer, de várias armadilhas contendo inseticida ou cola entomológica, 20 metros entre si, próximo ao piquete (figura 3). 

Figura 3.
Armadilha para combate da mosca-dos-estábulos.

Fonte: Enrico Ortolani

O vai e vem da mosca-dos-chifres

 

Embora a mosca-dos-chifres viva praticamente todo tempo em cima do boi, ela sai para colocar seus ovos (contendo larvas) nas fezes frescas do bovino.

A temperatura alta acelera o desenvolvimento das larvas, as quais se tornarão moscas adultas mais rapidamente.

Um tanto de chuva é bom para manter as fezes úmidas, porém excesso de pluviosidade desintegrará as placas de fezes e o sol matará grande parte destas larvas. Entre 100 mm e 200 mm de chuva por mês é o ideal para a sobrevivência destas, mas quando a chuvarada é exagerada e muito forte (o que tem aumentado com as mudanças climáticas) a morte das larvas é enorme.

Assim, as chuvas mais fortes em novembro e dezembro levaram a diminuição do ataque de moscas-dos-chifres, principalmente no final deste último mês, em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e Goiás. A infestação de moscas, no Norte de Tocantins e na parte Oeste do Maranhão, que estava muita alta em novembro, deu uma trégua, em especial no último estado citado, mas ainda é grande em Tocantins, que choveu menos. Com o passar dos anos grande parte dos mosquicidas têm perdido muito a eficácia no combate da mosca-dos-chifres, o que torna complicado o controle dela! 

Figura 4.
Ataque de mosca-dos-chifres.

Fonte: Enrico Ortolani

Focos de raiva bovina em SP

 

Apenas São Paulo, dos 9 estados consultados (RS; MG; MT; RO; AC; PI; GO e PB) confirmaram casos de raiva bovina nos últimos 30 dias. Em São Paulo, os focos de raiva bovina foram confirmados nos seguintes municípios: Quintana, Santana do Parnaíba, Salesópolis, São João da Boa Vista e Mairinque (CDA-SP).

O técnico responsável pelo programa estadual, Dr. Guilherme Shin Iwamoto Haga, comentou que além da confirmação laboratorial da doença, foram capturados, tratados com pasta vampiricida e soltos morcegos hematófagos nesses municípios citados.

Quando os morcegos voltam para seus abrigos estima-se que para cada um tratado com a pasta morram outros 20 alados, após outros morcegos lamberam a pasta anticoagulante aplicado no corpo do medicado. O técnico ainda recomenda a vacinação contra raiva bovina de todos os animais dos rebanhos destes municípios, sugerindo a revacinação após 30 dias. 

Figura 5.
Morcego capturado, tratado e depois solto.

Fonte: Enrico Ortolani

INDEA-MT faz balanço anual da raiva bovina

 

Embora não tenha ocorrido focos de raiva bovina no MT em dezembro, o INDEA fez um balanço anual dos focos suspeitos de raiva bovina.

Dos 145 focos suspeitos de raiva, foram confirmados 43 deles, sendo 37 em municípios do Cerrado, 4 na região amazônica e 2 nas áreas do Pantanal mato-grossense (figura 6).

Segundo o Dr. Felipe Peixoto de Arruda, as moradias dos morcegos no Cerrado se concentravam em cavernas naturais, casas, poços e cisternas abandonados e embaixo de pontes; no Pantanal, em troncos ocos de árvores; e na região amazônica em grutas naturais. Nessas áreas e em rebanhos que se constataram mordeduras de morcegos, a equipe do INDEA capturou morcegos para controle populacional, além da vacinação obrigatória contra raiva nos rebanhos da região. Dois casos suspeitos de raiva foram diagnosticados como polioencefalomalacia e como encefalite por herpesvírus 5.

Figura 6.
Mapa dos locais de focos de raiva no Mato Grosso.

Fonte: INDEA-MT

Raiva em anta, em SP

 

Terminamos a coluna, com uma notícia curiosa. A equipe da CDA-SP confirmou o diagnóstico de raiva em uma anta adulta, criada em um centro ambiental de preservação, no município de Itu, a 110km da capital.

Antes de morrer a anta apresentou andar cambaleante, salivação, queda e movimentos de pedalagem das pernas, muito indicativo da chamada raiva paralítica, transmitida por morcegos hematófagos. A tipificação posterior do vírus confirmou ser este transmitido por morcegos. Recomendou-se a vacinação contra raiva de todos os mamíferos desse centro.

Figura 7.
Anta que foi acometida por raiva.

Fonte: Enrico Ortolani

Referências bibliográficas

Coordenadoria de Defesa Animal e Vegetal, CDA-SP

Instituto de Defesa Agropecuária, INDEA-MT


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