A inflação sobre as proteínas animais em 2020 foi de 17,97%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Diante disso, o consumidor de carne bovina pode estar se perguntando neste momento por que o preço subiu tanto nos últimos. A primeira coisa que vem à mente de alguns é o boi gordo, que registrou valorização bastante expressiva nos últimos anos, mas não é bem assim.
É verdade que o preço do boi está mais alto. De acordo com a Scot Consultoria, o animal terminado fechou esta terça-feira, 2, cotado a R$ 300 por arroba, preço bruto e à vista, em São Paulo. Isso representa alta superior a 57% em relação ao mesmo período do ano passado, quando a arroba estava em R$ 190, e de quase 98% em relação à mesma data de 2019, quando o boi gordo era negociado a R$ 152 por arroba, nas mesmas condições.
Porém, é preciso entender que o boi gordo não é o começo da cadeia. A produção da carne bovina disponível na gôndola do supermercado começa com a compra de insumos e, principalmente, de bezerros.
De 2015 a 2018, a pecuária brasileira viveu um período de baixa atratividade para a produção de bezerros, por conta dos preços do mercado de reposição. Com isso, os produtores aumentaram o abate de fêmeas, o que diminuiu o número de matrizes e, consequentemente, de crias.
Segundo o analista de mercado Rodrigo Queiroz, da Scot Consultoria, no último trimestre de 2018, as cotações do bezerro começaram a reagir à baixa disponibilidade.
Dados da consultoria mostram que o bezerro desmamado anelorado estava cotado, na média de janeiro de 2019, a R$ 1.250 por cabeça. Em janeiro do ano seguinte, havia saltado para R$ 1.570. No mês passado, o animal estava cotado a R$ 2.450, quase o dobro de dois anos atrás.
Queiroz ressalta que o garrote de 18 meses, que é uma categoria bastante buscada pelo confinador, registrou uma alta superior a 100% desde janeiro de 2019, passando de R$ 1.650 para R$ 3.500 por cabeça.
Em meio à recuperação de seu plantel de suínos, a China demandou muita soja no passado, seja em grão ou em farelo. As exportações do subproduto, inclusive, bateram recorde histórico, totalizando 16,9 milhões de toneladas embarcadas. O milho também foi um produto importante na pauta de exportação nacional, ainda que com outros destinados.
Além disso, a própria indústria de proteína animal brasileira elevou sua produção para atender a demanda internacional por carnes, o que enxugou também os estoques dos produtos no mercado interno.
A combinação desses fatores fez com que os preços dos insumos usados na ração dos animais tivessem altas muito expressivas. A saca de milho, que custava R$ 51,50 em fevereiro de 2020, fechou esta terça-feira, a R$ 85,50, segundo a Scot Consultoria, com base nos negócios em Campinas (SP). A alta é de 66%.
O farelo de soja, tomando com base a praça de Paranaguá (PR), passou de R$ 1.370 no mesmo período do ano passado para R$ 3.150 no último fechamento, valorização de quase 130%.
Desde 2019, com preços mais atrativos para o bezerro, o pecuarista voltou a investir na cria. Para isso, ele aumentou a retenção de fêmeas, movimento que se intensificou bastante no ano passado. Segundo a Scot Consultoria, comparando o ano passado com o anterior, a redução no abate de fêmeas foi de 18,2%.
No curto prazo, esse movimento causou uma elevação na carne bovina, pois são duas categorias – vacas e novilhas – a menos para abate, o que diminui a matéria-prima para proteína.
No entanto, com o tempo, é esperado que haja mais oferta de bezerros, o que ajudaria a equilibrar futuramente a oferta de gado. Porém, a criação de animais não se dá do dia para a noite. Queiroz acredita que este ano deve ser de preços firmes para o boi gordo e para o bezerro, porque a disponibilidade de animais terminados não deve ter um incremento expressivo.
“Será uma oferta um pouquinho maior, mas nada que impacte e afrouxe a cotação em 2021, tanto para animais de reposição quanto para animais terminados”, finaliza.
Matéria originalmente publicada em:
Carne mais cara no açougue? Explicação vai além da alta da arroba do boi gordo
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