Os concorrentes já descobriram.
O Brasil pode ser um bom produtor agrícola, mas tem uma desvantagem muito importante. Sua infra-estrutura é insuficiente e funciona muito mal. Faltam estradas e armazéns.
Rodovias estão em péssimo estado. A produção na fazenda pode ser eficiente, mas a mercadoria encarece absurdamente a caminho do porto e na operação de embarque. Mais uma vez acaba de ser apontada essa fraqueza do País, desta vez num relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) a respeito do algodão.
O relatório descreve o Brasil como um competidor importante que poderá apresentar um aumento de produção de 8,6% na safra 2005-2006. Mas a expansão da cultura, segundo o relatório, é prejudicada pelos problemas de logística. Observações
semelhantes têm surgido noutros documentos sobre a agricultura brasileira produzidos por outros governos e por entidades multilaterais.
Há um contraste cada vez mais forte entre a capacidade tecnológica dos produtores, alimentada por investimentos empresariais e por pesquisas de entidades como a Embrapa, e as condições de infra-estrutura indispensáveis à atividade.
Os problemas se agravam com a ocupação de terras distantes dos portos e dos maiores centros consumidores. A falta de armazéns é um velho obstáculo, que dificulta a formação e a gestão de estoques e reduz a liberdade do produtor no momento da comercialização. A deficiência de hidrovias e ferrovias – fundamentais para o escoamento de safras nos Estados Unidos – deixa o agricultor na dependência de rodovias e, portanto, de custos mais altos que os de seus maiores concorrentes. Além disso, as estradas, além de insuficientes, são malconservadas, disso resultando perdas de produto, acidentes e custos de transporte muito elevados.
O relatório menciona as parcerias entre governo e iniciativa privada como a grande solução para o problema do transporte em Mato Grosso. É uma das saídas possíveis, sem dúvida, mas ainda falta pôr em funcionamento o sistema das Parcerias Público-Privadas (PPPs). Restam, além disso, os investimentos do setor público e a ampliação das concessões, que têm permitido a modernização de algumas estradas.
O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, disse que toda a malha rodoviária federal no Estado de São Paulo será entregue à iniciativa privada até novembro. É uma boa notícia, porque o Estado de São Paulo, pelo vigor de sua economia, precisa de um sistema rodoviário de Primeiro Mundo.
Mas é preciso agir com rapidez para que outros Estados, com malha rodoviária menos extensa e de qualidade inferior, possam também dispor de um sistema de transporte que permita o seu desenvolvimento.
Na maior parte do Brasil o transporte rodoviário de carga está perto de um colapso, de acordo com a avaliação de especialistas. Só para obras consideradas emergenciais, no sistema logístico, são necessários investimentos de R$ 15 bilhões por ano, segundo cálculo da Associação Nacional dos Usuários de Transporte de Carga (Anut). Esse valor é cinco vezes o que o governo tem conseguido investir, segundo as mesmas fontes.
O setor público, sozinho, será incapaz de realizar os investimentos necessários. Além disso, é normal que boa parte do capital necessário ao sistema de logística venha do setor privado, como ocorre nas economias mais desenvolvidas.
Investimentos dessa importância, no entanto, dependem de um ambiente institucional seguro, com regras estáveis, burocracia reduzida e uma clara definição dos papéis e das condições de atuação do governo e do setor privado. Faltam essas condições no Brasil.
A produção agrícola mais que dobrou numa década. Nesse período, a cultura do algodão renasceu vigorosa, depois de arrasada no começo dos anos 90 pela competição do produto estrangeiro subsidiado. O caso do algodão é especialmente significativo: a produção modernizou-se nos centros de pesquisa e na fazendas, enquanto a infra-estrutura pouco se expandiu e ainda se deteriorou em boa parte do País.
Fonte: O ESTADO DE S. PAULO – QUARTA-FEIRA, 27 DE JULHO DE 2005
NOTAS E INFORMAÇÕES A3
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