Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo. É professor titular do departamento de clínica médica pela FMVZ-USP, especializado em Clínica de Ruminantes (ortolani@usp.br).
Segundo recomendações da Embrapa, chegou a hora de vermifugar estrategicamente todos os bovinos desmamados de até dois anos, criados em todo o Rio Grande do Sul e no planalto catarinense. As regiões não-serranas de Santa Catarina têm um clima mais semelhante ao do Brasil Central e realizam tal vermifugação em outros meses.
Os parasitologistas da Embrapa indicam o emprego de anti-helmínticos a base de levamisole nessa etapa. A vermifugação estratégica, além de reduzir a quantidade de vermes, diminui a contaminação das pastagens com as larvas de parasitas, evitando, no período que se segue, novas infestações gastrointestinais e pulmonares ocorram.
A partir de agora, o volume de chuvas diminui para valer no Brasil Central, voltando a chover do final de setembro em frente. O excesso de chuva danifica certos tipos de cocho, em especial os de madeira e os de tronco inteiriço, com destaque aos não cobertos. Assim, junho é um bom mês para repararmos os danos ou mesmo substituir, redimensionar e incrementar os cochos de suplemento mineral.
Caso o sal mineral ou sal proteinado seja colocado diariamente, não há necessidade de se cobrir o cocho, porém, num estudo, verifiquei que o sal mineral colocado em excesso em cocho descoberto provoca empedramento do sal, o que leva a uma redução de 50% de seu consumo e um menor ganho de peso. Além de cobertura superior recomenda-se fechamento lateral para evitar chuvas de vento (figura 4).
Outro problema comum, em nosso meio, são cochos pequenos para o lote. O ideal é oferecer 6 centímetros lineares por boi em cochos com acesso pelos dois lados. A falta de espaço no cocho diminui muito o consumo, principalmente em gado Nelore, que segue uma hierarquia de preferência de chegada no cocho, fazendo com os líderes e sublíderes ingiram quantidades adequadas de sal e os de menor ranque social ingiram menos ou simplesmente não ingiram sal mineral.
O redimensionamento dos cochos, a subdivisão deste em cochos menores, e quando colocados de forma separada evita esse problema de hierarquia. Coloque isso em prática!
Figura 1.
Cocho de madeira umidificado e já danificado.
Fonte: Enrico Ortolani
Figura 2.
Cocho danificado.
Fonte: Enrico Ortolani
Figura 3.
Caso típico de cocho pequeno.
Fonte: Enrico Ortolani
Figura 4.
Cocho ideal com cobertura superior e lateral.
Fonte: Enrico Ortolani
Segundo apuramos com um reconhecido veterinário do Acre, a recente e constante queda do preço pago pela arroba fez com que muitos pecuaristas substituíssem o sal mineral de boa qualidade pelo “sal batizado”, com uma parte de sal balanceado para até cinco de sal branco, e que aumentasse as vendas da chamada “barriquinha de suplementos” em que se chega a recomendar a adição de um quilo do produto, vendido como “sal completo” para 25 a 60 kg de sal comum. Uma afronta!
O técnico também comentou que alguns poucos criadores simplesmente deixaram de ofertar até sal comum. O colega atendeu uma boiada original que foi vendida, há cinco meses, para dois comparadores distintos, um deles que ofertava suplemento mineral de boa quantidade e à vontade e outro que oferecia uma mistura de um quilo de sal da “barriquinha” para 40 kg de sal branco. Os dois lotes estavam em pasto verde nesse período.
O gado com o sal balanceado ganhou em torno de 500 gramas diárias, enquanto o de “barriquinha” só 300 gramas diárias. Os bovinos do último grupo, caso não fossem suplementados, seriam fortes candidatos a terem carência de fósforo a longo prazo, que pode reduzir o consumo de alimento em até 40%, entre outras consequências.
Esses produtos da chamada “barriquinha” geralmente não contêm fósforo, cálcio, enxofre e magnésio, apenas alguns microelementos (cobre, cobalto, iodo, selênio, zinco etc.), os quais, quando muito misturados com o sal, ofertam quantidades insuficientes destes microelementos para o gado.
Os técnicos que inspecionam produtos do MAPA deveriam rever e cassar o registro desses produtos, que são uma verdadeira enganação na minha opinião, pois são baratos, aparentemente vantajosos, mas ineficientes.
Garrotes e novilhas a campo devem receber um bom suplemento mineral com no mínimo 40 a 60 gramas de fósforo por quilo de suplemento por todo ano.
Mesmo em tempo de “vacas magras”, procure manter o básico para seu rebanho, para que o desempenho deste não seja ruim, o que te levará a lamentos no futuro.
Notícia quente, que acabou de ocorrer! Veterinários, que atendem fazendas numa microrregião do Sul de Goiás, descreveram grave surto de verminose pulmonar por Dictyocaulus viviparus, em duas fazendas próximas, numa delas em um grande lote de novilhas (± 18 meses) e outra numa bezerrada desmamada (± 7 meses), ambos da raça Nelore. Após o exame detalhado, registraram que 4% e 25% dos desmamados e das novilhas, respectivamente, foram acometidos com a doença, mas que a mortalidade foi maior na bezerrada (8%) que nas novilhas (2,5%).
Os veterinários registraram que, em ambos os casos, os bovinos tinham sido tratados em fevereiro com albendazole e que não tinham sido vermifugados ainda em maio. Antes de chamar os veterinários, os proprietários trataram, sem sucesso, os doentes com antibióticos. Os bovinos apresentavam emagrecimento progressivo, tosse, catarro nas narinas e respiração mais acelerada. Na necropsia, foi constatada a presença de grande quantidade de vermes adultos (figura 5), na abertura dos pulmões e da traqueia, de até 6 a 8 cm de comprimento, e formas mais jovens e menores do parasita no interior dos brônquios e bronquíolos, acompanhado de muita secreção bolhosa.
Ficou claro que ocorreu erro no esquema de vermifugação nesses casos, pois a eficácia do tratamento é baixa e não necessária em fevereiro e o lote já deveria ter sido vermifugado no começo de maio, segundo o esquema de vermifugação estratégica recomendada para a área do Brasil Central.
O verme Dictyocaulus tem um ciclo de vida interessante. Os vermes adultos copulam nos pulmões, seus ovos saem pela traqueia, são engolidos e vão aos intestinos. Aí as larvinhas “saem” dos ovos e são eliminadas nas fezes. As larvas sobrevivem muito bem em pastagens úmidas e altas, se transformando em larvas maiores e ficam prontas para serem ingeridas pelo bovino. Chegando nos intestinos, as larvas perfuram este órgão e caem no sangue, passam pelo coração e chegam na extremidade dos pulmões, onde migram, crescem e causam muito estrago nos alvéolos (onde há oxigenação do sangue), bronquíolos e brônquios (por onde entram e saem o ar).
Embora os vermes pulmonares vivam em ambientes de temperaturas não tão altas, têm sido encontrados parasitando bois de Norte a Sul do Brasil, inclusive na Amazônia. Surtos de dictiocaulose praticamente não foram descritos desde meados de 1980, quando foram lançadas as avermectinas, mas nessa última década estão pipocando em muitos rebanhos pelo Brasil afora. Fique atento!
Figura 5.
Vermes adultos dentro dos pulmões.
Fonte: Enrico Ortolani
Figura 6.
Vermes adultos recuperados.
Fonte: Enrico Ortolani
Figura 7.
Desmamado com sintomas de dictiocaulose.
Fonte: Enrico Ortolani
Informações da Universidade Unipampa, em Uruguaiana – RS, atestam que está ocorrendo agora um surto de mortalidade em bovinos jovens na região da fronteira do RS com o Uruguai e a Argentina. O causador do problema é a ingestão da planta tóxica chamada popularmente de “Mio-Mio” (Baccharis coridifolia), que está em florescimento nessa época do ano. Nas flores, a quantidade de toxina pode ser até 16 vezes superior ao conteúdo de suas folhas.
Os bovinos que mais sofrem são os que foram comprados de outras regiões do estado, onde não tem a planta, e colocados em pastagens infestadas com o “Mio-Mio”. Enquanto os bovinos nativos não comem a planta, a não ser em condição de “fome excessiva”, os novatos a ingerem para valer e sofrem as consequências.
Segundo relatos, 10% dos novatos que passam por isso morrem. Os seguintes sintomas são apresentados: “timpanismo” (meteorismo ruminal), algum grau “andar de bêbado”, intranquilidade demonstrada por se deitar e se levantar continuamente, longa permanência deitado, primeiro de “quilha” e depois de lado, evoluindo para a morte em algumas horas.
As toxinas (tricotecenos) são produzidas por certos fungos do solo, absorvidas por pouquíssimas plantas, entre elas a B. coridifolia, e acumuladas principalmente nas inflorescências. As toxinas provocam grande inflamação na parede do rúmen abomaso e intestinos, alterações hepáticas e em outros órgãos internos.
Os tratamentos realizados por fazendeiros (cal e carvão ativado via oral) parecem ser ineficazes. Na prevenção, sugere-se que os bovinos, oriundos de outras áreas onde não existe a planta, sejam aos poucos (1 hora por dia) colocados em pastagens que tenham Mio-Mio, aumentando gradativamente esse tempo, até que, em 10 dias, os bovinos se acostumem e não passem mais a ingerir a planta.
Figura 8.
Morte num lote que comeu “Mio-Mio”.
Fonte: Enrico Ortolani
Figura 9.
Ovinos intoxicados experimentalmente por “Mio-Mio”.
Fonte: Enrico Ortolani
Figura 10.
Distribuição de Baccharis coridifolia.
Fonte: Tokarnia et al., (2000)
Figura 11.
Planta de Mio-Mio florida.
Fonte: Enrico Ortolani
Num lote de bovinos engordados num boitel, de um estado da região Sul, cujo proprietário pediu para não ser divulgado, foi encontrada, no abate, a presença de grande quantidade de vermes adultos de Fasciola hepatica no fígado em cerca de duas dezenas deles. Todos os fígados positivos foram condenados para o consumo. Coincidentemente, todos os bovinos positivos eram de uma única propriedade, criados na própria região do confinamento.
Segundo um técnico do boitel, os bovinos parasitados tiveram um ganho de peso bem abaixo da média, tendo que ficar mais dias no confinamento para atingirem o peso mínimo de abate. Além disso, a cobertura de gordura e o enchimento da carcaça desse lote estavam aquém do desejado. Estudos indicam que essa parasitose, além de diminuir o ganho de peso, interfere na conversão alimentar e na deposição de proteína na musculatura, gerando carcaças mais leves.
Praticamente, pode-se afirmar que essa boiada não contraiu a doença no confinamento, já apresentando a parasitose na sua entrada no centro da engorda. Quando do encontro no matadouro, os bovinos já tinham parasitas adultos indicando que estavam com um quadro crônico da doença. Estudos demonstraram que o parasita adulto pode permanecer no fígado acima de 20 semanas.
A Fasciola hepatica além de sugar sangue, o que pode provocar anemia, causa um estrago no fígado e contribuí para a perda de proteína pela bile (fel). Casos muito graves de perda de proteína levam ao aparecimento de inchaço na região baixo da mandíbula, que não foi o caso dos bovinos desse surto.
Algumas condições são necessárias para o surgimento de fasciolose num rebanho, entre elas a presença de pastagens em banhados, onde se desenvolvem certos caramujos do gênero Lymnaea (espécies viatrix ou columella).
A Fasciola, para fechar seu ciclo, deve passar uma etapa de sua vida dentro do caramujo. Vermes adultos copulam no fígado, eliminam os ovos pela bile e vão para os intestinos, sendo eliminados nas fezes. As larvas (miracídeos) saem dos ovos e penetram no caramujo, tornam-se maiores e se maturam; saem do caramujo e ficam na água ou nos capins esperando ser engolidas pelos bovinos, perfuram os intestinos e chegam ao fígado onde se tornam adultas, veja o ciclo completo na figura 14.
Nesse caso, a recomendação técnica foi o tratamento com vermífugo específico, na entrada do confinamento, de todos os animais daquela propriedade específica, que apresentava alto risco de fasciolose, sem necessidade de serem vermifugados os bovinos de outras fazendas indenes.
Figura 12.
Fasciola hepatica adulta no fígado.
Fonte: Enrico Ortolani
Figura 13.
Caramujo do gênero Lymnaea.
Fonte: Enrico Ortolani
Figura 14.
Ciclo de vida da Fascíola hepática.
Fonte: Roberts; Janovy (2009).
Figura 15.
Bovino com inchaço debaixo da mandíbula.
Fonte: Enrico Ortolani
Figura 16.
Percentuais de fígados com Fasciola hepatica nos estados.
Fonte: Enrico Ortolani
Nos seguintes municípios, foram recentemente confirmados focos ou surtos de raiva bovina, requerendo vacinação rábica de todos os animais (acima de 17 dias de vida) dos rebanhos até 30 km no entorno.
PARÁ: Tomé-Açu (ADEPARÁ)
Os bovinos acometidos de raiva nesse foco, segundo a ADEPARÁ, tinham em torno de 4 meses e tinham sido vacinados recentemente. Para que a vacina produza quantidades suficientes de anticorpos para proteger contra a raiva, em bovinos jovens, são necessárias duas vacinações intervaladas de 30 dias. Em todo o Brasil, a frequência de raiva é maior em bovinos com menos de 12 meses, que nos mais velhos. Por isso, recomendo que todo bezerro deva ser vacinado aos 2 e 3 meses de idade, repetindo-se a vacinação simples a cada ano.
GOIÁS: Corumbaíba e Padre Bernardo (AGRODEFESA)
Está sendo estudado, por este órgão, o motivo da ocorrência do foco de raiva em Padre Bernardo, que é município com alto risco para doença e que é obrigatória a vacinação. 119 municípios goianos se enquadram nessa obrigatoriedade de vacinação. Segundo a AGRODEFESA-GO, em caso de simulações comprovadas de vacinação, o produtor é autuado e passa a ter a vacinação assistida por um fiscal. Nem pensar!
MATO GROSSO: Sinop, Cáceres, Santo Antônio de Leverger e Nobres (INDEA-MT)
SÃO PAULO: Quintana, Fartura, Aparecida e Socorro (EDA)
RIO GRANDE DO SUL: Alegrete, Cachoeira do Sul, Dom Feliciano, Gravataí, Itaqui, Itati, Jaguari, Jari, Lavras do Sul, Pedras Altas, Redentora, Rio Pardo e Santiago (SEAPI)
PARÁ: São Felix do Xingú (ADEPARÁ)
PARAÍBA: Areias, Alagoa Grande, Pilões e Guarabira (UFCG - Patos)
MINAS GERAIS: Carmópolis de Minas, Delfim Moreira, Natércia, Campos Gerais e Resplendor. Possivelmente também, Mantena, onde ocorreu o caso humano de raiva (IMA)
PARANÁ: Londrina, Ortigueira, Guarapuava e Prudentópolis (ADEPAR)
SANTA CATARINA: Alfredo Wagner (CIDASC)
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