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Scot Consultoria

Radar Sanitário de junho de 2024


Sexta-feira, 14 de junho de 2024 - 14h00

Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo. É professor titular do departamento de clínica médica pela FMVZ-USP, especializado em Clínica de Ruminantes (ortolani@usp.br).



Os bovinos acometidos tinham ao redor de 80 dias de cocho e dentro de aproximadamente 15 dias seriam enviados para o abate. Os doentes apresentaram apatia, diminuição do apetite, perda de peso, febre de pequena intensidade, eliminação de fezes diarreicas sanguinolentas e malcheirosas por uns dois a três dias, e um certo grau de desidratação. Por sugestão, os animais foram imediatamente isolados do ambiente e tratados por alguns dias com sulfonamida específica, melhorando no decorrer da terapia e voltando a ganhar peso. Embora essa sulfa fosse menos eficiente no tratamento do que o medicamento à base de toltrazuril, esse antibiótico não pode ser usado, pois seu período de carência é de 60 dias, inviabilizando os animais de irem ao abate, enquanto da sulfa é de apenas quatro dias.

Coccidiose é muito mais frequente em bovinos de até oito meses de idade que em adultos, cuja ocorrência é ocasional e geralmente não acomete um grande número de rezes no rebanho. A gravidade do caso vai depender da quantidade de oocistos de Eimeria spp ingeridos, ou pela água ou pelos alimentos contaminados com o parasita. Aparentemente, no confinamento a água era tratada, os alimentos isentos de contaminação fecal e, os cochos e bebedouros eram elevados, dificultando a contaminação com fezes diarreicas contendo oocisto do parasita. Acredita-se que algum bovino do lote que estivesse eliminando oocistos do parasita tenha contaminado o alimento que porventura estivesse no chão, o qual pode ter sido ingerido por um bovino, que posteriormente contaminou os demais. Todo cuidado é pouco!

Figura 1. Fezes sanguinolentas e malcheirosas (pode ser sugestiva de coccidiose).

Fonte: Enrico L. Ortolani 

Surto de paranfistossome em gado maranhense

Professor da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Maranhão, descreveu recentemente um surto de paranfistossomose em rebanho do município de Bacabal, região central do Maranhão. Morreram 18 bovinos, de 24 a 36 meses de idade, de um lote de cerca de 400 animais que pastejavam exclusivamente áreas de baixadas da propriedade, que tinha ao redor de 2.000 cabeças, mas boa parte deles mantidas em áreas mais elevadas, não submetidas ao alagamento. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o acumulado nos primeiros meses de 2024 no Maranhão, em especial em Bacabal, foi bem acima da média, atingindo ao redor de 900 mm, o que deve ter favorecido o crescimento de caramujos, incluindo os do gênero Planorbis, que foram encontrados em grande quantidade, no piquete em questão, pelo professor maranhense.

Os animais com parafintossomose apresentavam perda de peso, diarreia, desânimo, anemia (volume globular médio de 18%) e inchaço embaixo da ganacha (edema submandibular). Um número maior de bovinos do mesmo lote apresentava sintomas mais leves, comparado com os que morreram. Na necropsia foi constatado a presença de parasitas adultos de Paramphistomum cervi no rúmen (± 1 cm de comprimento) e de formas jovens (± 1 a 2 mm) encistada na parede do primeiro segmento (duodeno) do intestino delgado, que se apresentava bastante inflamado.

Figura 2. Inchaço debaixo da ganacha.

Fonte: Enrico L. Ortolani

Figura 3. Anemia pode ser encontrada na paranfisotossome grave.

Fonte: Enrico L. Ortolani 

Figura 4. Parasita adulto (róseo) na parede do rúmen.

Fonte: Enrico L. Ortolani

Figura 5. Intestino muito inflamado na paranfistomatose.

Fonte: Enrico L. Ortolani 

O ciclo do Paramphistomum cervi (vide abaixo) é indireto, ou seja, para completar sua vida tem que passar pelo caramujo. Os ovos do verme chato saem pelas fezes do bovino. Já no meio exterior, de dentro do ovo saí uma larvinha (miracídio) que penetra num caramujo (planorbídeo). No interior deste, no decorrer de quatro semanas, evolui para dois diferentes estágios (esporocisto e rédias), se multiplica de forma assexuada e saí do molusco na forma de cercaria (com cauda), no meio ambiente perde a cauda (metacercária) e fica esperando o animal ingeri-lo na pastagem. Após a ingestão a metacercária se transforma numa larva e penetra no intestino delgado, e por aí permanece por até sete semanas ingerindo sangue e causando um grande dano na parede. Após isso, migram de volta para o rúmen, se tornam adultos, copulam e eliminam os ovos nas fezes. No rúmen não causam grande danos, pois se alimentam em sua maioria de conteúdo ruminal. Desde a ingestão dos ovos até a eliminação deste nas fezes demora ao redor de 10 semanas.

O controle ideal seria evitar a colocação de bovinos nos locais alagadiços que albergam o caramujo e fazer o tratamento terapêutico com medicamentos à base de nitroxinil. Ainda faltam estudos nos estados que comprovadamente têm a paranfistossomose (RS, PR, SP, AC, MA e PA) para determinar os momentos certos para o tratamento estratégico contra esta doença e diminuir a quantidade de parasitos no ambiente, tarefa para a prodigiosa classe dos parasitologistas veterinários brasileiros!

Figura 6. Ciclo biológico do Paramphistomum cervi.

Fonte: Bianca Telesse, 2014


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