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Scot Consultoria

Aquisições acirram disputa na captação de leite no país


Quarta-feira, 23 de abril de 2008 - 09h04

O movimento de consolidação no mercado de lácteos - iniciado no segundo semestre de 2007 - tem como resultado uma disputa acirrada por matéria-prima. E o ranking de captação de leite dos maiores laticínios do país em 2007 já reflete em parte essa briga, encabeçada por Nestlé e Perdigão. De acordo com o ranking da Leite Brasil, com dados fornecidos pelas empresas, a DPA (joint venture entre Nestlé e Fonterra) manteve-se em primeiro lugar no ano passado, com uma captação de 1,8 bilhão de litros, 5,8% mais do que em 2006. A Elegê, hoje Eleva, que foi comprada pela Perdigão em outubro último e que em 2006 estava em terceiro lugar na lista, passou a Itambé em 2007. Elas captaram, respectivamente, 1,324 bilhão de litros (alta de 47,4%) e 1,090 bilhão (alta de 4,9%). Em tese, se a Perdigão já controlasse a Elegê desde o início de 2007, a empresa ficaria à frente da Nestlé na captação de leite, já que também é dona da Batávia, que captou 246,4 milhões de litros ano passado. Há ainda a captação da Cooperativa Central de Laticínios do Estado de São Paulo - CCL, que fez acordo de prestação de serviços para a Elegê, e que recebeu 247,9 milhões de litros em 2007. Com isso, a recepção das três juntas soma 1,818 bilhão de litros, pouco acima da Nestlé. Se a liderança ainda não chegou, esse é o plano da Perdigão para este ano. E galgando esse caminho, a empresa comprou a mineira Cotochés no começo deste mês. Com a mais recente aquisição, a capacidade instalada para processamento de leite nas unidades sob controle da Perdigão alcançará 1,880 bilhão de litros por ano, volume que a empresa quer atingir imediatamente. A arrancada da Perdigão incomoda a Nestlé, mas a expectativa de analistas é de que a gigante suíça reaja. No segundo semestre deste ano, a empresa deve começar a operar sua unidade em Palmeira das Missões (RS), onde irá processar 1 milhão de litros de leite por dia. Grosso modo, isso significa uma recepção adicional de 365 milhões de litros anuais. Ninguém tem dúvida do fôlego da Perdigão, que construirá fábrica de lácteos em Bom Conselho (PE) e que pode fazer novas aquisições no setor, mas o presidente da Leite Brasil, Jorge Rubez, acha "pouco provável" que a Perdigão passe a suíça. "A Nestlé também vai brigar nesse mercado", afirma. Um ponto a seu favor a multinacional já tem: seus fornecedores de leite são os de maior produtividade, um fator fundamental para manter o crescimento da captação. Como mostra o ranking da Leite Brasil, a média dos produtores da Nestlé em 2007 foi de 567 litros de leite/dia. A média do produtor da Elegê foi de 128 litros diários e o da Itambé, de 284 litros por dia. Além disso, segundo analistas, a Nestlé também paga prêmios sobre os preços de mercado aos produtores por qualidade e para fidelizá-los. Procurada, a empresa não se pronunciou sobre o ranking. A Itambé, que perdeu a vice-liderança na lista da Leite Brasil, também investe para ampliar a captação de leite para entre 1,250 bilhão e 1,3 bilhão de litros este ano. Segundo o novo presidente da central de cooperativas mineira, Jacques Gontijo, a preocupação agora é "ser melhor e não maior". Ele afirma que, por meio de crescimento orgânico, o plano é dobrar a captação em cinco anos. A empresa também paga prêmio para segurar seus fornecedores de leite. "Nossa política é de mais estabilidade de preços para manter o produtor fiel", explica Gontijo, acrescentando que a Itambé paga R$ 0,02 a R$ 0,03 acima do preço apurado pelo Cepea/Esalq a seus produtores. Ele reconhece que a mudança no setor de lácteos no país, com a entrada de novos participantes - o mais recente foi a GP Investimentos que comprou o goiano Morrinhos -, vai gerar uma maior disputa pelo leite no mercado e os laticínios terão de pagar um pouco mais para ter a matéria-prima. As empresas também terão de ser mais eficientes, diz um especialista do setor. Ele afirma que a chacoalhada provocada pela entrada de empresas como a Perdigão e o Bertin - que comprou a Vigor - em lácteos "coloca todo mundo para repensar suas estruturas". Além de destacar o salto da Elegê/Eleva no ranking, Jorge Rubez também menciona a boa performance da Parmalat, que ficou em quarto na lista, com captação de 725 milhões de litros ano passado. Mas a que mais o surpreendeu foi a gaúcha Bom Gosto, que não estava no levantamento de 2006 e que no ano passado já ficou na quinta posição, com uma captação de 632,7 milhões de litros. O avanço foi possível devido às aquisições feitas pela empresa no último ano. Para Rubez, o setor de lácteos vive um momento de ebulição no país porque o Brasil é praticamente a única região onde há espaço para a produção avançar. Enquanto na União Européia, a ampliação dos membros reduz os estoques, na China, problemas com água limitam a capacidade de elevar a produção. Já no Brasil, o potencial de crescimento é forte, via investimento em genética e alimentação. "Se aplicar tecnologia, podemos triplicar a produção em três a quatro anos", diz. Em 2007, a produção brasileira de lácteos foi de 27 bilhões de litros, e a produtividade média dos criadores ficou abaixo dos 100 litros por dia. Fonte: Valor Econômico. Agronegócio. 23 de abril de 2008.
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