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Scot Consultoria

Jargões utilizados pelo mercado do boi gordo


Quarta-feira, 27 de julho de 2005 - 13h51

Por Rogério Goulart Algumas vezes, caro leitor, é bom voltar ao início. Nas mensagens que recebo e entre os que me procuram (me surpreendi) notei uma falta de conhecimento técnico de mercado, às vezes no mais elementar, como no palavreado que é utilizado. Conhecimento não ocupa espaço, então o pouco que sei gostaria de partilhar com vocês. Nessa semana vamos abordar isso. Vou colocar aqui os parâmetros com os quais faço os estudos sobre o mercado de boi; estudos tais que depois acabam virando parte dos meus textos. Vamos lá. As informações que uso são: • Indicadores Esalq/BM&F da arroba do boi e do bezerro; • Contratos futuros negociados na BM&F, do boi e do bezerro; • Dólar comercial; • Contratos futuros de dólar comercial, negociados na BM&F; • Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas; • Taxa de Juros do Governo – SELIC; • Relatório de abates mensal divulgado pelo IBGE. Com o cruzamento dessas informações tentamos escutar o que o mercado está tentando nos dizer e o que ele está querendo nos mostrar do que pode acontecer para frente. Claro que o futuro não nos pertence, porém esse acompanhamento disciplinado do mercado nos coloca em uma posição melhor para aproveitar as oportunidades – sempre que conseguimos enxergá-las. - Indicadores Esalq/BM&F da arroba do boi e do bezerro. Esses indicadores, como podem ver, medem dois mercados diferentes, o do boi e do bezerro. Por mercado do boi na realidade estamos querendo nos referir ao preço da arroba do boi gordo. Esse indicador afere diariamente o preço praticado pelos frigoríficos no Estado de São Paulo, usando a metodologia que eles desenvolveram para dividir o estado em grandes regiões de pecuária, a saber: Presidente Prudente, Araçatuba, Bauru/Marília e São José do Rio Preto. Além disso, é levada em consideração a quantidade de animais abatidos mensalmente em determinada região, até para que essa região tenha mais peso na determinação final do preço da arroba do que de outra que abate pouco. O mercado do bezerro utiliza-se o Estado do Mato Grosso do Sul como referência. As regiões utilizadas para apurar o preço do bezerro são Campo Grande, Dourados, Coxim e Três Lagoas que, juntas, compõe o preço do bezerro que gerará o indicador Esalq/BM&F. Agora, porque é importante ter esses dois indicadores como fonte de referência? Ora, porque sem história ninguém faz nada, sem história um país não é nada. Sem história não conseguimos comparar o tempo de hoje com o tempo passado, com o que aconteceu lá trás. É de suma importância a posse de uma fonte segura e confiável para medir e aferir os preços praticados em nosso mercado, pois ao nos dar uma bússola como referência para onde estamos indo, também nos ajuda a vermos o que passou, e a refletirmos o que poderia ter sido feito melhor. Qualquer país que se preze desenvolvido tem estatísticas para tudo, para qualquer coisa, até para o número de coxinhas servidas no refeitório no intervalo das aulas do ensino público. Essa é a principal qualidade desses dois indicadores: dar referência de preços para nosso produto. Foi escolhido o Estado de São Paulo como referência do boi, pois lá é que se encontra o maior mercado consumidor, além do que isso é uma regra básica de economia: quem define o preço é o comprador, daí para nós São Paulo ser tão importante: ele define, guardadas as devidas proporções de tempo e magnitude, o preço da arroba do boi para o Brasil inteiro. Já o bezerro foi escolhido o Mato Grosso do Sul, pois é um dos estados com maior produção de bezerros, além de também ser um dos maiores consumidores de bezerros. É vizinho de São Paulo, o que lhe confere uma boa referência de preços para animais jovens de reposição e até mesmo para reposição de animais adultos para engorda a pasto ou confinamento. Ok, então temos São Paulo como referência para o boi e o Mato Grosso do Sul como referência para o bezerro. Somente ao analisar esses dois indicadores, seus sobe-e-desce e suas variações de longo-prazo nos são extremamente úteis como ferramentas auxiliares do nosso negócio, mas porque parar por aqui? Porque não irmos mais longe em nossa estratégia de vender melhor nosso produto? Aí é que entra o mercado futuro do boi e do bezerro. Os dois indicadores são a referência de preços negociadas na BM&F, ou seja, quando se negocia o preço da arroba de boi ou o bezerro na bolsa, na realidade o que está sendo negociado é o preço do Indicador no futuro, ou seja, é uma aposta de quanto estará valendo esses dois indicadores, que representam com tanta veracidade o mercado físico, lá na frente. Ao se utilizar em conjunto esses dois mercados, o físico e o futuro, se sofistica a análise da direção do preço e também das possíveis estratégias de negociação da pecuária. Quais são os três processos básicos de qualquer negócio? Compra –produção/transformação –venda. Por que na pecuária só, se fala de produção, de melhoria genética, de maciez da carne,etc, etc? Isso, meus caros, virá com o tempo, virá com uma melhor remuneração da carne. Uma melhor remuneração da carne só virá depois que o CONSUMIDOR perceber valor em se pagar por uma carne melhor, coisa que quase em nenhum lugar no mundo isso acontece e ainda por cima aqui no Brasil, que tem no mercado interno o principal destino da carne produzida, então ainda Temos um loooongo caminho pela frente até toda essa cultura se solidifique no consumidor. Do total de carne produzida no Brasil, praticamente 80% é destinada ao mercado interno. Desses 80%, apenas uns 4% é identificado como setor de carnes especiais. Se todo mundo embarcar nessa onda de produzir carnes especiais daqui a pouco a picanha do novilho precoce ou do boi bem acabado estará custando R$5,70 no Extra, e o filé mignon R$4,30! Aliás, como comparação, agora que o mercado de café está se organizando para vender cafés especiais aqui no Brasil, isso com mais de 100 anos de história de café, que é um mercado muito mais profissionalizado do que a carne, então correr para se “preparar” para oferecer carne a esse mercado ainda, a meu ver, é precipitado. Além de precipitado, esse mercado será atendido por poucos produtores que tem as terras adequadas e o know-how (conhecimento) suficiente para se produzir esse tipo de qualidade. - Dólar comercial e mercado futuro de dólar comercial. Ok, chega de indicadores. Agora vamos falar do dólar comercial e do mercado futuro de dólar comercial. O dólar, tem uma co-relação de mais de 90% com o preço da arroba do boi, então praticamente aonde o dólar vai a arroba vai atrás. Daí ser muito importante estar sempre atento para a direção dessa moeda, por dois motivos. O primeiro é a clara similaridade de direção, conforme eu já comentei aqui, e a segunda é a influência que a cotação do dólar tem sobre a inflação (veja mais sobre inflação, adiante). O mercado futuro do dólar é uma aposta de quanto estará valendo o dólar no futuro. Ao utilizarmos esse mercado em conjunto com o dólar à vista ou comercial, estamos, novamente, sofisticando e incrementando nossa análise geral do comportamento do preço da arroba, hoje e no futuro. Além disso, as exportações de carne têm em sua formação de preço o valor da arroba em dólares, e sem falar dos pecuaristas que trabalhavam com custos em dólares na época de inflação exagerada no Brasil das décadas de 80 e até meados da década de 90 e têm na cabeça mais ou menos os preços da arroba nessa moeda, então para esses pecuaristas esse acompanhamento é também muito importante. - Taxa de inflação. O dólar, ao influenciar os preços dos produtos agrícolas, dos combustíveis (especialmente o diesel), acaba influenciando o custo de frete e assim por diante em efeito cascata, acaba sendo sentido na taxa de inflação. O mais sensível indicador de inflação em minha opinião é o IGP-M, pois capta muito bem essa oscilação do poder de compra da moeda no longo-prazo. Outro que poderia ser utilizado é o IGP-DI. E isso deve ficar bem claro. A inflação influencia o preço da arroba no longo-prazo, e não dentro do mês ou em um horizonte curto de tempo. A idéia aqui é comparar o poder de compra do pecuarista com a economia em geral; comparar o produto que ele trabalha (ao qual ele não tem controle sobre o preço de venda e nem da inflação), e ver como esses dois elementos estão se comportando juntos em uma janela longa de tempo. - Taxa de juros do governo – Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custodia) Mas na realidade aonde mais gosto de utilizar a inflação é em conjunto com a Taxa de Juros do Governo – SELIC. Quando você desconta a inflação (e impostos) dos juros pagos pelo governo, você tem a taxa real de juros. Tirando o fato que hoje o Brasil é o país que paga a maior taxa de juros reais do mundo, quando se faz a conta da lucratividade da pecuária e no final se desconta a inflação, obtém-se a lucratividade real da pecuária, um número que pode ser comparado com os juros do governo, pois na teoria também são investimentos de pouco risco. rogério goulart é administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.
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