A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a multinacional alemã Basf anunciaram ontem o desenvolvimento comercial da primeira planta transgênica brasileira: uma soja tolerante a herbicidas. O produto, já em estágio avançado, é resultado de dez anos de pesquisa desenvolvida em parceria pelas duas empresas e deverá concorrer com as variedades Roundup Ready (RR), da Monsanto.
Embrapa e Basf aguardam o fim de estudos simultâneos de avaliação da segurança alimentar e ambiental para pedir o registro do produto na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) - o que é esperado para o próximo ano. A idéia é colocar o produto no mercado até 2012.
A nova soja contém um gene da Arabidopsis thaliana (uma planta modelo de laboratório, utilizada em pesquisas no mundo todo) que confere resistência a uma classe de herbicidas chamada imidazolinonas. Dessa forma, o herbicida pode ser aplicado para o controle de ervas daninhas sobre toda a lavoura, sem prejuízo para a soja. As imidazolinonas são concorrentes diretas do glifosato, herbicida que é a base da tecnologia RR, da Monsanto - empresa que domina o mercado de plantas transgênicas no mundo.
“Será uma opção bastante atraente para o agricultor do ponto de vista econômico”, disse o gerente-geral da Embrapa Transferência de Tecnologia, José Roberto Rodrigues Peres. Além do custo, ele observa que a soja transgênica usada no País (do tipo RR) já começa a apresentar indícios de tolerância. “Daí a importância de haver outros produtos”, disse. “Temos de ter uma segunda bala na agulha”, completou o diretor-executivo da Embrapa, José Geraldo Eugênio de França. “É bom que o agricultor não dependa de uma única tecnologia.”
Ainda sem nome comercial, a soja foi desenvolvida inteiramente no Brasil, sob a coordenação do geneticista e engenheiro agrônomo Elibio Rech, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. O gene (chamado ahas) é patenteado pela Basf, mas a tecnologia de transformação genética da planta foi desenvolvida por Rech e patenteada pela Embrapa. O cultivo das sementes transgênicas foi feito em dez áreas diferentes do País, para o desenvolvimento de sementes adaptadas a mais de um tipo de solo e clima.
“Ao lado do desenvolvimento da planta, foi preparado todo um pacote regulatório, um sistema de pesquisas para avaliar a segurança do produto”, contou o gerente de Biotecnologia da Basf, Luiz Louzano. Uma fábrica foi construída para verificar a segurança dos derivados do produto, como óleo e farelo.
Para Peres, o fato de os testes de segurança estarem sendo feitos no País podem contribuir “psicologicamente” para a rapidez na apreciação do processo na CTNBio. Algo que, em tese, não deveria fazer diferença. “Todos os países que integram a Organização Mundial do Comércio têm de seguir boas práticas laboratoriais, uma série de regras que garantem a segurança dos produtos”, disse. “E, quando um produto é considerado seguro, ele é seguro em todo o mundo”, completou Rech.
“Estou feliz pelo Brasil.”
“Nada muda. Não é porque foi desenvolvido aqui que tem menos ou mais riscos”, afirmou a coordenadora da Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace, Gabriela Vuolo.
A expectativa, segundo Louzano, é que a nova soja possa ganhar 20% do mercado. Além de pedir o registro no Brasil, Basf e Embrapa pretendem que o produto seja registrado simultaneamente em mais de 20 países produtores de soja e seus derivados.
Fonte: O Estado de São Paulo. 8 de agosto de 2007.
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