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Scot Consultoria

Radar sanitário para agosto


Sexta-feira, 28 de julho de 2023 - 09h00

Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo. É professor titular do departamento de clínica médica pela FMVZ-USP, especializado em Clínica de Ruminantes (ortolani@usp.br).



Vermifugação estratégica em rebanhos do Brasil Central

Vários estudos identificaram que os bovinos, da desmama até os dois anos de idade, criados na área chamada Brasil Central Pecuário (planícies de SC, PR, todos estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste, RO, AC e sul do AM, PA, MA e PI, centro e sul da BA) necessitam ser vermifugados estrategicamente três vezes ao ano, no esquema chamado “5-8-11”. Em agosto, é hora da 2ª vermifugação em bovinos dessa faixa etária. Recomendo o uso de vermífugos a base de Levamisole nessa etapa.

A ideia da vermifugação estratégica é diminuir os vermes, no decorrer do ano, nos animais mais jovens, que têm maior risco de verminose, e reduzir muito a contaminação das pastagens com larvas dos futuros helmintos. Segundo testes que acompanhei, essas vermifugações estratégicas garantem ao final do ano uma arroba a mais que os bovinos vermifugados só na campanha da aftosa (maio e novembro) e quase 50 kg a mais dos não tratados. Não esqueça!

Bezerrada está nascendo: cuidados com a cria

Você está careca de saber dos cuidados com a cria no nascimento. Muitos bezerros morrem de diarreia dos 12 aos 20 dias de idade, quando nascem em piquete de parição muito empregado e não trocado por anos, que vai ficando cada vez mais contaminado, em áreas sujas e com capim alto e em locais alagadiços ou muito úmidos.

Se assim for, troque o piquete de parição por uma área limpa, plana e descontaminada. Cure o umbigo com solução de iodo a 6% ou com medicamentos apropriados, jamais empregando apenas spray larvicida.

Use antiparasitários para prevenir a bicheira. Segundo constatei, tratamentos com antibióticos, no primeiro dia de vida, não surtem efeito na prevenção de futuras infecções. Boa sorte e trate bem da sua bezerrada!

Surto de anaplasmose em desmamados no pantanal

Veterinários me confirmaram que está ocorrendo um surto de anaplasmose e alguns poucos casos de babesiose em bovinos desmamados de 8 a 12 meses, em especial nos mestiços, criados na região do município de Coxim, no Pantanal do MS.

O fenômeno está ligado à súbita explosão da população de carrapatos (Rhipicephalus microplus), parasitas estes que transmitem tanto a anaplasmose como a babesiose.  O ano passado e o começo deste ano foram marcados por prolongada seca nessa região, que diminuiu muito a sobrevivência de carrapatos nas pastagens e no ambiente.

Tal seca esteve ligada a influência do fenômeno La Niña no Oceano Pacífico, o qual foi seguido pelo El Niño, que tem efeito contrário, porém este ano foi mais forte que em vezes anteriores, fazendo com que chovesse, até o momento, 1.126 mm, 37% a mais que a média tradicional para o período. Essa alta umidade favoreceu a sobrevivência de larvas de R. microplus no ambiente, que atacou, em seguida, a bezerrada para valer.

A pergunta que fica é por que essa faixa etária foi mais atacada pela anaplasmose?

Tudo indica que essa categoria nasceu e ficou bastante tempo sem contato com carrapatos, assim como com a bactéria Anaplasma marginale, que causa a anaplasmose. Isso não estimulou a produção de anticorpos de proteção contra a doença nessa categoria animal.

Na anaplasmose, a bactéria se multiplica nos glóbulos vermelhos do sangue e causa febre, muita tristeza e abatimento, falta de apetite, anemia e, em muitos casos, morte. A anemia se dá pela sinalização por parte do A. marginale ao organismo do animal que os glóbulos vermelhos atacados já estão muito velhos, mesmo que eles sejam jovens, e devem ser destruídos inapelavelmente pelo baço.

Os veterinários informantes tiveram que fazer tratamento em massa contra o A. marginale em todos os desmamados sob risco, para evitar novos casos da doença. Se você tem a propriedade na região procure imediatamente seu veterinário de confiança para realizar o mesmo!

Figura 1.
Glóbulos vermelhos atacados pelo A. marginale (seta).


Fonte: Enrico L. Ortolani

Figura 2.
Anemia causada pelo A. marginale


Fonte: Enrico L. Ortolani

Surto de raiva em bovinos do noroeste do Pará

Segundo dados fidedignos de veterinários, está ocorrendo um surto de raiva em bovinos de corte criados no nordeste do estado do Pará, na divisa com o Maranhão.

Em boa parte dos municípios dessa região, a vacinação anual contra raiva é obrigatória, devido à grande presença de morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue), sendo que muitos deles estão contaminados com o vírus da raiva.

Os veterinários citaram que grande parte dos animais raivosos são oriundos de alguns rebanhos não-vacinados, que chegaram a perder 3% a 4% dos bovinos. Porém, os colegas atenderam bezerros de 30 a 40 dias de idade com raiva, em rebanhos vacinados.

Segundo trabalhos internacionais, a vacinação de bovinos muito jovens (menos de 30 dias) não os protege contra raiva, pois a produção de anticorpos é baixíssima nestes animais, não os protegendo.

Deve-se deixar bem claro que, embora os veterinários tenham recomendado a vacinação contra a raiva, a decisão final dos proprietários de não vacinar prevaleceu e, após os corretos conselhos e da perda de vários animais, agora os fazendeiros já estão vacinando. Devido ao medo de alguma represália por parte da Defesa Sanitária do Estado (ADEPARÁ), todos os casos suspeitos de raiva não foram registrados pelas fazendas que vacinaram ou não, tanto que o ADEPARÁ oficialmente desconhece a presença desses casos.

A totalidade dos animais raivosos apresentou o quadro paralítico, ou seja, passaram a andar como bêbado, tropeçando nas pernas traseiras, a babar e a bocejar. Em seguida, caem e podem morrer entre dois e seis dias.

A prevenção recomendada é uma vacinação anual de todo o rebanho, a partir de bovinos de um mês de idade. Se sua área é problemática vacine seu rebanho, para não marcar toca e perder bovinos como aconteceu com esses pecuaristas paraenses!

Tanto bezerros, como bovinos mais erados podem morrer de raiva.

Figura 3.
Bezerro com sintomas de raiva.


Fonte: Enrico L. Ortolani

Verminose em rebanhos maranhenses

O excesso de chuvas no primeiro semestre na região noroeste do Maranhão, na divisa com o estado do Pará, favoreceu o surgimento de surtos de verminose, devido à grande sobrevivência de larvas dos vermes dos gêneros Trichostrongylus, Haemonchus e Cooperia nos capins, que atacam o estômago (abomaso) e o intestino delgado.

Segundo o pesquisador da Universidade Federal do Maranhão que acompanha o surto, os bovinos mais atingidos eram os desmamados até 2 anos de idade em propriedade que não adotaram a vermifugação estratégica.

Em muitos casos, os animais apresentaram anemia, principalmente pela ação do verme Haemonchus placei, reconhecido sugador de sangue, e diarreia, provocado pelos outros dois vermes. Deve-se deixar bem claro que dois destes vermes (Haemonchus e Cooperia) são altamente resistentes às ivermectinas, que ainda os pecuaristas e alguns técnicos insistem em empregar no tratamento das boiadas. Isola!

Figura 4.
Trichostrongylus e Cooperia podem provocar diarreia.


Fonte: Enrico L. Ortolani

Dermatofitose em touros de elite

A dermatofitose, também chamada de doença do anel, devido a sua forma circular, é causada pelo ataque do fungo Trichophyton verrucosum na pele do animal, em especial no pescoço, pernas, cabeça e costado.

Em pequena escala, essa dermatite não causa grandes prejuízos, mas quando se espalha demais pelo corpo e provoca uma reação semelhante a uma verruga, pode provocar alguma perda de peso, além de gerar um feio aspecto estético. Essa doença é mais comum nos períodos chuvosos, em ambientes úmidos e em confinamentos, pois a doença pode ser transmissível, inclusive do boi para o homem. Bovinos muito jovens têm mais chance de ter a doença que adultos.

A explicação para isso é que a pele do gado menos erado tem um pH (grau de acidez) mais alcalino, ou seja, menos ácido e uma menor produção de sebo que os mais adultos. Junto com o sebo, há produção de certos ácidos graxos que acidificam a pele e que tem uma ação fungicida contra o agente causador da doença.

Descreve-se aqui o surgimento de tricofitose em touros de elite (figura 5) que foram submetidos a muitos banhos, com uso de detergente empregado na cozinha, que retirou a camada protetiva de sebo. Além disso, o veterinário notou que eles não estavam bem secos quando voltaram para as baias de estabulação, condições que favoreceram o crescimento do fungo.

O surgimento das lesões na pele provocou um aspecto visual ruim em touros que iriam participar em breve de uma exposição de gado. A correção do manejo e o uso de antisséptico local nas lesões corrigiu eficazmente a dermatose.

Figura 5.
Trocofitose afetando um touro de elite.


Fonte: Veterinário Guilherme S. I. Haga

Aproveito para agradecer o médico veterinário Guilherme Shin Iwamoto Haga, que, até julho último, foi o responsável pela Campanha de Controle de Raiva, na Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), em todo estado de SP.

Desde a primeira edição do “Radar Sanitário”, em julho de 2022, Guilherme informou mensalmente os dados de todos os casos de raiva para a comunidade pecuária paulista, com o intuito de prevenir a doença. Devido à mudança de comando na área da Defesa Animal em SP, Guilherme foi substituído por um outro colega veterinário (Dr. Paulo Fadio), que continuará seu profícuo trabalho. Guilherme assume agora novas atividades na CDA, na regional de Botucatu-SP.

Focos de raiva pelo Brasil afora

PA: Rondon do Pará e Bom Jesus do Tocantins (Fonte: ADEPARÁ).

BA: Valença (Fonte ADAB).

MG: Paineiras, Capela Nova, Almenara, Caraí, Natércia, Guaranésia, Coromandel, Monte Belo, Conceição do Mato Dentro, Visconde do Rio Branco, Muzambinho e São Vicente de Minas (Fonte: IMA).

SP: Juquitiba, Piedade, Ibiúna, São João da Boa Vista e Cajuru (Fonte: CDA).

PR: Cascavel e Ampére (Fonte ADAPAR).

Recomenda-se a vacinação contra raiva bovina de todos os animais do rebanho, a partir de 30 dias de idade, das propriedades dos municípios listados acima, ou de outros municípios limítrofes. A vacina é barata e previne adequadamente.


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