Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo. É professor titular do departamento de clínica médica pela FMVZ-USP, especializado em Clínica de Ruminantes (ortolani@usp.br).
Foto: Scot Consultoria
Essa coluna consta de duas partes: A) Manejo Sanitário para o mês; B) Registro recente de doenças transmissíveis ou não, sugerindo medidas para suas prevenções. Tais registros são obtidos com o apoio das Agências Estaduais de Defesa Sanitária Animal, de Professores Universitários, do MAPA, da EMBRAPA, e da rede de contato de veterinários de campo, assim como minhas observações.
Em meados do mês de maio último, o SINDAN (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal) informou o MAPA que a produção de vacina contra brucelose não iria atender, temporariamente, todo o mercado de ruminantes, existindo um déficit de cerca de cinco milhões de doses, para uma necessidade global de 15 milhões de doses. Mesmo assim o SINDAN prometeu que esse déficit seria compensado no mês de junho. Com essa informação, o MAPA recomendou a todos os Serviços Estaduais de Defesa de Saúde Animal, para que prorrogassem a cobrança de vacinação das fêmeas de três a oito meses de idade, com a vacina B19 ou RB51.
Entrei em contato com diversas Defesas Animais Estaduais perguntando qual será o prazo de entrega da comprovação de vacinação. Em alguns estados (Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás, Rondônia e Piauí), pode-se entregar a documentação no decorrer de todo ano, um mês depois da vacinação da bezerrada, não comprometendo o pecuarista. Já em São Paulo, em que a vacinação deve ser feita em maio e novembro, a Secretaria da Agricultura já prorrogou a entrega dos comprovantes de vacinação por dois meses, até o dia 31 de agosto (figura 1). O INDEA-MT (Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso) também prorrogou a entrega para o dia 2 de agosto. Idêntica atitude foi tomada pelo estado do Acre, que estendeu a entrega de comprovantes até 30 de setembro (figura 2). Ouvi alguns veterinários desses três estados, todos elogiaram e ficaram satisfeitos com essas prorrogações.
Figura 1. Folder de divulgação da prorrogação da campanha de vacinação contra brucelose no estado de São Paulo.
Fonte: Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo.
Figura 2. Folder de divulgação da prorrogação da campanha de vacinação contra brucelose no estado do Acre.
Fonte: Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre.
Apurei, que até o final da edição do RADAR, que ainda estava faltando no mercado, a vacina B19 no interior de Goiás, São Paulo e no Rio Grande do Norte. Em São Paulo, a vacina RB51 está disponível no comércio, porém muitos veterinários estão no aguardo da chegada da B19, pois a vacina RB51 custa praticamente o tripo do preço. Além deste fato, alguns veterinários de campo declararam que estão tradicionalmente habituados ao uso de B19 e que não se sentem seguros no emprego da RB51. Uma campanha de conscientização aos profissionais, é necessária e deve ser feita pelo MAPA, Defesas Estaduais e até a empresa veterinária que produz a vacina RB51.
Por outro lado, um representante de uma loja de produtos veterinários, autorizada para vender vacinas contra brucelose no interior do Ceará, disse que lá não há a falta de vacina, mas que o índice de vacinação é baixíssimo na região, tendo que destruir um grande lote de vacinas vencidas e não vendidas no decorrer de 2023, e que no presente ano, a procura por esta vacina ainda continua baixa. A mesma situação de baixo índice vacinal foi também externado por profissionais do Rio Grande do Norte. Muito triste, assim dificilmente controlaremos essa importante doença dos rebanhos brasileiros!
Figura 3. Folder de divulgação da campanha de vacinação contra brucelose no estado de São Paulo.
Fonte: Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo.
Seguindo o calendário de cobertura ou inseminação da vacada de meados de outubro a janeiro, os bezerros vão começar a nascer no mês de agosto. Assim, julho é o mês de preparo de materiais e treinamento para peões para o nascimento de bezerros. Lave ou compre novos os frascos apropriados para o tratamento do umbigo (figura 4); deixe preparado já nos frascos solução de iodo a 6,0% ou o uso de produto comercial adequado (consulte seu veterinário). Treine os “materneiros” para a imersão de todo o umbigo na solução desinfetante por 30 segundos a 1 minuto nessa solução, evitando de molhar a pele do bezerro, pois provocará uma inflamação no local. Compre uma solução de iodo forte a 10,0% e use 600 mL dessa solução em 400 mL de água filtrada ou álcool absoluto. Estoque essa solução num frasco escuro (frasco claro pode interferir no produto) e só no começo da estação de parição transfira a solução para o frasco apropriado.
Prepare também a solução de antiparasitário, para a prevenção da bicheira no umbigo, disponibilizando seringas e agulhas descartáveis para a aplicação subcutânea. Resultados desapontantes tem sido obtido com o uso de ivermectina, devido à alta resistência das larvas de bicheira a este princípio ativo. Embora a eficiência da doramectina esteja diminuindo a cada ano, ainda muitos técnicos têm recomendado o seu uso.
Muitos me perguntam da necessidade do uso de antibióticos injetáveis no primeiro dia do nascimento. Acompanhei uma fazenda que tratou metade dos bezerros com esse medicamento e a outra metade não. Não existiu diferença entre os grupos nas frequências de inflamações de umbigo e diarreias. Deve-se evitar o uso de antibióticos quando não necessário, pois além de ter um custo, aumenta a chance de resistência de bactérias a esses medicamentos.
Figura 4. Recipiente sem retorno para a imersão do umbigo.
Fonte: Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul.
Agora que as águas baixaram, é hora de levantar o número de mortes e perdas de bovinos de corte. A Secretaria de Agricultura e o CNA/SENAR do Rio Grande do Sul em breve irão contabilizar precisamente as perdas, por meio da declaração anual de rebanho, que deve ser entregue pelos criadores até o final de julho. O CNA/SENAR está averiguando essas perdas nos 120 municípios mais atingidos do estado e a Secretaria em 140 municipalidades menos afetadas. Até o momento, a Secretaria já apurou a morte de cerca de 1.000 bovinos e de muitos desaparecidos. Os números completos serão informados no próximo RADAR. Segundo várias informações, boa parte das fazendas gaúchas inundadas eram de pequenos criadores e de agricultura familiar, produtores de leite ou de criações de dupla aptidão, e alguns rebanhos de gado de corte, em especial no Vale do Taquari.
Por problemas de logística, que impossibilitaram a chegada de ração às propriedades mais isoladas, muitos rebanhos estavam passando fome, ocorrendo a morte de muitos animais por falta de alimentos. Para suprir esse desabastecimento, o CNA/SENAR providenciou em parte do RS, a entrega de 1,5 milhão de tonelada de alimentos, em especial, feno para os criadores atingidos, cabendo a mesma tarefa à Secretaria da Agricultura/EMATER e Associação do Gado Holandês atender outra parte do estado. Segundo os dados meteorológicos, levantados pela Secretaria da Agricultura gaúcha, irá ocorrer nos próximos meses fortes ondas de frio e período de intensa seca, atingindo grandemente as pastagens já exauridas. Assim, esse trabalho de suprir alimentação ao gado deverá ser mantido e é fundamental!
Coube também à Secretaria da Agricultura/EMATER e Governo do Estado outras duas importantes missões: o serviço veterinário de emergência aos rebanhos atingidos e a obtenção junto ao Banco Mundial/BID de linhas de crédito para reposição dos animais perdidos e mortos.
O enterro de cadáveres de animais coube em grande parte às Prefeituras que cederam tratores para a tarefa, assim como aos próprios proprietários que empregaram seus próprios recursos para tal fim. Segundo fonte do MAPA, este Ministério trabalhou junto ao governo federal para obtenção de financiamento para a compra e doação às Prefeituras de áreas mais atingidas, tratores e retroescavadeiras, em caráter de urgência, para o enterro de animais. Tal aporte financeiro foi oriundo de emendas parlamentares. Essa mesma fonte informou que o MAPA instaurou um centro de operação de emergência, com uma equipe de veterinários, para trabalhar junto aos técnicos da Secretaria da Agricultura do RS, na logística da recuperação das propriedades atingidas e prevenção de doenças que advirão em breve, tomando como base a matéria sobre o assunto, veiculada no RADAR de junho último.
Uma fonte do SINDAN (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal) informou que foram doados 52.000 medicamentos veterinários, atendendo cerca de 3.000 animais de produção, sendo grande parte destinados ao uso em pets. Os medicamentos reservados para animais de produção foram antibióticos, desinfetantes, porém poucos vermífugos e vacinas.
Ainda existe uma grande demanda para certas vacinas, vermífugos e desinfetantes, que em caráter emergencial deveriam ser oferecidos gratuitamente pelas grandes indústrias veterinárias, órgãos governamentais e associações de classe e de raça, aos pecuaristas mais atingidos. Uma meta ainda a ser cumprida!
A Secretaria da Agricultura de São Paulo enviou oito técnicos (quatro veterinários e quatro técnicos agrícolas) para a cidade de Lajeado RS, para atuar na recuperação das propriedades pecuárias, verificando as necessidades sanitárias e alimentares. Além disso, o Instituto Biológico, ligado à Secretaria, encaminhou kits diagnósticos para pesquisa de brucelose em bovinos.
Uma fonte informou, que a inundação fez com que com que capivaras fossem pastejar no mesmo piquete dos bovinos, de algumas propriedades. A urina da capivara pode ser importante fonte de contaminação com bactérias de Leptospira spp., que causa abortamento e infertilidade em vacas (figura 5). Essa condição é uma razão a mais para vacinar todo rebanho, em especial as fêmeas adultas e touros, contra leptospirose nas propriedades atingidas.
Figura 5. Capivaras pastejando no mesmo piquete de bovinos pode aumentar o risco de leptospirose.
Fonte: Osvaldo Scalabrini.
Nos foi relatado por veterinários de campo e por acadêmicos, o surgimento súbito nestes últimos 20 dias, de inchaço (edema) de barbela em rebanhos de pelo menos quinze propriedades no oeste de MS, no noroeste de SP, norte do Paraná e no sul de Goiás e da Bahia (figura 6, 7 e 8). Segundo o relato, o problema atinge entre 30,0 e 50,0% de bovinos do lote, acometendo rezes desmamadas até dois e meio anos de idade, de ambos os sexos, a grande maioria da raça Nelore. Os animais pastejavam em piquetes de diferentes tipos de capins do gênero Braquiaria, em diferentes estágios vegetativos. Até o momento não foi constatada nenhuma morte.
O edema surge alguns dias após uma queda de temperatura do ambiente (mínimas de temperatura atingindo de 12º a 16ºC nas regiões) e o inchaço pode ser de grau leve ou mais intenso, regredindo, sem nenhum tratamento, em três a 15 dias, de acordo com o grau de severidade do edema. Segundo os relatos, o uso de corticosteroides acelera a melhora, principalmente nos casos mais severos. Aparentemente, os animais não têm quadro febril e não ficam abatidos.
A idêntica descrição foi feita pela primeira vez, em 2022, pela equipe do Prof. Ricardo Lemos da UFMS, que identificou o surgimento dessa alteração, nessa mesma época do ano, em bovinos pastejando capim braquiária, e sem a ocorrência de morte. Segundo o professor, este problema possivelmente seria desencadeado por alguma substância tóxica, presente durante o período de floração do capim, que desencadearia maior produção de substância alérgica, do próprio organismo, na circulação local, causando o edema exclusivamente na barbela. Outra informação importante é que os animais não tinham qualquer lesão cardíaca (em especial das câmaras direita), que gerassem insuficiência cardíaca e um posterior extravasamento de líquidos na barbela. Tais lesões cardíacas poderiam ser causadas por planta tóxica (Tetrapterys multiglandulosa), ou por uso incorreto de ionóforos (monensina, lasalocida etc.) ou plantas fotosensibilizantes (Enterolobium contortisiliquum e Stryphnodendrom fissuratum). Como a causa do edema não ficou caracterizado, há necessidade de maiores estudos para evidenciar o agente causador desta alteração, o que está sendo feito no momento por uma equipe de pesquisa.
Em nenhuma dos relatos feitos ao RADAR foi identificado a presença dessas plantas nas pastagens ou do uso de ionóforos na dieta do rebanho. Estamos de olhos e assim que se conheça a origem do problema seremos os primeiros a informá-los!
Figura 6. Edema de barbela em Nelore.
Fonte: Banco de imagens do autor.
Figura 7. Edema de barbela em Nelore.
Fonte: Banco de imagens do autor.
Figura 8. Edema de barbela em Nelore.
Fonte: Banco de imagens do autor.
Veterinários de campo descreveram surtos de dermatofitose em SP e MS, em garrotes e novilhas desmamadas, tomando a cabeça, o pescoço, o tronco e nos casos mais evoluídos a região da garupa.
Em propriedade paulista, o quadro iniciou em alguns desmamados comprados recentemente, que já vieram com a doença e espalharam a mesma para cerca de 30,0% do lote da fazenda. Todos tinham entre sete meses e 1,5 ano de idade. Em Mato Grosso do Sul, o problema se iniciou de forma semelhante em poucos animais e atingiu uma parte do lote em menos de 20 dias.
A doença é causada por um fungo, que pode atacar mais no período seco do ano, quando as pastagens são mais pobres de nutrientes, em especial, a vitamina A. Os bovinos jovens são mais acometidos do que os adultos, pois os primeiros têm a pele mais alcalina (menos ácida) que os erados, favorecendo a instalação do fungo Trichophyton verrucosum.
As situações que causam o estresse (desmama, descorna etc.) podem desencadear o surgimento do problema. O fungo cresce na pele formando manchas acinzentadas, com queda de pelo, em forma de moedas em casos mais brandos (figura 9). Em casos mais complicados, a lesão na pele torna a mesma muito grossa e ligeiramente escamosa (figura 10). Nestes casos, a doença pode fazer com que as lesões percam o formato de moeda.
O tratamento da enfermidade é feito com aplicações continuadas de soluções antifúngicas na própria pele, sendo de mais fácil correção nos casos simples. Como a dermatofitose pode passar para o homem, em especial crianças, sugere-se que o tratador use luvas descartáveis. A suplementação alimentar torna a recuperação mais rápida.
Figura 9. Caso brando de dermatofitose.
Fonte: Banco de imagens do autor.
Figura 10. Caso brando de dermatofitose.
Fonte: Banco de imagens do autor.
Figura 11. Caso mais evoluído e complicado de dermatofitose.
Fonte: Banco de imagens do autor.
Um veterinário de campo acompanhou um surto de hemoglobinúria em bovinos criados na região litorânea de Santa Catarina, que pastejavam capim “Tanner-grass” (Brachiaria arrecta) (figura 12). Segundo o relato, o criador plantou numa área de baixada o capim braquiária marandú, (Brachiaria brizantha c.v. marandu), também conhecido como braquiarão ou brizantão, e empregou na semeadura altas doses de adubo a base de NPK. Porém, logo em seguida ao plantio ocorreu grande quantidade de chuva, inundando parcialmente o piquete. O marandú tem dificuldade de crescimento em locais encharcados, em seu lugar brotou com muito vigor o capim “tanner-grass”, também denominado Brasil afora de braquiária-do-brejo. Após um exuberante crescimento, o criador colocou 28 vacas no piquete. Cerca de oito dias após ocorreu a morte de duas vacas (figura 13), que apresentaram rápido emagrecimento, fezes diarreicas e muita dificuldade respiratória. Nos dias seguintes, o criador notou que outras cinco vacas estavam abatidas, perderam peso, andavam com dificuldade, e eliminavam urina avermelhada-achocolatada, mas ainda não apresentavam dificuldade respiratória. Imediatamente, chamaram o profissional, que verificou que outros lotes de vacas que pastavam capim marandú, não estavam doentes, se limitando aquelas de pastejavam braquiária-do-brejo. Após a suspeita, os animais foram imediatamente transferidos da referida pastagem e em poucos dias as vacas foram melhorando e clareando a cor da urina.
A intoxicação dos animais é causada por acúmulo de nitrito/nitrato no capim tanner-grass. Esse acúmulo só ocorre na planta quando a área é adubada com fertilizantes ricos em nitrogênio (ureia ou sulfato de amônio), sem ocorrer isto o capim não é tóxico. Essa fonte nitrogenada é absorvida e convertida no capim em nitrito (NO2-). No rúmen, o excesso de nitrito pode ser transformado em nitrato (NO3-), o qual pode ser absorvido e no sangue se combina com a hemoglobina, formando a metahemoglobina, incapacitando as hemácias de carregarem o oxigênio. Acredita-se que a planta, nessas condições, também acumule outra substância tóxica (dimetilsulfureto) que causa o rompimento de hemácias, e liberação de hemoglobina (de cor vermelha) que passa pelos rins e confere o surgimento de coloração vermelho-achocolatada à urina (figura 14). A morte pode ocorrer por intensa anemia, por dificuldade respiratória, e alterações nos rins e no fígado. Ainda não existe um tratamento eficaz contra essa intoxicação.
Figura 12. Capim tanner-grass (Braquiária-do-brejo).
Fonte: Banco de imagens do autor.
Figura 13. Bovino morto por ingestão de tanner-grass.
Fonte: Banco de imagens do autor.
Figura 14. Urina com diferentes graus de hemoglobinúria.
Fonte: National Dairy Development Board.
Professor da UNIPAMPA, de Uruguaiana-RS, acompanhou um surto de brônquio-pneumonia, nesta mesma cidade, em garrotes da raça Angus, com média de 14 meses de idade. O histórico é peculiar. Um lote de 118 animais foi comprado a cerca de 100 km do confinamento que os recebia. Segundo o apurado, o embarque e a viagem até que foram tranquilos, não permanecendo mais de duas horas no caminhão. Porém, a recepção não foi das melhores. Os animais desceram e ficaram por cerca de seis horas num curral, esperando para ser vacinados, marcados etc., sem qualquer suplementação, nem mesmo água. Em seguida foram destinados a um piquete próprio no confinamento.
Já no terceiro dia após a chegada no centro de engorda, 21 animais, por coincidência, os mais jovens e leves, apresentaram um quadro respiratório caraterizado por febre, tosse, parte deles com eliminação de catarro nasal (figura 15), e lacrimejamento nos olhos (epífora) e dificuldade respiratória (dispneia). Após o exame deles, optou-se pela aplicação de um antibiótico bacteriolítico e de um medicamento que facilita a fluidificação do “catarro” (secretolítico) nos pulmões e a eliminação (expectorante). As medicações e outros cuidados sugeridos pelo especialista resultaram em melhora rápida dos garrotes, nos dias que se seguiram. Um dos animais, antes de mesmo de ser medicado sucumbiu. Na sua abertura, identificou-se a presença de grandes áreas consolidadas (presença de secreção) de coloração vermelho-arroxeadas nas partes “mais baixas” (ventrais) dos pulmões (figura 16).
Não foram identificados os agentes causadores da brônquio-pneumonia, mas pelos sintomas clínicos, os achados na necrópsia e resposta ao tratamento sugere-se que sejam bactérias oportunistas, dentre elas a Pasteurella multocida, a Mannheimia haemolytica ou varigena, e ocasionalmente o Histophilus somni. A brônquio-pneumonia é a principal doença de bovinos confinados.
Um estudo tupiniquim demonstrou que a enfermidade se instala na maioria dos casos entre o 5º e o 22º dia de cocho, mas nesse caso foi antecipado para o 3º dia, pelos seguintes motivos: embora o transporte fosse relativamente curto (média nos confinamentos brasileiros de 450 km), os animais foram bastante estressados na recepção ao centro de engorda, pela longa permanência no curral e porque não se recomenda que os mesmos sejam manejados, como foram, nos primeiros dois a três da chegada ao confinamento (figura 18), devendo descansar num piquete a parte. Esse estresse quebra tremendamente a resistência do animal, e bactérias que vivem numa boa na faringe e boca, rapidamente se multiplicam e invadem os pulmões, causando a doença. Outro fato que chama a atenção é que os mais jovens e leves tiveram a brônquio-pneumonia. Em um estudo recente que realizei, verificou-se que os bezerros mais leves e jovens são os que mais perdem peso durante a viagem e a recepção, ficando mais desidratados e triplicando o risco de doença, em relação aos bovinos mais erados. Nesse caso especial, a desidratação deve ter sido mais intensa, pois os animais ficaram sem acesso à água por no mínimo seis horas. A desidratação e o estresse diminuem as defesas naturais celulares dentro dos pulmões que combatem a invasão das bactérias oportunistas.
Figura 15. Garrote com brônqui-pneumonia, destaque para a eliminação de catarro nasal.
Fonte: Banco de imagens do autor.
Figura 16. Pulmão bovino com brônquio-pneumonia.
Fonte: Banco de imagens do autor.
Figura 17. Pulmão de um bovino hígido.
Fonte: Banco de imagens do autor.
Figura 18. Não manejar os bovinos na chegada ao confinamento.
Fonte: Banco de imagens do autor.
Os seguintes municípios apresentaram focos ou surtos de raiva, recomendando-se a vacinação de todos os bovinos (acima de 20 dias de idade) dos rebanhos nessas localidades.
BA: Maraú.
RS: Jaguari; Alegrete, São Miguel das Missões, São Vicente do Sul e Silveira Martins.
PR: Lindoeste; Palmeira; Catanduvas; Castro; Paranacity; Santa Tereza do Oeste; São João do Triunfo; Sapopema.
SP: Guaratinguetá.
RN: Colorado do Oeste.
Figura 19. Morte de bovino por raiva.
Fonte: Banco de imagens do autor.
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