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Scot Consultoria

Radar sanitário para abril


Segunda-feira, 27 de março de 2023 - 06h00

Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo. É professor titular do departamento de clínica médica pela FMVZ-USP, especializado em Clínica de Ruminantes (ortolani@usp.br).


Foto: Bela Magrela


Tratamento estratégico contra fascíola hepática em bovinos do Sul/Sudeste

Em abril, o único tratamento estratégico sugerido é contra fascíola hepática, empregando antiparasitários a base de tricabendazole, nitroxinil, clorsulon ou closantel. Recomenda-se essa aplicação nas seguintes áreas: Rio Grande do Sul, com exceção da região Noroeste; Santa Catarina nas regiões do planalto e do litoral; Paraná, o litoral e municípios centrais; São Paulo, Vale do Ribeira e do Paraíba, além do município de Buri. A fasciolose causa perda de peso, anemia e em casos extremos até a morte.

Figura 1.
Parasitas adultos de F. hepática no fígado de bovinos.

Fonte: Enrico Ortolani

“Vaca louca” no Pará. O “inédito” raio X da propriedade e do animal!

A partir de fonte confiável e técnica, obtive informações inéditas e detalhadas da propriedade e do bovino diagnosticado com Encefalopatia Espongiforme Bovina atípica, a “vaca louca”, que chacoalhou mais uma vez a exportação de carne e o preço da arroba, de Norte ao Sul do país.

Propriedade. Situada no município de Marabá, a fazendola tem cerca de 150 hectares e é considerada um agrupamento familiar, com suas terras anteriormente regularizadas e cedidas pelo INCRA, e tocada pela mãe e seus filhos. A propriedade possui 160 cabeças, com uma parte de vacas para produção de leite e outra de corte. Segundo apurado, o rebanho é constituído de 70 vacas, 38 bezerros, um touro e os demais machos (vendidos para o abate, com média de 3,5 anos) e novilhas. Todo o rebanho foi vacinado recentemente contra febre aftosa e as bezerras contra brucelose. Embora Marabá não esteja na lista dos 50 municípios paraenses onde a vacinação contra raiva é obrigatória, todo o gado é anualmente vacinado contra esta doença. O rebanho recebe continuamente sal mineral “batizado” com sal comum e nunca foi suplementado com ureia e “cama-de-frango”.

Animal. Diagnosticado com EEB atípica, foi o touro, da raça Nelore, empregado na reprodução. O bovino foi comprado há cinco anos de outra propriedade da região e, na época, foi vendido como se tivesse a idade de quatro anos. A fonte consultada suspeita que na compra ele fosse mais velho, ultrapassando a idade registrada oficialmente de nove anos, confirmada apenas pelo histórico e não pelo desgaste dos dentes incisivos.

O quadro nervoso surgiu de repente, até então o bovino estava normal e com condição corporal considerada boa. Na tarde do dia anterior à eutanásia, notou-se que o animal, líder do rebanho, ficou por último, quando da lida, caminhando lentamente e com alguma dificuldade. Já pela manhã apresentou-se deitado lateralmente, com a cabeça flexionada, na posição de “mirar estrelas” (opistótono), mas ainda mantinha o olhar vivo, reagindo parcialmente aos estímulos sonoros e de dor. Sua musculatura não estava tensa e não apresentava tremores, mas sim um certo grau de paralisia.

O bovino não mugia e não apresentava espasmos indicativos de dor. O quadro clínico evoluiu rapidamente, no decorrer do dia, com o bovino perdendo sua consciência e entrando num estado de coma, quando se optou pela eutanásia, seguido de necrópsia e coleta de amostras para exames. A carcaça foi incinerada, impossibilitando confirmar a idade de forma mais precisa. O exame inicial foi negativo para raiva e, posteriormente, foi confirmada a ocorrência de EEB, tanto em laboratório brasileiro, quanto ao canadense.      

Estudos dos casos de EEB que ocorreram pelo mundo indicam que a idade média de bovinos com a doença é de 12 anos, enquanto nos casos típicos (que ingeriram o agente causador por meio de farinha de carne bovina) é de cinco. Cerca de 80% dos casos de EEB atípica confirmados aconteceram em bovinos de corte e em fêmeas. Por sinal, este é o primeiro caso de EEB atípica em machos, no Brasil. Enquanto na forma típica, o animal ingere a proteína infecciosa pela ração, já na atípica, uma proteína semelhante, que existe no cérebro (príon), pode sofrer mutação durante o envelhecimento, se multiplicando para valer no cérebro e causando a doença.

Uma encefalopatia espongiforme (doença de Creutzfeldt-Jacob - DCJ) acomete seres humanos com mais de 65 anos, gerando quadro de demência, que se desenvolve da mesma forma que a EEB atípica, ou seja, por mutação do príon cerebral. Estudos epidemiológicos, em humanos, indicaram uma pessoa a cada milhão que atinge os 70 anos desenvolve a DCJ, porém falta o mesmo levantamento em relação à EEB atípica, descrita, até hoje, em não mais de 70 bovinos mundo afora.

Figura 2.
Caso de EEB em bovino europeu.

Fonte: Enrico Ortolani

Ataque da mosca-dos-estábulos em confinamento goiano

Equipe de parasitologistas goianos detectou um ataque, de grau médio (10 a 20 moscas nas pernas dianteiras), de mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans) num confinamento em Nazário – GO. A fonte de multiplicação das moscas ocorreu em pastagens passadas, com algum grau de decomposição, devido ao grande crescimento, excesso de chuvas e acamamento da forragem. Tais pastagens, situadas a 1,5 km do confinamento, foram empregadas para alojar grande quantidade de gado, que seria em seguida transferida para o confinamento.

A pastagem em decomposição misturada ao esterco se mostrou um bom meio de cultura para o crescimento das larvas da referida mosca, que voam até 3 km em busca de suas vítimas. Estudos indicaram que essas moscas sugam sangue e irritam os bovinos, concentrando seu ataque nas pernas dianteiras. Certamente, ocorreu diminuição de ganho de peso na boiada confinada. Com a roçada das pastagens e a diminuição na quantidade de chuvas, o ataque de moscas abrandou e agora não representa mais um problema.

Figura 3.
Ataque severo de moscas-dos-estábulos nas pernas dianteiras.
Stable flies on leg of steer (left, photographer David Cook) and damage...  | Download Scientific Diagram
Fonte: Enrico Ortolani

Paramphistomum ataca no Acre e em São Paulo

Foram descritos quadros de perda de peso, emagrecimento, diarreia e anemia, com grau mais severo em desmamados e com menor intensidade em bovinos com até 3 anos de idade, em rebanhos de Rio Branco-AC e em Itaporanga-SP. Em ambas as situações, foram encontradas exemplares de vermes chatos adultos de Paramphistomum na parede ruminal na necrópsia (figura 4).

Figura 4.
Paramphistomum adulto na parede do rúmen.

Fonte: Enrico Ortolani

Nessas fazendas, existem áreas alagadiças com presença de caramujos, que são os hospedeiros intermediários das larvas de Paramphistomum, proporcionando que migrem para os capins, sendo em seguida ingeridas pelos bovinos. Os vermes jovens se alojam no começo dos intestinos e então se alimentam do sangue, provocando uma séria inflamação local, já maduras migram para o rúmen, se fixando na parede. O tratamento indicado é com vermífugos a base de oxoclonazida ou closantel.

Figura 5.
Inflamação no intestino delgado por Paramphistomum.

Fonte: Enrico Ortolani

Com a chuvarada, berne é um problema no Sudeste

Segundo contagens seriadas do número de bernes, por conta das chuvas, aumentou no rebanho acompanhado (em Sorocaba – SP) em torno de 15% em relação a fevereiro, que já estava alto. Semelhante observação foi constatada em Botucatu – SP e no Triângulo Mineiro. Tanto o excesso de chuva, como o maior calor ambiente, nessa época, aumenta o risco de ocorrência de bernes em pastagens relativamente montanhosas e com muitas árvores no Sudeste.

O calor e o excesso de chuva aumentam a quantidade de outras moscas que carregam as larvas de berne para a pele do bovino. A mosca adulta do berne pula em outras moscas e deposita em seus abdomens as larvas, as quais, por estímulo do calor da pele bovina e dos gases aí emitidos, saltam e perfuram a derme dos animais.

Figura 6.
Mosca adulta do berne saltando em outras moscas para colocar suas larvas.

Fonte: Desenho cedido por Marcelo Campos Pereira

Figura 7.
Moscas que levam as larvas de berne (em branco) para a pele do boi.

Fonte: Enrico Ortolani

Resistência dos bernes à doramectina

Constatações feitas nos municípios de Sorocaba e de Botucatu, identificaram que o antiparasitário doramectina, da família das avermectinas (lactonas macrocíclicas), praticamente não tem mais efeito na eliminação de larvas de berne, em bovinos destas áreas. A doramectina foi lançada no mercado brasileiro em 1994 e sua eficiência contra o berne era de 100%.

Diferente da ivermectina que em menos de dez anos do seu lançamento, em 1982, já tinha perdido a eficiência contra bernes, a doramectina foi por longos períodos muito atuante, perdendo esta eficácia, principalmente, nos últimos 3 anos de uso. Agora poucos medicamentos tradicionais têm alguma ação contra os bernes, em especial os organofosforados e, em algumas áreas do país, o fipronil. Porém, um medicamento, recém-lançado no mercado, a base de fluralaner, é sem dúvida ainda o mais eficiente.

Figura 8.
Molécula de doramectina, que perdeu de vez sua eficiência como bernicida.

Fonte: Enrico Ortolani

Doença de origem genética em bezerros Nelore baianos

Foi me relatado o ocorrido em 25 bezerros, num lote de 834 vacas paridas, numa propriedade do interior da Bahia, com várias alterações nos olhos, ao nascimento, o qual diagnostiquei como “cisto dermoide ocular”, oriundo, mais frequentemente, de alteração genética de caráter recessiva (tanto o touro quanto a vaca têm que ter o gene problemático, para o surgimento do problema, se um só deles tem o gene a alteração não ocorre).

Segundo a literatura, algumas raças (Simmental, Hereford e Holandesa) podem apresentar tal problema. Por motivos não bem conhecidos, no começo da gestação, quando ocorre a formação dos olhos, há aparecimento de tecido idêntico à pele recobrindo estes órgãos, de um lado ou dos dois. Assim sobre os olhos ou nas pálpebras podem nascer estruturas semelhantes a verrugas (enegrecidas no caso da presença de melanócitos, ou esbranquiçadas sem melanócitos) ou tecidos semelhantes a pele nua, que podem conter até pelos. Nesse caso, foi sugerido não mais empregar os touros problemáticos para cobertura. Boa parte dessas formações podem ser retiradas cirurgicamente.

Figura 9.
Bovino com alteração genética nos olhos.

Fonte: Enrico Ortolani

Intoxicação por monensina em confinamento paulista

Em um lote de 700 garrotes, de 360 kg no dia 0 do confinamento, foi constatada a morte de 78 bovinos, iniciadas no 13º dia de cocho, continuando a ocorrer até o 33º dia. A dieta de adaptação foi composta com 15% de núcleo (minerais + proteína + bicarbonato + monensina), 75% de milho em grão e 10% feno, passando a receber, no 20º dia, a mesma quantidade de núcleo, 82,5% de milho e 5% de feno. Os sintomas apresentados foram um pouco diferentes dos que morreram no início do surto (quadro subagudo) e nos casos mais tardios (quadro crônico).

Nos primeiros: perda de apetite, fraqueza, dificuldade em locomover, ansiedade, queda e morte. Nos últimos: surgiram os mesmos sintomas, além da presença de inchaços nas partes baixas do corpo, falta de ar e insuficiência cardíaca.

Na necrópsia, foram encontradas lesões características na musculatura esquelética e cardíaca, alterações hepáticas e presença de líquidos nos pulmões, barriga e outras partes baixas. A concentração de monensina no núcleo estava dentro do esperado (195 mg/kg de produto) e o erro aconteceu no pequeno tempo de mistura da ração, fazendo com que os lotes afetados recebessem maior quantidade de núcleo, no decorrer de várias semanas. A correção do manejo encerrou o surto, com a morte de outros dois animais que já apresentavam sintomas evoluídos.

Figura 10.
Animais caídos e deprimidos, com inchaço no abdômen.      
Fonte: Enrico Ortolani

Surto de pneumonia em bezerros desmamados confinados no Rio Grande do Sul

Foi descrito um surto de pneumonia em 120 garrotes mestiços Angus-Hereford recém-desmamados e que entraram, recentemente, em confinamento, no município de Santiago, com morte de cerca de 20% destes. Acredita-se que a longa estiagem, seguida de muita chuva, e o estresse da desmama e da entrada no confinamento foram os desencadeantes do problema.

Os quadros de pneumonia foram mais drásticos nos desmamados mais novos e leves, algo que já constatamos num confinamento paulista. Nesse nosso estudo, garrotes com peso inferior a 12 arrobas (360 kg) tiveram um risco 4,6 maior de terem pneumonia que bovinos acima de 440 kg. Segundo a fonte veterinária que acompanhou o surto gaúcho, boa parte dos bovinos mortos tiveram uma pneumonia fibrinosa, possivelmente causada por bactérias do gênero Mannheimia, Histophillus ou Pasteurella, enquanto alguns tiveram pneumonia intersticial causada possivelmente pelo vírus sincicial respiratório.

Os animais doentes foram tratados com antibiótico e anti-inflamatório não esteroidal e apresentaram boa resposta à terapia. Foi sugerido também a vacinação prévia à entrada do confinamento com vacinas específicas contra os agentes citados.

Figura 11.
Bezerro desmamado com quadro de pneumonia.

Fonte: Enrico Ortolani

Raiva bovina pelo Brasil afora

Com as informações oficiais das agências estaduais de defesa animal, na secção de raiva, informamos os surtos ou focos de raiva bovina, acontecidos nos últimos 40 dias, nos seguintes estados e municípios:

Amazonas: Tefé, Careiro e Autazes;

Pará: Salvaterra;

Minas Gerais: Caranaíba, São João do Pacuí, Araxá, Coqueiral, Monte Carmelo, Ilicínea;

São Paulo: Ribeirão Grande e Joanópolis;

Rio Grande do Sul: Jaguari, Lavras do Sul, Cachoeira do Sul, Dom Fabrício, Gravataí, Parobé, São Miguel das Missões;

Paraná: Rio Bonito do Iguaçu.

Recomenda-se que todos os bovinos do rebanho sejam vacinados nesses municípios citados, no mínimo uma vez ao ano.

Mande sua notícia da presença de focos ou surtos recentes dos mais variados tipos de doenças em gado de corte para o seguinte e-mail: ortolani@usp.br


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