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Scot Consultoria

Após ano de embargos, frigoríficos brasileiros devem ter transições nas margens


Quarta-feira, 22 de dezembro de 2021 - 09h00

Foto: Reuters


Se este ano foi de dificuldades em série para algumas das empresas do setor de carnes brasileiras, 2022 parece mais promissor. A retomada das importações de carne bovina pela China, de bovina e suína pela Rússia e a continuidade da demanda elevada dessas commodities a nível global são fatores animadores para os principais players do setor, que atuam tanto no Brasil quanto nos mercados globais. No entanto, o boicote de redes europeias à marcas brasileiras devido ao desmatamento no país é um dos destaques negativos, caso persista.

Quatro empresas de companhia aberta do setor frigorífico estão listadas na bolsa de valores brasileira, a B3 (SA:B3SA3), e tiveram performances bem distintas este ano, assim como os preços das carnes. Os futuros do boi gordo apresentaram forte valorização em 2021. Há um ano, estavam cotados a U$112, enquanto nesta quarta-feira (22/12) passam de U$135. Situação diferente foi a do porco magro, que teve alta expressiva no meio do ano, a U$122 e agora cai para próximo de U$82.

Tendo isso em vista, enquanto companhias como Marfrig (SA:MRFG3) e JBS (SA:JBSS3) – cujo mercado consumidor está principalmente nos Estados Unidos – viram um ano de margens elevadas a um nível que não é considerado sustentável por analistas consultados pelo Investing.com, a Minerva Foods (SA:BEEF3) sofreu com as restrições à China e a BRF (SA:BRFS3) com a queda na renda e desemprego no Brasil, pois esta última possui um foco maior no mercado interno do que os outros frigoríficos citados.

O mesmo aconteceu com os desempenhos das ações. Nesta quarta-feira (22/12), a BRF recuou em 2021, com uma pequena desvalorização de 0,94%. O preço máximo foi de R$31,98, mas agora os papéis estão cotados em torno de R$22. Minerva contou com variação anual de 11,06%, atingindo máxima em R$10,91 – pouco acima dos R$10,37 no momento da escrita. Já os papéis da Marfrig acumularam um avanço de 60,19%, tocando a máxima de 26,56, mas agora no patamar de R$21,82. Do setor, a maior alta acumulada é da JBS, que teve valorização anual de 71,7%, com máxima de R$38,95, também próximo dos R$37,18 atuais.

O embargo e o retorno

A China derrubou na semana passada o embargo à carne bovina brasileira. As restrições começaram após ocorrências, em setembro, de casos de vaca louca nos estados de Minas Gerais e Mato Grosso. As exportações brasileiras de carne bovina haviam registrado quedas consecutivas nos últimos meses com a decisão da maior compradora do produto de suspender os embarques. Hyberville Neto, consultor de mercado da Scot Consultoria, acredita que a liberação está relacionada à necessidade de carnes que a China possui devido ao ano novo chinês, comemorado em fevereiro.

Antes mesmo da liberação por parte da China, em novembro, a Rússia anunciou tarifa zero de importação de carne bovina e suína e cotas para importação de diversos países, incluindo o Brasil. A expectativa é que no primeiro trimestre de 2022 o governo russo realize inspeções para habilitação à exportação de novas plantas brasileiras.

O que pode afetar 2022 no cenário global

Em relatório sobre as perspectivas globais para o setor de carnes, o Bank of America (BofA) destacou que as companhias puderam sustentar as margens devido à forte demanda nos Estados Unidos e México. Para 2022, o BofA não espera que os custos de commodities tenham queda significativa, trazendo uma pressão de custos e limitando expansões de margens. A retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos também pode afetar o mercado, mas a expectativa é de que o rendimento continue acima de níveis históricos. Para o ciclo de gado brasileiro, a tendência apontada pelo banco é de redução da retenção de gado, aumentando a disponibilidade e reduzindo custos. Para o frango, preços menores de grãos tendem a beneficiar o setor, assim como a inflação – com os custos mais elevados, há migração para essa carne, que é mais barata do que a bovina.

No nível doméstico, a expectativa é de que a melhora do clima beneficie safras de milho e soja, reduzindo a pressão de custos. Hyberville Neto acredita mesmo que a China tenha retomado parte da produção de suínos, ainda há espaço para ampliar os embarques brasileiros – e também para as outras proteínas. “As expectativas para a produção de carne no ano que vem não são fortes na China, eles recuperaram a produção dos suínos nos últimos dois anos, mas para 2022 a expectativa é de queda na produção”, detalha. O consultor concorda que a tendência é de aumento na oferta de gado no país, com menor retenção de fêmeas no rebanho. “Esperamos aumento da oferta, mas não de forma abundante, que poderia derrubar o mercado”, completa.

Matéria originalmente publicada em: Após ano de embargos, frigoríficos brasileiros devem ter transições nas margens


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