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Para quem está obrigado a plantar essências nativas, o feijão guandu reduz a mortalidade e acelera o crescimento de espécies florestais


Quarta-feira, 24 de janeiro de 2007 - 09h42

Tiago Pavan Beltrame, engenheiro florestal e pesquisador do IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas - que estuda e aplica há 15 anos formas de restaurar a vegetação, identificou o feijão Guandu como tendo potencial para a restauração ecológica. O feijão guandu (Cajanus cajan), é cultivado em Sistemas Agroflorestais (SAF’s), que consorciam por um tempo limitado espécies arbóreas com culturas agrícolas anuais, como o milho, para a constituição de corredores ecológicos, uma alternativa promissora para promover a restauração da paisagem. Os corredores conectam fragmentos florestais e possibilitam o trânsito de animais e conseqüente fluxo gênico entre populações de espécies da fauna e flora. A pesquisa foi realizada nos últimos três anos no assentamento Santa Zélia, um dos 102 assentamentos da reforma agrária existentes no Pontal do Paranapanema. As espécies florestais nativas que foram plantadas em consórcio com o feijão guandu apresentaram melhor desempenho do que as espécies cultivadas sem a leguminosa. A mortalidade das árvores foi significativamente mais alta no plantio sem guandu, do que nos experimentos com o feijão. O cultivo do feijão guandu propicia condições favoráveis para o crescimento das árvores nativas, acelerando o processo de restauração da mata, similar à floresta nativa. O guandu é um excelente adubo verde, porque produz abundante matéria orgânica que protege o solo e libera nutrientes de forma gradual, o que atende à demanda constante das árvores. Constata-se também a sua capacidade de fixação de nitrogênio, um nutriente essencial ao crescimento das plantas. Quando consorciado em especial com espécies pioneiras (primeira que nasce em área desmatada e que necessita de muita luz para se desenvolver), o feijão guandu acelera o seu crescimento devido ao estímulo pela competição por luz solar, criando um mecanismo de facilitação, o que evidencia seu potencial de restauração biológica. A leguminosa cria barreiras de contenção, alterando as características físicas do seu entorno, como redução da temperatura, da luminosidade e da insolação, aumento da umidade e proteção contra o vento, à chuva e às espécies invasoras. A planta ainda ameniza um grande empecilho para a recomposição florestal, que é o microclima (condições climáticas de uma superfície pequena e que são diferentes da região que a cerca) com o qual se deparam as mudas florestais plantadas em áreas degradadas. O IPÊ desenvolve, em parceria com órgãos governamentais, projetos baseados em conceitos de agroecologia e desenvolvimento sustentável, e que prezam a participação comunitária em todo o processo – do planejamento à implementação. Esses projetos constituem o Programa Agroflorestal do IPÊ no Pontal do Paranapanema para a criação de ilhas de agrobiodiversidade, viveiros agroflorestais comunitários e corredores ecológicos em reservas legais, e são executados pela equipe formada por Nivaldo Campos, Laury Cullen Jr., Jéfferson Lima, Haroldo Gomes, Vicente Moscogliato e Tiago Beltrame. No Assentamento Santa Zélia, já foram implantados 75 hectares de SAF’s através do trabalho conjunto entre os pesquisadores do IPÊ e 32 famílias de agricultores. Eles receberam do Instituto 125 mil mudas de espécies florestais nativas e o apoio técnico necessário para realizar os plantios e a manutenção dos sistemas. “Ninguém é obrigado a participar do projeto. A proposta educativa desenvolvida faz com que os assentados entendam a importância do trabalho e comecem a aderir às ações”, enfatiza Beltrame. Um importante componente socioeconômico está contido nos sistemas agroflorestais: as famílias beneficiam-se diretamente com a venda dos produtos agrícolas plantados nas entrelinhas dos sistemas – feijão, milho, amendoim, mandioca e batata-doce. Após três anos, cada família obteve uma renda anual média de R$1,9 mil, o que representou um incremento médio de 11% na renda das famílias envolvidas. Também se destaca a redução dos custos de manutenção do sistema devido à ocupação das entrelinhas com as culturas anuais, tornando-o produtivo e barato. “Este trabalho mostra que a restauração ecológica pode ter grande sucesso quando a população local é estimulada e envolvida com a causa da conservação ao invés de ser isolada e tratada como um problema. Ressalta também a importância de trabalhos comunitários e participativos, onde todos os agentes se beneficiam diretamente por estarem promovendo a conservação ambiental”, conclui o pesquisador do IPÊ. Fonte: IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas
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