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Scot Consultoria

Concorrentes tentam ganhar espaço da JBS no Mato Grosso


Terça-feira, 4 de julho de 2017 - 14h20

Foto: Paulo Fridman


Grandes frigoríficos estão reabrindo unidades no Mato Grosso, estado com 30,5 milhões de bovinos, o maior rebanho do país, num movimento contrário ao dos últimos anos. O objetivo é ganhar mercado que pertencia à JBS. A empresa passou a enfrentar dificuldades, reduzindo abates, após a delação premiada de seus controladores e do acordo de leniência, que prevê multa de R$10,3 bilhões.

A Marfrig anunciou ontem que vai reabrir, em duas semanas, sua unidade frigorífica de Nova Xavantina, no Nordeste do estado. A empresa já tem duas unidades funcionando no estado, em Tangará da Serra e Paranatinga. Além disso, as unidades de Mineiros (GO), Tucumã (PA), Chupinguaia (RO) e de Paranatinga (MT) estão expandindo as linhas de produção. Com isso, a Marfrig quer elevar sua capacidade de produção de carne bovina em 25,0%. Outra unidade, em Pirenópolis (GO), será reativada.

Segundo a Marfrig, esse movimento se deve à “maior disponibilidade de bovinos para abate no Brasil, decorrente do ciclo positivo de gado e maior retenção no primeiro semestre do ano e do atual cenário macroeconômico”.

A crise na JBS e a Operação Carne Fraca já provocaram queda de 6,0% no preço da carne. Temos superoferta de bois e baixamos o ICMS, de 7,0% para 4,0%, para abater em outros estados. Essas reaberturas são bem-vindas — diz o secretário de Desenvolvimento Econômico do estado, Ricardo Tomczyk.

Em junho, a Minerva anunciara reabertura de unidade de bovinos em Mato Grosso, em Mirassol D’Oeste, a partir de meados de julho. No mercado, comenta-se que ao menos dois frigoríficos que estavam arrendadas à JBS no estado também serão reabertos em breve.

Nos últimos anos, Mato Grosso assistiu ao fechamento de uma série de unidades de abate, especialmente pela JBS. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) concluiu, em abril, que a empresa exercia o monopólio do mercado, graças à compra de vários frigoríficos, que eram fechados, “num caso clássico de concentração econômica”. A CPI recomendou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a abertura de um procedimento administrativo. Procurado, o Cade informou que ainda não recebeu o documento, mas que vai requisitá-lo. O presidente da CPI, deputado Ondanir Bortolini (PSD), disse que os indícios de suspeita de monopólio levaram ao pedido de investigação: — O que motivou a instalação da CPI foi a concentração de plantas com a JBS.

CONCENTRAÇÃO DE MERCADO

O relatório da CPI concluiu que a JBS detinha 56,0% do mercado frigorífico do estado, contra menos de 25,0% da segunda, a Marfrig. O documento revelou, ainda, que a empresa passou a arrendar frigoríficos em regiões em que já possuía unidades funcionando. Em seguida, fechou ou paralisou o abate em muitos deles. Hoje, das 25 unidades da JBS (compradas ou arrendadas), 14 estão fechadas.

Especialistas em agropecuária ouvidos pelo GLOBO avaliam que a estratégia usada pela JBS no Mato Grosso não é comum. Para o analista de mercado, Gustavo Aguiar, da Scot Consultoria, essa prática, teoricamente, é desleal. Ele lembra, entretanto, que, com a crise de 2008, muitos frigoríficos fecharam e ficaram disponíveis para compra, o que elevou a concentração nesse mercado.

De cinco anos pra cá, algumas unidades fecharam porque acabou acontecendo uma readequação à menor oferta de gado no país. Mas grande parte da concentração se deu mesmo nas mãos da JBS — diz Aguiar.

Estudo da consultoria TCP Latam mostra que, no Mato Grosso, houve uma queda no número de abates entre 2013 e 2016. O total caiu de 5,8 milhões de cabeças para 4,5 milhões no período.

O “efeito JBS”, com fechamento de frigoríficos, aparece claramente na pesquisa — observa o diretor da consultoria, Ricardo Jacomassi, observando que também houve queda na demanda.

O fechamento de unidades da JBS causou ao menos 14 mil demissões no estado. Em Colíder, cidade de 32 mil habitantes ao norte de Mato Grosso, a empresa fechou uma unidade em 2011 e demitiu 700 trabalhadores diretos. Ao menos três mil pessoas dependiam dos salários pagos pela JBS.

O presidente do sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Carnes e Laticínios do Portal da Amazônia (Sintracal), José Evandro Navarro, afirmou ao GLOBO que a atuação da JBS no Mato Grosso, nos últimos cinco anos, foi determinante para o sufocamento de pequenos e médios frigoríficos: Se você tem o frigorífico vizinho fechado, você diminui em R$8,00 o preço pago pela arroba do gado, na média.

Segundo o relatório, a JBS alegou inviabilidade financeira ou operacional de algumas plantas e falta de matéria-prima em algumas localidades para justificar o fechamento de unidades. Procurada, a JBS respondeu que foi informada sobre a conclusão da CPI dos Frigoríficos em Mato Grosso e “vai colaborar com seus desdobramentos à medida que houver solicitações de órgãos públicos originadas pelo relatório da Assembleia Legislativa do estado”.

Link da notícia: https://oglobo.globo.com/economia/concorrentes-tentam-ganhar-espaco-da-jbs-no-mato-grosso-21549982


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