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Scot Consultoria

Radar Sanitário para setembro de 2024 - Parte 2


Terça-feira, 10 de setembro de 2024 - 06h00

Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo. É professor titular do departamento de clínica médica pela FMVZ-USP, especializado em Clínica de Ruminantes (ortolani@usp.br).


Foto: Bela Magrela


Essa coluna consta de duas partes: A) Manejo sanitário para o mês; B) Registro recente de doenças transmissíveis ou não, sugerindo medidas para suas prevenções. Tais registros são obtidos com o apoio das Agências Estaduais de Defesa Sanitária Animal, de Professores Universitários, do Mapa, da EMBRAPA e da rede de contato de veterinários de campo, assim como minhas observações.

Erva-Santa não perdoa e mata em SC

Veterinário catarinense relatou a morte de sete vacas no município de Lages-SC. Segundo a informação, 47 vacas foram transferidas de uma “pastagem rapada” (exaurida), devido ao período de estiagem e provavelmente pela alta lotação animal na propriedade, para um galpão desativado de avicultura, para ser alimentadas com silagem de milho. Dentro até de 40 horas, já no confinamento, ocorreram as mortes, em série (figura 1). Os animais manifestaram uma certa inquietude, deitavam e se levantavam constantemente, gemiam, permanecendo mais tempo deitados, quando mantinham a cabeça estendida ou voltada para a barriga, morrendo em poucas horas. Alguns animais apresentavam diarreia e meteorismo gasoso, que se acentuava depois da morte.  Na abertura da pança (rúmen) foi constatado avermelhamento de sua mucosa e a presença de pedaços de ramos e flores da planta Baccharidastrum triplinervium, conhecida popularmente como erva-santa ou erva-santana, presente nas regiões sul e parte do sudeste (divisa sul de São Paulo com Paraná) (figura 2). Essa planta cresce ao lado de matas, ou é invasora de pastagens provenientes de solos rasos e úmidos (figura 3 e 4). Outros surtos dessa intoxicação já foram descritos em SC e no sul do Paraná, sempre em período de estiagem, quando as pastagens estão rapadas ou que os animais adentram as matas para comerem essa planta tóxica, por falta de alimentos. Estudo experimental conduzido na UNESC (Lages-SC) indicou que parte dos bovinos adultos que recebem 10g a 20g dessa planta em floração, por quilo de peso corpóreo do animal, podem morrer com os mesmos sintomas descritos acima, não existindo ainda um tratamento eficiente contra este mal.

Figura 1.
Vaca morta pela Erva-santa.

Fonte: Enrico L. Ortolani

Figura 2.
Vermelhidão na mucosa do rúmen.

Fonte: Enrico L. Ortolani

Figura 3.
Aspectos da planta verde. A

Fonte: Horto Didático UFSC

Figura 4.
Planta em floração seca.

Fonte: Horto Didático UFSC

Surtos de fasciolose em rebanhos paranaenes

A Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (ADAPAR) monitora a presença de parasitas adultos de Fasciola hepatica em fígados de bovinos abatidos em vários pequenos frigoríficos, que são fiscalizados pelas autoridades estaduais e identifica o município em que são criados os animais, trabalho este bastante importante e louvável, a ser copiado por outras agências estaduais. Neste último mês, chama a atenção surtos de fasciolose em rebanhos de três municípios do oeste paranaense: Guaraniaçu (66,0%), Santa Tereza do Oeste (60,0%) e Campo Bonito (27,0%). Nessa parasitose, os fígados são condenados e enviados para a graxaria. Embora o criador não receba pelo fígado, a identificação de fasciolose no rebanho é fundamental, pois a presença prolongada (mais de três meses) de 10 parasitas adultos diminuí o ganho de peso em cerca de 11,0% e provoca um atraso no envio ao matadouro por até 120 dias; vacas reduzem a taxa de prenhez em 15,0%; e bezerros filhos de vacas não tratadas desmamaram 24kgs mais leves. Isso é devido ao efeito lesivo do parasita no fígado e ao seu hábito de se alimentar de sangue.

Estudo brasileiros, com expressiva quantidade de bovinos abatidos, verificaram que 15,0% deles têm o parasita no RS, seguidos por SC (4,5%), ES (2,5%), PR e SP (0,2%), porém com a importação de rezes do RS para outros estados e a presença dos caramujos apropriados, a fasciolose está aos poucos se espalhando pelo Brasil.

A doença é mais comum em bovinos pastejando áreas de baixadas, alagadiças e encharcadas, geralmente próprias para o crescimento do arroz, são ideais para o crescimento do caramujo da família Lymnaeidae (figura 6), (Pseudosuccinea columela, Galba viatrix, Galba cubensis, Galba truncatula), que é o hospedeiro intermediário do parasita. O ciclo da doença começa com a eliminação dos ovos do parasita pelas fezes, com a saída do larvas dos ovos (miracídios) que penetram nos caramujos e aí permanecem por três meses, se multiplicando de forma assexuada e se tornando maiores. Em seguida, saem do caramujo e ficam na beira do capim úmido esperando para ser ingeridos. No corpo do bovino, penetram pelo estômago verdadeiro (abomaso) e chegam ao fígado, onde se tornam maduros, e as fêmeas eliminam ovos, que cairão nas fezes concluindo o ciclo (figura 7).

A constatação de grande quantidade do parasita no fígado (figura 8), no frigorífico, é fundamental para se estabelecer um tratamento estratégico, que na região sul deve ser conduzido nos meses de abril, setembro e dezembro, com princípios ativos a base de triclabendazole, nitroxinil, clorsulon ou closantel. O seu veterinário de plantão saberá como fazê-lo.

Figura 6.
Caramujo (Pseudosuccinea columela).

Fonte: Cláudio S. L. Barros

Figura 7.
Ciclo evolutivo da Fasciola hepatica.

Fonte: CEDIPA

Figura 8.
Presença de parasitos adultos no fígado.

Fonte: Leandro Silva

Focos e surtos de raiva Brasil afora

Lista dos municípios de vários estados com casos de raiva bovina, ou em morcego. Embora a vacinação não seja obrigatória no Brasil, com exceção de parte dos municípios de Goiás e do Pará, recomenda-se a vacinação do rebanho uma vez por ano. Devido ao maior risco de raiva, no caso dos municípios abaixo citados é indicada a vacinação imediata de todo rebanho, independente da imunização anual, a partir de bezerros acima de 17 dias de idade, pois abaixo desta faixa etária a resposta à vacina é ineficaz.

RIO GRANDE DO SUL- Santa Maria, Caibaté, Ivoti, Dois Irmão, Chuvisca, Canguçu, Jaguari, Riozinho, Piratini, Santa Maria do Herval (fonte: Seapi);

PARANÁ – Capanema, Lindoeste, Pérola do Oeste, Bela Vista da Coroba, Campo Bonito, Garapuava, Nova Fátima, São Gerônimo da Serra, São João do Triunfo, Senges, Tibagi, Wenceslau Brás (fonte: Adapar);

SÃO PAULO – Juquitiba e São Lourenço da Serra (Fonte- Secretaria da Agricultura-EDA);

MATO GROSSO- Novo Mundo, Barra do Garças, Cuiabá, Guarantã do Norte, Jangada, Poconé, Terra Nova do Norte, União do Sul, todos em bovinos; um caso positivo em morcego em Canarana (fonte: Indea); 

RONDÔNIA – Colorado do Oeste (fonte: Indea).

Prezado Colega veterinário, caso tenha algum caso recente de surto, foco de doenças escreva para ortolani@usp.br para que possa ser divulgado para o Brasil!


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