Confinamentos duelando e recebendo animais mais jovens. Preço do boi gordo firme e subindo. Frigoríficos com ano de margens ainda mais apertadas. Atacado em duelo franco com dona de casa. Boi magro em falta e mais caro. Encontro da Scot Consultoria anunciou para a Pecuária do Brasil: 2015 está no ar!
Você ainda não percebeu? A cadeia da Pecuária de Corte brasileira segue em intensa evolução e a cada ano que passa os parâmetros mudam, desafiando o setor, mas, ao mesmo tempo, rendendo dinheiro para quem fica sintonizado. O bezerro valorizado marcou 2014, assim como os recordes nos preços da arroba do boi gordo, as exportações e consumo interno firme.
Prepara-se! O primeiro trimestre já deixou suas marcas de negócio. As exportações começaram mal, mas já estão reagindo. O consumidor brasileiro está arisco, titubeia na gôndola de proteína animal e dita o sobe-e-desce dos valores escalados pelo atacado. Os frigoríficos vão sofrer mais do que em 2014. O bezerro não vai parar de escalar, mas agora é o boi magro, vedete da reposição, que dita os novos rumos. Boi gordo permanece lá em cima, mas os confinamentos brigam para trancar animais que estão mais novos e leves. Quem não mostrar serviço, não vai encontrar parceiro.
Ser mais eficiente é questão de sobrevivência. "Confinamento é irreversível. Caminhamos para uma Pecuária muito semelhante à americana. Acabou a fase do bezerro barato e o ágio agora está sendo assumido pelo boi magro", vislumbrou Leandro Bovo, da BES Securities.
"Os confinamentos vão trabalhar com animais ainda mais jovens, coisa de dez arrobas na entrada. E mudamos a história. Não veremos mais preocupação com cabeças trancadas e sim com arrobas produzidas. E olho esperto na economia por causa dos gastos com o boi magro", adiantou André Perrone, executivo do Confinamento Monte Alegre, em Barretos (SP).
"E isto tudo com o preço atual do boi gordo. Imagine se a arroba fica ainda mais cara até o ano que vem", brincou Alcides Torres, da Scot Consultoria, que juntou a cadeia inteira no Encontro de Confinamento, em Ribeirão Preto, em abril, para analisar o início de 2015 e o futuro dos 365 dias inteiros.
Não é à toa que, pela primeira vez, o evento abordou especificamente a fase de recria, que hoje está cara e complica a vida dos confinadores. A frase do Mestre e especialista Sérgio de Zen, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (ESALQ) da Universidade de São Paulo (USP), deu o sinal certeiro para as análises. "Com a reposição tão valorizada, as margens agora devem ser olhadas de uma outra maneira". E como.
O especialista Alex Lopes, da Scot, explicou que, no varejo, setor historicamente mais beneficiado na cadeia, também vem caindo as margens para não afugentar os consumidores. "Supermercados, casas de carnes e açougues trabalham de maneira distinta com cortes mais nobres e o dianteiro. Puxam para baixo nas carnes mais baratas e tentam compensar nas peças mais nobres. Mas a margem deles também vem baixando. Só não podemos dizer até onde eles podem chegar para manter o consumo do brasileiro igual", examinou. No passado, os ganhos da área atingiram 100% e hoje não passa de 40%. Ainda assim dependendo do corte. O grande alvo é fazer a roda girar sem apertar o bolso da dona de casa.
Espremido no meio da cadeia, os frigoríficos estão trabalhando com margens apertadíssimas ou negativas. Boi gordo caro, consumo estacionado no Brasil e embarques internacionais patinando. "Pelos levantamentos que fazemos, a diferença entre os preços de atacado e os do boi gordo, sem falar em outras despesas, está cada vez mais desfavorável aos frigoríficos", afirmou Alcides Torres.
"Alguns podem até cancelar abates por falta de dinheiro ou de animais. Mas depois podem reabrir. Não seria a primeira vez que isto aconteceria. A valorização do bezerro começou em 2007 e ainda não chegou ao fim. Mas temos produtividade a perseguir.
Há alguns anos, a Pecuária brasileira tirava 40 cabeças terminadas de um grupo de 100 vacas. Hoje, são sessenta e dá para caminhar mais", apontou serenamente Sérgio de Zen. Lá na fazenda, no início do ciclo, o grande campeão de valores dos últimos anos, o bezerro, vai seguir firme, com potencial de alta de 5% a 10%.
"A oferta não deve ampliar no curto prazo e não deve ser recomposta em 2015. O abate de fêmeas mantém-se alto, mas há perspectiva de retenção, o que pode melhorar a oferta só a partir do ano que vem, com certo equilíbrio em 2017", analisou Gustavo Aguiar, também da Scot Consultoria.
E o futuro também é velho conhecido da parte final do processo, a terminação das cabeças. Está tudo diferente nos piquetes de confinamento. "É uma atividade que exige planejamento, execução e disciplina. O esforço não é para ficar reformando as instalações e sim aumentar a eficiência do animal. Eficiência do consumo, da fábrica de ração, da geração de toneladas", enfatizou Pedro Henrique Ferro, da AC Proteína, que participou de um trabalho de quatro anos no melhoramento de propriedades que trancam boiada. Aposta confirmada pelo especialista Leonardo Bovo. "Vale a pena pagar mais por um animal melhor. Tiro certo é boi bom. E o confinamento termina animal bom, não faz milagre", aconselhou. Quem está na área concordou de imediato. "Confinamento só termina. Não corrige boi. É questão de conta. Animal mais jovem tem mais qualidade e melhor eficiência", advertiu André Perrone.
A parte final da cadeia ensina o que os especialistas já vêm prescrevendo há algum tempo, mesmo que sobressaltos surpreendam aqui e ali. "Façam contas, trabalhem sem susto. A demanda está apertada, mas a oferta é boa", opinou Hyberville Neto, da Scot. "Venda aos poucos, trabalhe com as médias. 2015 vai ser difícil e bom, ao mesmo tempo. Cautela e contas. Não tem volta", bradou Alex Lopes. "A dieta não deve ser problema neste ano. Os preços e os estoques de passagem de milho, soja e farelo estão bons. A grande questão é como vai se comportar o valor do boi magro. Mesmo assim, os preços do segmento estão firmes e crescendo acima da inflação", comentou animado Gustavo Aguiar, da Scot Consultoria.
Um otimismo que se revelou claramente no dia de campo que encerrou o encontro da Scot. Cinco estações mostraram a produção de feno, os investimentos em sustentabilidade, nutrição automatizada, investimento maciço em boa sanidade e manejo de primeira com o gado, da entrada à saída do confinamento. Além de três cursos de aprimoramento sobre fenação e forragem, gestão de produção e gestão de processos e riscos. Sem falar em carne saborosa, prosa de amigos, exposição de equipamentos para agricultura e Pecuária de empresas parceiras. Tudo embalado por uma boa moda de viola, carne, arroz tropeiro, feijão e farofa, delícias tradicionais da "Queima do Alho", marca centenária da culinária tropeira paulista. 2015 está bem mais complexo? Certamente. Mas quem gravita em torno da produção de carne bovina brasileira há muito tempo discute o assunto e sabe.
"Foi muito bom. Estivemos ao lado de gente de vinte estados. Vieram mostrar o que estão fazendo e aprimorar conhecimentos. Apesar dos problemas políticos e econômicos, percebi um ambiente claro de otimismo na Pecuária brasileira", resumiu Alcides Torres.
Fonte: Revista BeefWorld, edição no. 16 (junho e julho/2015). Texto de Ulisses "Riba" Velasco.
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