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Radar sanitário para maio


Quinta-feira, 4 de maio de 2023 - 09h00

Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo. É professor titular do departamento de clínica médica pela FMVZ-USP, especializado em Clínica de Ruminantes (ortolani@usp.br).


 

Enfim, maio chegou

Maio e novembro são marcantes para o calendário sanitário em todos os estados do Brasil Central (regiões Sudeste e Centro-Oeste; Paraná; Norte de Santa Catarina; Tocantins; Rondônia; Acre; Sul do Amazonas e do Pará; Oeste e Sul da Bahia). Nestes meses, um conjunto de vacinações e de vermifugação estratégica acontecem. Vamos a eles.

Vacinação contra brucelose

A vacinação é obrigatória em todo o território nacional, em bezerras de 3 a 8 meses de idade, com o emprego da vacina B19. A brucelose ainda é um problema, principalmente no Pará e no Amazonas. Constitui uma exceção Santa Catarina, que desobrigou a vacinação com a B19, devido ao baixíssimo nível de infecção nos rebanhos. Porém, por um descuido, a brucelose acometeu vários plantéis no planalto catarinense, no final da década passada. Desde então, obriga-se a vacinação das fêmeas de rebanhos diagnosticados com a doença com a vacina RB51.

Tanto a vacina B19 como a RB51 são produzidas com cepas de Brucela abortus que não causam mal a bovinos (mas sim a seres humanos; daí a necessidade de todo cuidado na vacinação, pois uma espetada com a agulha da vacina pode dar origem à doença). A vacina B19 produz anticorpos que podem interferir em provas laboratoriais de diagnóstico corriqueiro, enquanto a RB51 não provoca tal interferência em bovinos.

Não vacine bezerras ao mesmo tempo contra brucelose e clostridioses


Pesquisa, feita na UFMG, identificou que a vacinação em bezerras (3 a 8 meses de idade) no mesmo dia contra brucelose e clostridioses diminuiu a produção de anticorpos contra as clostridioses, em especial contra o botulismo e a enterotoxemia. Isso ocorre pois exige-se, dos bovinos duplamente vacinados, a produção de anticorpos contra múltiplos agentes das clostridioses, que serão de alguma forma menos formados pela interferência momentânea da vacina de brucelose. Assim, recomenda-se que a vacinação contra clostridioses seja feita um mês após a de brucelose.

Vacinação contra febre aftosa em bovinos e bubalinos

Após o MAPA suspender recentemente a vacinação contra febre aftosa em rebanhos de seis estados e o Distrito Federal (componentes do bloco IV, em azul na figura 1), 15 estados ainda necessitam vacinar (em branco), entre eles São Paulo, Pará, Bahia e Rio de Janeiro. Em alguns deles, a vacinação deve ser feita em todos os animais do rebanho (AL, AM, CE, MA, PA, PB, PI, RR e RN), enquanto em outros estados, a vacinação é só em bovinos e bubalinos de até 24 meses (BA, RJ, SE e SP).

O plano do MAPA é parar a vacinação em todo país até 2026, sendo que nos dias de hoje, cerca de metade da população destas espécies (113 milhões) deixou de ser vacinada.

Os estados que já fizeram a lição de casa (alto percentual contínuo de vacinação, treinamento de agentes estaduais de defesa animal para vigilância contra a doença e adoção de fundo monetário para ressarcir possíveis focos da enfermidade que surjam, entre outras medidas) já não necessitam vacinar. Dizem as “boas-línguas” que São Paulo deve entrar nessa lista em breve. Vamos ver o andar da carruagem!

Figura 1. 
Estratégia de vacinação contra febre aftosa no Brasil.

Fonte: MAPA

Vermifugação estratégica no Brasil Central

Estudos, bem conduzidos pela EMBRAPA e pela UFMS, indicaram que os estados do Brasil Central (regiões Sudeste e Centro-Oeste; Paraná; Norte de Santa Catarina; Tocantins; Rondônia; Acre; Sul do Amazonas e do Pará; Oeste e Sul da Bahia) devem vermifugar estrategicamente bovinos da desmama até dois anos de idade em maio (5), agosto (8) e novembro (11), no famoso esquema 5-8-11. Bovinos dessa idade são os que mais têm verminose e que contaminam as pastagens.

Esse esquema, além de combater os parasitas, ajuda a descontaminar as pastagens. Fiz minhas próprias pesquisas e, para maio (5), recomendo a vermifugação com dois princípios ativos: o albendazole (na sua forma pura ou de sulfóxido) ou o fembendazole, sendo o primeiro injetável e o segundo via oral. Vários cuidados devem ser tomados na vermifugação oral, para que seja mais eficiente. Leia a matéria que escrevi na Revista DBO a respeito. 

Vacinação obrigatória contra raiva em Goiás e no Pará

Em Goiás e no Pará, são obrigatórias as vacinações contra raiva bovina em todos os animais dos rebanhos de 121 e 50 municípios, respectivamente. Consulte as listas dos municípios nos seguintes sites: para Goiás em www.agrodefesa.go.gov.br, clicando na conexão eletrônica do Sidago, e para o Pará em: http://adepara.pa.gov.br//programa-de-controle-da-raiva-dos-herbivoros-e-outras-encefalopatias-transmissiveis). No Pará, a comprovação deve ser feita pelo produtor, junto ao Adepará, até 15 de junho.

Recomendo uma única vacinação anual em todos os bovinos brasileiros, com mais de três meses de idade.

Confinamento de “seca”: prevenção da pneumonia

Basicamente, temos dois grandes períodos de confinamento no Brasil: o das secas e o das chuvas. Cerca de 70% do gado é engordado no ciclo de confinamento das secas, que se iniciam agora. A principal enfermidade reinante nos confinamentos é a pneumonia, sendo responsável por um pouco mais de 50% de todas as doenças.

Acompanhamos a frequência de pneumonia nos ciclos de confinamento nas chuvas e nas secas, sendo 70% maior neste último período do ano. No período seco, os quadros respiratórios triplicaram em ambientes que têm poeira. Para aplacar a poeira nos piquetes, empregam-se dois tipos de sistemas, os pulverizadores por rede suspensa (figura 2) e os jatos d’água com caminhão pipa e por estaca (figura 3 e 4).

Figura 2.
Pulverizadores por aspersão.


Fonte: Enrico Ortolani

Figura 3.
Pulverizadores por jatos d’água com caminhão pipa.


Fonte: Enrico Ortolani

Figura 4.
Pulverizadores por jatos d’água por estaca.


Fonte: Enrico Ortolani 

Segundo constatei em confinamentos, os pulverizadores por rede suspensa são mais eficientes na prevenção das pneumonias, quando comparados aos jatos d’água, pois geram menos lama e problemas de casco se bem empregados, que neste último método.

Em um levantamento que fiz, verifiquei que bois com problemas de casco tem um risco 70% maior a terem pneumonia, do que os bovinos sadios. Assim, agora é hora de checar sua fonte de abastecimento de água, os encanamentos e bicos aspersores de água para evitar a poeira.

Muitos me perguntam sobre a eficácia das vacinas contra as pneumonias. Temos boas vacinas no mercado. Porém, para essas vacinas terem plena eficiência, necessitam ser empregadas duas vezes (1ª: 20 dias antes do embarque e 2ª: no primeiro dia de confinamento), pois grande parte das pneumonias ocorrem até os 30 dias de cocho. Com duas vacinações, a quantidade de anticorpos produzidos nesse período é maior. Assim, combine com seu fornecedor de bois magros para vaciná-los com antecedência.

“Precocinhas” mineiras morreram de verminose

Propriedade de cria, da região metropolitana de Belo Horizonte, comprou 220 novilhas “precocinhas” da raça Nelore, com 18 a 22 meses, boa parte gestantes. Quando chegaram, foram tratadas com um vermífugo a base de ivermectina 3,5%, mas os resultados não foram favoráveis. Dentro do lote, 45 das novilhas (20,45% morbidade) apresentaram emagrecimento progressivo, diarreia, tosse e anemia, resultando na morte de 21 delas (9,5% mortalidade).

No exame de fezes, parte do lote constatou grande presença de ovos de vermes. Na necropsia, foram encontradas grandes quantidades de vermes nos pulmões (Dyctiocaulus viviparus), no abomaso (Haemonchus placei), nos intestinos delgado (Cooperia spp) e grosso (Oesophagostomum spp). Frente aos problemas constatados, os veterinários que atenderam o caso mudaram o protocolo de vermifugação, empregando outra base de medicamento.

Embora o histórico do rebanho não fosse conhecido, tudo indica que o esquema de vermifugação na propriedade anterior não estava bem conduzido.

No Brasil, está comprovado que a cada dia que passa, a ivermectina diminui mais sua eficiência contra uma série de vermes gastrointestinais comuns, entre eles a Cooperia, o Haemonchus, e o Oesophagostomum.

Recentemente, têm sido descritos alguns surtos de vermes pulmonares que também estão resistentes à ivermectina. Esta base de vermífugo, lançada em 1982, tinha uma eficiência próxima a 100% a todos os vermes citados no texto! O excesso e o seu mau uso levaram à seleção de uma população de vermes cada vez mais resistentes.

Figura 5.
Vermes adultos pulmonares.

   
Fonte: Enrico Ortolani

Figura 6.
Vermes adultos de Haemonchus placei no abomaso.


Fonte: Enrico Ortolani 

Figura 7.
Nódulos parasitários na parede do intestino grosso.


Fonte: Enrico Ortolani

“Requeima” ataca em Mato Grosso do Sul e em São Paulo

Focos de “requeima”, conhecida cientificamente como fotossensibilização, acometeu oito bovinos em Coxim-MS e seis em Sorocaba-SP. Nos dois focos, os bovinos da raça Nelore estavam pastejando o capim Brachiaria decumbens. No caso sul-mato-grossense, novilhas compradas foram colocadas no piquete em questão e já com sete dias de pastejo apresentaram o quadro de pele. Em ambos os municípios, assim como em muitos outros em parte do Brasil, ocorreram ondas de calor nos primeiros meses do ano e chuva recorde (Sorocaba: 984 mm só em janeiro e fevereiro; Coxim: 102 mm num único dia de janeiro).

Essas condições climáticas favorecem a multiplicação do fungo Phytomyces chartarum, que produz uma toxina (esporodesmina) ou, em alguns casos, o acúmulo de saponinas nos capins, principalmente do gênero Brachiaria. Tanto a esporodesmina como a saponina causam lesão hepática, interferindo na degradação, neste órgão, de um metabólito da clorofila (filoeritrina). Essa substância cai no sangue e quando passa pela pele, os raios solares provocam a formação de substâncias tóxicas no local (radicais livres), os quais causam um tipo de queimadura solar nas partes mais expostas ao sol e áreas mais despigmentadas da pele (figura 8), provocando inflamação, necrose e até um quadro gangrenoso na pele. A perda de peso é notória.

Grande parte dos casos surgem entre abril e agosto. Não existe um antídoto contra essas toxinas e os famosos medicamentos antitóxicos de nada adiantam. O controle deve ser feito retirando-se os bovinos do pasto problemático, colocando-os numa área com capins diferentes e que contenha muita sombra. Para diminuir a produção de radicais livres na pele, recomenda-se aumentar a quantidade oferecida de zinco na dieta. Para tal, procure orientação do seu médico-veterinário ou nutricionista de plantão. Para voltar a empregar a pastagem contaminada, recomenda-se roçar baixo o pasto, para ter o efeito positivo da insolação e para que um novo capim nasça sem a presença do fungo.

Figura 8.
Bezerros desmamados apresentando “requeima”.  


Fonte: Enrico Ortolani

Enterotoxemia em bovinos confinados em São Paulo e na Bolívia

Mortes ocorreram em um confinamento no Norte do estado de São Paulo (n=12) e outro no interior da Bolívia (n=2). Os bovinos em questão tinham entre 27 e 50 dias de cocho, estavam bem nutridos e com boa condição corporal. Segundo os tratadores, eram bovinos dominantes nos seus lotes, ou seja, os primeiros que chegavam no cocho e que mais ingeriam ração, apresentando um ganho de peso acima da média. A dieta, quando das mortes, continha 85% (São Paulo) e 80% (Bolívia) de ração concentrada, rica em energia. Todos os bovinos foram adequadamente adaptados e não apresentaram evidências de acidose ruminal, quando realizada necrópsia.

Obteve-se no histórico, de ambos os casos, que no dia anterior a morte, ocorreu atraso de muitas horas na entrega da ração, que era oferecida três vezes por dia. As mortes aconteceram de forma súbita 26 a 28 horas após a alteração na entrega de alimentos. Os bovinos não apresentaram sintomas evidentes, a não ser isolamento do rebanho e falta de apetite. Na necropsia foi verificado a presença de vasta hemorragia no intestino delgado (Figura 10), em especial nos segmentos do jejuno. Esse quadro é característico de uma doença causada por uma bactéria (Clostridium perfringens, tipo A), que normalmente habita o intestino, mas que em condições excepcionais, geradas por excesso de consumo de energia e passagem de muito amido ao intestino, se multiplica rapidamente produzindo uma toxina que provoca a hemorragia generalizada e a morte.

Bovinos dominantes que ficam muitas horas sem comer, quando estão famintos, ingerem até 30% a mais de ração, sendo o gatilho para o início do quadro. Recomendou-se, aos proprietários, um treinamento aos tratadores e um controle rígido da oferta de alimentos, assim como a vacinação contra clostridioses na entrada do confinamento, com vacina que contivesse a cepa de C. perfringens tipo A, nem sempre presente nas vacinas comerciais do mercado.

Figura 9.
Morte súbita por enterotoxemia.

Fonte: Enrico Ortolani   

Figura 10.
Hemorragia no intestino delgado.

Fonte: Enrico Ortolani

Figura 11.
Bovino sendo vacinado.

Fonte: Enrico Ortolani

Caso de raiva em pecuarista mineiro

Em 7 de abril, um pecuarista, de 60 anos, do município de Mantena, Leste de Minas Gerais na divisa com o Espírito Santo, foi internado com quadro de confusão mental e outros sintomas nervosos, cuja primeira suspeita médica foi de raiva. Devido à grande piora do caso, o paciente foi internado, em 13 de abril, em estado crítico na UTI de um grande hospital estadual em Serra, no Espírito Santo. Dois dias depois, veio a confirmação laboratorial de raiva, também certificado pelo Instituto Pasteur de São Paulo. O paciente veio a falecer. Geralmente, neste estágio, a raiva humana é fatal.

Dois brasileiros sobreviveram à doença avançada, com o tratamento de imunoglobulinas específicas, porém vivem, hoje, em estado quase vegetativo. Uma judiação! 

O contágio do pecuarista mineiro ocorreu cerca de 15 dias antes de sua internação. Segundo informações, um bezerro de três meses de idade, de sua propriedade, mudou de comportamento e começou a salivar bastante (sialorreia). Imaginando que talvez o animal estivesse engasgado, o pecuarista colocou a mão, sem qualquer proteção, em sua garganta para retirar o possível objeto que lá teria parado, mas nada encontrou. Certamente, teve contato com a saliva contaminada com o vírus rábico, que deve ter penetrado em alguma ferida na mão do criador. Segundo fontes, ele não vacinava seu rebanho contra raiva.

Um criador do mesmo município disse que, por já ter perdido vários bovinos com raiva, passou a vacinar seu rebanho anualmente, sem perder nenhum animal pela doença, tendo o mesmo acontecido com outros pecuaristas da redondeza. Mas também afirmou que muitos criadores, por lá, ainda não vacinam contra raiva. Preocupante!

Técnicos, da Prefeitura de Mantena-MG, foram à propriedade e sacrificaram, incineraram e enterraram o bezerro, sem coletar material apropriado para comprovação laboratorial de raiva. Um completo despreparo! O correto seria chamar os técnicos da Defesa Sanitária Animal Estadual, no caso de Minas Gerais, o IMA, para realizarem tal tarefa. Temos muito ainda o que avançar na chamada vigilância sanitária animal!

Até a virada do século, a principal forma de contágio de raiva, para os brasileiros, era por mordida de cães raivosos. Porém, a raiva canina está muito bem controlada atualmente, por meio de vacinações em massa de cães no Brasil, com exceção de algumas áreas rurais no Nordeste. Desde então, a principal forma de contágio para o homem tem sido por mordidas de morcegos hematófagos contaminados, com o vírus rábico, que vem lamber sangue em algumas pessoas, geralmente habitante de regiões rurais.

Em 2022, quatro jovens indígenas morreram dessa forma no vale do Mucuri-MG. A raiva pode matar morcegos hematófagos, porém a doença demora mais a acontecer nestas espécies.

A contaminação dos morcegos não-hematófagos (frugívoros, insetívoros etc.) se dá, pois alados de várias espécies podem conviver numa mesma caverna ou local de abrigo e o hematófago pode, ocasionalmente, contaminar o não-hematófago.

Alguns casos de raiva têm acontecido em pessoas que tentam ajudar morcegos vivos e caídos no chão, mas já acometidos pela raiva. A reação imediata dos alados é morder quem os apreende, contaminando assim o incauto!

Além de vacinar anualmente todos os bovinos do rebanho, acima de 17 dias de idade, contra raiva, deve-se, imediatamente, comunicar as autoridades da defesa sanitária animal quando algum quadro nervoso surgir em suas rezes, fato não tão comum no meio pecuário. Prevenção das doenças e caldo de galinha não fazem mal a ninguém!

Surto de manqueira em bezerros desmamados no Acre e na Paraíba

Quando se pensa que doenças triviais e de fácil prevenção pararam de ocorrer, elas surgem em nossa frente, caso não sejam tomadas as devidas previdências. Foi o que aconteceu numa fazenda de cria e recria no município do Rio Branco, no Acre, e outra em Areias, no semiárido paraibano. No Acre, seis bezerros desmamados da raça Nelore (três machos e três fêmeas), de nove meses de idade e condição corporal ótima, sucumbiram de manqueira (carbúnculo sintomático). Enquanto, na Paraíba, morreram nove bovinos desmamados, com menos de um ano, com rápido crescimento e com condições corporais semelhantes. Segundo informações, em ambos os casos, as mães multíparas eram boas produtoras de leite. No Acre, os desmamados eram mantidos em excelentes pastagens de Brachiaria humidicola, consorciadas com amendoim-forrageiro (Arachis pintoi).

Chama a atenção que, em ambas as propriedades, os bovinos não foram, em nenhum momento, vacinados contra o carbúnculo sintomático. Os bovinos doentes subitamente se isolaram do rebanho, começaram a apresentar inchaços no pescoço, na paleta, ou na musculatura do “traseiro” e morreram dentro de algumas horas, ou já eram encontrados mortos, se posicionando com as pernas e o pescoço esticados (figura 12).

O carbúnculo é causado pelo crescimento explosivo da bactéria Clostridium chauvoei, que normalmente se encontra adormecida em pequena quantidade na musculatura viçosa e que, na excessiva multiplicação, produz uma toxina, lesando gravemente a musculatura esquelética ou cardíaca.

O gatilho para a multiplicação da bactéria pode ser uma batida, uma briga, trauma ou até ferida no local. Nunca abra ou faça uma necrópsia de bovino com suspeita de manqueira, pois isso aumentará a contaminação do solo com Clostridium chauvoei, elevando a chance de novos casos da doença.        

Figura 12.
Bovino jovem e gordo acometido por manqueira.


Fonte: Enrico Ortolani

Fique de olho nos casos de tristeza no Rio Grande do Sul

Tiago Galina, professor de parasitologia da Unipampa, chama a atenção dos criadores gaúchos, em especial os das áreas dos pampas, para o aumento da infestação de carrapatos e possíveis casos de tristeza parasitária (anaplasmose e babesiose) em bovinos.

Embora, este ano, tenha acabado de ocorrer uma seca prolongada e intensa na região, com as primeiras chuvas, os ovos de carrapatos sobreviventes se tornaram larvas e já “subiram” nos bovinos.

Segundo o professor, o risco de tristeza nessa condição meteorológica aumenta, pois os bovinos ficaram muito tempo sem contato com os carrapatos, diminuindo suas “resistências” contra os agentes das plasmoses, principalmente, as rezes até 18 meses de idade.

No caso de presença de carrapatos, isolamento, febre e abatimento dos bovinos, chame imediatamente seu veterinário de plantão para analisar a possibilidade de ser tristeza parasitária e, no caso afirmativo, tratá-la de forma rápida e efetiva, pois com caso de tristeza ninguém dorme.  

Focos e surtos de raiva, Brasil afora

Nos municípios listados a seguir, foram confirmados focos ou surtos de raiva bovina recentemente, requerendo vacinação rábica de todos os bovinos (acima de 17 dias de vida) dos rebanhos de até 30 km no entorno.

Pará: São Felix do Xingú1

Paraíba: Areias, Alagoa Grande, Pilões e Guarabira7

Minas Gerais: Carmópolis de Minas, Delfim Moreira, Natércia, Campos Gerais e Resplendor. Possivelmente também, Mantena, onde ocorreu o caso humano de raiva5

São Paulo: Fartura4

Paraná: Londrina, Ortigueira, Guarapuava e Prudentópolis2

Santa Catarina: Alfredo Wagner3

Rio Grande do Sul: Itati e Jari6

Boa sorte com seu rebanho e até o mês que vem!

Mande sua notícia da presença de focos ou surtos recentes dos mais variados tipos de doenças em gado de corte para o seguinte e-mail: ortolani@usp.br

Referências bibliográficas

1 Agência de Defesa Agropecuária de Estado do Pará, Adepará

2 Associação das Defensoras e Defensores Públicos do Paraná, ADEPAR

3 Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina, CIDASC

4 Inspetoria de Defesa Agropecuária de São Paulo, EDA

5 Instituto Mineiro de Agropecuária, IMA

6 Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, SEAPI

7 Universidade Federal de Campina Grande, campus de Patos, UFCG


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